Milagres e preocupações

Ochoa foi o melhor em campo, e teve a melhor atuação de um goleiro até aqui na Copa do Mundo. Não fosse por ele, o Brasil provavelmente teria, sim, vencido a partida. Mas os indesmentíveis méritos do goleiro mexicano não podem obscurecer o fato de que a Seleção jogou pouco, muito pouco. Repetiu seus problemas da complicada estreia com a Croácia, teve de encarar outros e poderia, apesar de ter criado as melhores chances, ter sido derrotada pelo México, um time que não tem nada de extraordinário, mas foi organizado e dedicado, o suficiente para não ser derrotado pelo Brasil fora de casa - o que é extremamente preocupante.

A escolha por Ramires no lugar do lesionado Hulk não era em princípio algo tão equivocado. Daria ao meio um equilíbrio defensivo com boa chegada na frente dele e de Paulinho, dois volantes que sabem fazer isso muito bem. Era uma arma importante para pegar um México fechado no 3-5-2. O problema é que essa mecânica não funcionou, e mais, desfez o que deu certo contra a Croácia: o recuo de Neymar para o meio, aberto pela esquerda, com a colocação de Oscar pela direita. O meia do Chelsea voltou a atuar centralizado, como único criador, e rendeu o pouco que vinha rendendo nos amistosos.

Houve também atuações individuais abaixo da média que colaboraram para a fraca atuação brasileira. Ramires não rendeu o esperado, muito menos Paulinho, que foi mal nas duas partidas da Copa até agora, subindo pouco ao ataque. Se os dois volantes mais ofensivos rendessem pouco, era previsível que o time fracassaria, diante de uma equipe fechada como o México. Os astecas saíram pouco no primeiro tempo também. O jogo foi truncado, sem domínio de nenhum dos lados, embora a melhor chance fosse brasileira, com Ochoa operando um milagre em cabeçada espetacular de Neymar.

Felipão, então, tentou retomar o 4-3-3 da Copa das Confederações e toda a preparação para o Mundial na volta do intervalo, com Bernard no lugar de Ramires. E, como contra a Croácia, foi inicialmente um desastre. Diante dos croatas, faltava criação. Hoje, faltou aproximação. Com jogadores distantes um do outro, o México flanou pelo gramado do Castelão. Antes de Ochoa virar o craque da partida, os mexicanos tiveram diversas chegadas perigosas, e estavam realmente próximos de marcar o gol.

A entrada de Jô no lugar do inoperante Fred coincidiu com a retomada brasileira do controle do jogo. Digo coincidiu porque não foi por causa do atacante do Galo que o Brasil melhorou. O que houve é que o Brasil jogou mais aproximado, com jogadores ocupando melhor os espaços, adiantando a postura de marcação e jogando o México para trás. Aí, houve a pressão e várias chances claríssimas, nos bons 20 minutos finais, que foi o que a Seleção teve de positivo hoje à tarde. Numa das melhores, Thiago Silva, o melhor do time de Felipão hoje, cabeceou para defesa à queima-roupa de Ochoa. O esforço em busca do resultado e a grande atuação do goleiro mexicano salvaram o Brasil, inclusive, de ser vaiado. O público cearense reconheceu o esforço de todos.

E aí está uma grande preocupação: o Brasil não deixou de vencer o México em casa porque não se empenhou. Não venceu porque não teve competência. A seleção mexicana é média, nada mais do que isso. Se Ochoa foi mesmo o melhor em campo, não podemos nos esquecer de que Daniel Alves mais uma vez foi anêmico, Paulinho e Ramires estiveram muito abaixo das necessidades, Oscar voltou a jogar como antes da estreia e Fred foi nulo. O Brasil tem muitos problemas a corrigir. Se a vitória contra a Croácia escondeu isso em parte, o empate com o México deixa tudo muito mais claro. Nada que não seja possível consertar: Felipão fez isso em 2002, quando a equipe ia mal na primeira fase. A diferença é que o time que jogou aquele Mundial era muito superior ao atual.

Em tempo:
- Resultado excelente para o México, que joga por empate contra a Croácia na última rodada para se classificar.

- De 1982 a 2010, o Brasil sempre venceu seus dois primeiros jogos na Copa. Esta é a primeira vez que a Seleção deixa de vencer uma das partidas iniciais desde 1978.

Ficha técnica
Copa do Mundo 2014 - Grupo A - 2ª rodada
17/junho/2014
BRASIL 0 x MÉXICO 0
Local: Castelão, Fortaleza (BRA)
Árbitro: Cuneit Çakir (TUR)
Público: 60.342
Cartão amarelo: Thiago Silva, Ramires, Aguilar e Vázquez
BRASIL: Júlio César (5,5), Daniel Alves (5), Thiago Silva (7), David Luiz (6,5) e Marcelo (5,5); Luiz Gustavo (6), Paulinho (5), Ramires (5) (Bernard, intervalo - 5,5) e Oscar (5) (Willian, 38 do 2º - sem nota); Neymar (6) e Fred (4,5) (Jô, 22 do 2º - 5,5). Técnico: Luiz Felipe
MÉXICO: Ochoa (8,5), Rodríguez (5,5), Márquez (6,5) e Moreno (6,5); Aguilar (7), Vázquez (6,5), Herrera (6,5) (Fabián, 30 do 2º - 5,5), Guardado (6) e Layún (5,5); Giovani dos Santos (4,5) (Jiménez, 38 do 2º - sem nota) e Peralta (5,5) (Hernández, 28 do 2º - 5,5). Técnico: Miguel Herrera

Comentários

Franke disse…
O que me parece mais preocupante, embora revelador, é que o Brasil repetiu hoje como que integralmente seus problemas do jogo anterior. A partida contra a Croácia, lembremos, poderia muito bem ter acabado em empate, não fosse o juiz. O Brasil podia ter vencido hoje, mas empatou, e foi um resultado bem normal pelo que foi apresentado.

Um bom medidor de o que foi realmente um jogo do Brasil é o humor pós-jogo do Felipão. Ele é sempre grosseiro, mas quando ele tá satisfeito ele é grosseiro e engraçado. Hoje ele estava visivelmente puto da cara.
Franke disse…
O lado bom é que esse empate coloca um pouco em dúvida a nossa equipe, o que sempre faz bem aos times do Felipão. Além do fato de que o próximo jogo vira como que umas "16avos de final", já que, pra garantir a primeira vaga, o Brasil vai ter que pelo menos empatar (ou talvez mesmo ganhar). Isso também costuma fazer bem aos times do Felipão.
Vicente Fonseca disse…
E o Brasil poderia ter vencido hoje, mas também poderia ter perdido. É complicado projetar título quando o time não se impõe diante de times médios, como Croácia e México, mas acho que dá para se esperar algo mais quando a Seleção pegar adversários maiores. A única partida realmente de exceção na Copa das Confederações, lembremos, foi contra a Espanha.