A melhor Colômbia e uma digna Celeste
Desconfiar da Colômbia é algo normal para quem conhece o histórico irregular do selecionado. Mas esta não é uma Colômbia comum: é a melhor de todos os tempos. Sim, a melhor: o time dos anos 90 foi o pioneiro, o primeiro grande formado pelo país, mas o atual supera. Tudo graças a uma geração extremamente prolífica, cheia de opções (a Colômbia tem o melhor ataque da Copa, e seu centroavante titular não veio ao Brasil por lesão), ao excelente trabalho do competente José Pekerman e, claro, a James Rodríguez, que, se ainda não é, está a caminho a de ser o maior e mais importante jogador da história do país.
A primeira fase impecável eliminou boa parte das desconfianças quanto à Colômbia atual, mas ainda havia quem lembrasse que Grécia, Costa do Marfim e Japão não são adversários à altura. Pois hoje não restou mais nenhuma dúvida quanto à força colombiana. O Uruguai, mesmo sem Suárez, tem uma camisa pesadíssima, e vinha de uma primeira fase onde tirou forças para se recuperar de uma derrota surpreendente para a Costa Rica na estreia, bater Inglaterra e Itália e chegar às oitavas. A Celeste foi um teste e tanto que James e companhia superaram.
O fato é que o Uruguai dispõe de muito menos peças de reposição para Suárez do que a Colômbia em relação a Falcao. Com Luisito em campo, o equilíbrio de forças seria certamente maior. Sem ele, Tabárez foi quase que obrigado a montar seu time de forma mais defensiva, reativa. A Colômbia tem um futebol leve, de muitos gols marcados, mas não está tão acostumada assim a tomar a iniciativa. Os jogos da primeira fase, todos eles, apresentaram um time que prefere não ter tanto a bola para sair em velocidade. Propor o jogo dificultou a vida do time de Pekerman no Maracanã.
Com os mesmos três zagueiros da partida diante da Itália e Forlán ao lado de Cavani no ataque, a Celeste fazia um bom trabalho de anulação e corria poucos riscos, até James Rodríguez tirar um coelho da cartola e marcar um golaço inesquecível, aos 27 minutos. Para um time que veio para se defender e não contava com seu melhor atacante, a desvantagem ainda no primeiro tempo era quase uma tragédia. Para o Uruguai, que não conta com meias habilidosos ou criativos como Cuadrado ou o próprio James, enfrentar uma Colômbia fechada era bem complicado. O jogo ficou à feição dos colombianos, que passaram a explorar contra-ataques originados a partir de erros de passe dos uruguaios na frente.
Tabárez tentou manter o mesmo time para o segundo tempo, mas o segundo gol de James Rodríguez, construído a partir de uma envolvente troca de passes que abriu a defesa charrua, obrigou o técnico a mudar as peças. As entradas de Ramírez e Stuani tinham justamente o objetivo de fazer a equipe criar mais oportunidades de gol. E o Uruguai melhorou, fazendo um segundo tempo com a dignidade de sempre: mesmo com limitações técnicas evidentes, jogou a Colômbia contra o seu campo de defesa, obrigando Pekerman a colocar gente para proteger a defesa, como o volante Mejía, que entrou no lugar do centroavante Teo Gutiérrez. Várias chances foram criadas, talvez ao menos um gol de desconto fosse justo, mas o goleiro Ospina fez defesas impressionantes e impediu o tento uruguaio.
O Uruguai pode até reclamar de um pênalti não dado de Yepes em Forlán no primeiro tempo, mas a classificação colombiana foi justa. A Colômbia tem um time tecnicamente melhor, com um ataque rápido, criativo e de bom poder de fogo, mas ao mesmo tempo uma zaga muito segura, laterais que apoiam com qualidade e volantes que recompõem rapidamente. É um time completo, sem furos, e com muitos pontos fortes. Ao contrário do que historicamente se fala, em nenhum momento desta Copa do Mundo foi um time frágil defensivamente. Por isso, talvez seja um adversário até mais duro que o Chile para a sequência brasileira neste Mundial. Zapata e Yepes, ao contrário dos zagueiros chilenos, são altos. A Colômbia não tem o toque de bola envolvente do Chile, mas é mais forte na defesa, tem mais poder de fogo e um jogador espetacular no meio, provavelmente o melhor do Mundial na posição. Pode, sim, eliminar o Brasil em Fortaleza, na sexta que vem.
Não é do feitio dos uruguaios achar culpados, mas se algum responsável pela derrota de hoje tivesse de ser apontado ele certamente seria Luis Suárez, por mais que o povo charrua jamais admita isso. A punição aplicada a ele pela FIFA foi absurda, exagerada, desproporcional. Nove jogos e quatro meses longe da bola é um excesso, mas ao menos do jogo de hoje ele merecia ter ficado de fora, ou quem sabe até de mais dois ou três. Seu destempero prejudicou demais as possibilidades técnicas da Celeste hoje - o peso de sua ausência foi mais sentido pela falta de qualidade do ataque do que por um suposto abalo psicológico da equipe. Por outro lado, se não fosse por ele, a equipe de Tabárez não teria batido a Inglaterra, e portanto nem sequer teria enfrentado a Colômbia hoje. De fato, não cabe crucificá-lo. Apenas torcer para que ponha a cabeça no lugar e somente jogue o futebol espetacular que sabemos que joga.
