Copa 2014: Rússia

Alguém lembra qual foi a última vez que a Rússia passou da primeira fase numa Copa do Mundo? Nem tem como: isso nunca aconteceu. Jogando como seleção russa desde 1992, a equipe parou na etapa de grupos nas duas Copas que disputou, em 1994 e 2002. Se considerarmos a Rússia uma herdeira da antiga União Soviética, voltamos a 1986. A equipe vermelha liderou a chave com França, Hungria e Canadá, mas parou nas oitavas em um emocionante confronto com a Bélgica (derrota por 4 a 3, na prorrogação). São 28 anos, ou três Copas parando sempre antes dos mata-matas.

Em 2014, os russos têm a melhor chance de superar a etapa de grupos em quase três décadas. Primeiro, porque a chave é fraca: fora a Bélgica, que além de algoz russa (a eliminou também 2002) é o time mais forte do grupo, Coreia do Sul e Argélia não assustam tanto. Além disso, a Rússia tem uma seleção forte, tecnicamente qualificada. Pode, inclusive, dar trabalho à favorita Alemanha nas oitavas, caso termine como vice-líder do grupo.

Símbolo da última geração do futebol russo e comandante intelectual da equipe semifinalista da Eurocopa de 2008, Andrei Arshavin nunca fez parte dos planos do técnico Fabio Capello, e provavelmente encerrará a carreira sem jogar uma Copa (tem já 33 anos) - a exemplo de Pavlyuchenko, seu parceiro naquele time, 32 anos. Em 2010, a equipe ficou de fora do Mundial ao ser surpreendida pela Eslovênia na repescagem. Foi à Euro 2012, estreou goleando a República Tcheca com um futebol envolvente, mas acabou caindo diante da Grécia e nem chegou aos mata-matas. Agora, após superar Portugal nas eliminatórias, tem tudo mais uma vez para fazer uma ótima Copa. Esperamos que não decepcione de novo.

O CAMINHO
O grupo russo em 2014 lembra o de 2002. Naquela ocasião, a equipe enfrentou a própria Bélgica, um time do Oriente (Japão) e um do norte africano (Tunísia). A diferença é que a seleção de hoje é mais forte e o adversário asiático não é o país-sede do Mundial. A estreia, diante dos coreanos, é fundamental, pois são eles que podem complicar a classificação russa (em novembro, deu Rússia em amistoso, 2 a 1). A seguir vem a Bélgica, no confronto mais difícil. Chegando ao duelo final com os argelinos com ao menos 3 pontos, a Rússia tem tudo para passar de fase.

DESTAQUE
Todos os jogadores se conhecem muito bem, pois atuam no futebol russo. O artilheiro Kerzhakov é um perigo, mas o meia Dzagoev, 23 anos, é o condutor da nova geração do futebol do país. Líder técnico do CSKA, ainda marca a memória de todos os que viram sua esplêndida atuação diante da República Tcheca, nos 4 a 1 da primeira rodada da Euro 2012. Repetindo o futebol daquela noite polonesa, pode fazer a Rússia incomodar muita gente grande no Brasil.

PONTOS FORTES
Nos últimos seis anos, apesar dos resultados apenas razoáveis, a Rússia parece ter encontrado uma escola de jogo que possa trazer frutos no futuro. É um estilo de jogo ofensivo, atraente, sem perder a grande força física, característica essencial e histórica do esporte no país. A equipe atual alia bem tudo isso. Talvez tenha chegado a hora de uma grande Copa da Rússia, para que em 2018 o país seja cotado como um dos possíveis candidatos ao título mundial jogando em casa.

PONTOS FRACOS
A frieza do povo russo nunca se verificou na seleção nacional, e tem feito falta. A Rússia é emocionalmente irregular, e tem amarelado quando mais se espera dela. A derrota para os eslovenos na repescagem de 2010 e a eliminação precoce após o excelente começo na Euro 2012, por exemplo, até hoje não foram engolidas. Talvez a experiência de Capello ajude.

A HISTÓRIA
Como União Soviética, a seleção disputou sete Copas. O período principal ocorreu entre 1958 e 1970, auge da Guerra Fria, quando a equipe comunista disputou quatro Mundiais seguidos e passou de fase em todos, chegando ao 4º lugar em 1966. Em 1982 e 1986, a URSS até passou de fase, mas não chegou às semifinais. Em 1990, 1994 e 2002 (essas duas últimas já como Rússia separada dos demais Estados), ficou na primeira fase.

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