Ficha técnica
Copa do Mundo 2014 - Oitavas de Final
28/junho/2014
COLÔMBIA 2 x URUGUAI 0
Local: Maracanã, Rio de Janeiro (BRA)
Árbitro: Bjorn Kuipers (HOL)
Público: 73.804
Gols: James Rodríguez 27 do 1º; James Rodríguez 4 do 2º
Cartão amarelo: Armero, Giménez e Lugano
COLÔMBIA: Ospina (8), Zúñiga (7,5), Zapata (7), Yepes (7) e Armero (6,5); Aguilar (6), Sánchez (6,5), Cuadrado (8) (Guarín, 35 do 2º - sem nota) e James Rodríguez (9) (Ramos, 39 do 2º - sem nota); Gutiérrez (6) (Mejía, 22 do 2º - 6) e Martínez (6). Técnico: José Pekerman
URUGUAI: Muslera (6), Giménez (5,5), Godín (6) e Cáceres (5,5); Maxi Pereira (6), Arévalo (6), González (5,5) (Hernández, 21 do 2º - 5,5), Cristian Rodríguez (7) e Álvaro Pereira (5,5) (Ramírez, 7 do 2º - 5,5); Forlán (4,5) (Stuani, 7 do 2º - 6) e Cavani (6). Técnico: Óscar Tabárez
A primeira fase impecável eliminou boa parte das desconfianças quanto à Colômbia atual, mas ainda havia quem lembrasse que Grécia, Costa do Marfim e Japão não são adversários à altura. Pois hoje não restou mais nenhuma dúvida quanto à força colombiana. O Uruguai, mesmo sem Suárez, tem uma camisa pesadíssima, e vinha de uma primeira fase onde tirou forças para se recuperar de uma derrota surpreendente para a Costa Rica na estreia, bater Inglaterra e Itália e chegar às oitavas. A Celeste foi um teste e tanto que James e companhia superaram.
O fato é que o Uruguai dispõe de muito menos peças de reposição para Suárez do que a Colômbia em relação a Falcao. Com Luisito em campo, o equilíbrio de forças seria certamente maior. Sem ele, Tabárez foi quase que obrigado a montar seu time de forma mais defensiva, reativa. A Colômbia tem um futebol leve, de muitos gols marcados, mas não está tão acostumada assim a tomar a iniciativa. Os jogos da primeira fase, todos eles, apresentaram um time que prefere não ter tanto a bola para sair em velocidade. Propor o jogo dificultou a vida do time de Pekerman no Maracanã.
Com os mesmos três zagueiros da partida diante da Itália e Forlán ao lado de Cavani no ataque, a Celeste fazia um bom trabalho de anulação e corria poucos riscos, até James Rodríguez tirar um coelho da cartola e marcar um golaço inesquecível, aos 27 minutos. Para um time que veio para se defender e não contava com seu melhor atacante, a desvantagem ainda no primeiro tempo era quase uma tragédia. Para o Uruguai, que não conta com meias habilidosos ou criativos como Cuadrado ou o próprio James, enfrentar uma Colômbia fechada era bem complicado. O jogo ficou à feição dos colombianos, que passaram a explorar contra-ataques originados a partir de erros de passe dos uruguaios na frente.
Tabárez tentou manter o mesmo time para o segundo tempo, mas o segundo gol de James Rodríguez, construído a partir de uma envolvente troca de passes que abriu a defesa charrua, obrigou o técnico a mudar as peças. As entradas de Ramírez e Stuani tinham justamente o objetivo de fazer a equipe criar mais oportunidades de gol. E o Uruguai melhorou, fazendo um segundo tempo com a dignidade de sempre: mesmo com limitações técnicas evidentes, jogou a Colômbia contra o seu campo de defesa, obrigando Pekerman a colocar gente para proteger a defesa, como o volante Mejía, que entrou no lugar do centroavante Teo Gutiérrez. Várias chances foram criadas, talvez ao menos um gol de desconto fosse justo, mas o goleiro Ospina fez defesas impressionantes e impediu o tento uruguaio.
O Uruguai pode até reclamar de um pênalti não dado de Yepes em Forlán no primeiro tempo, mas a classificação colombiana foi justa. A Colômbia tem um time tecnicamente melhor, com um ataque rápido, criativo e de bom poder de fogo, mas ao mesmo tempo uma zaga muito segura, laterais que apoiam com qualidade e volantes que recompõem rapidamente. É um time completo, sem furos, e com muitos pontos fortes. Ao contrário do que historicamente se fala, em nenhum momento desta Copa do Mundo foi um time frágil defensivamente. Por isso, talvez seja um adversário até mais duro que o Chile para a sequência brasileira neste Mundial. Zapata e Yepes, ao contrário dos zagueiros chilenos, são altos. A Colômbia não tem o toque de bola envolvente do Chile, mas é mais forte na defesa, tem mais poder de fogo e um jogador espetacular no meio, provavelmente o melhor do Mundial na posição. Pode, sim, eliminar o Brasil em Fortaleza, na sexta que vem.
Não é do feitio dos uruguaios achar culpados, mas se algum responsável pela derrota de hoje tivesse de ser apontado ele certamente seria Luis Suárez, por mais que o povo charrua jamais admita isso. A punição aplicada a ele pela FIFA foi absurda, exagerada, desproporcional. Nove jogos e quatro meses longe da bola é um excesso, mas ao menos do jogo de hoje ele merecia ter ficado de fora, ou quem sabe até de mais dois ou três. Seu destempero prejudicou demais as possibilidades técnicas da Celeste hoje - o peso de sua ausência foi mais sentido pela falta de qualidade do ataque do que por um suposto abalo psicológico da equipe. Por outro lado, se não fosse por ele, a equipe de Tabárez não teria batido a Inglaterra, e portanto nem sequer teria enfrentado a Colômbia hoje. De fato, não cabe crucificá-lo. Apenas torcer para que ponha a cabeça no lugar e somente jogue o futebol espetacular que sabemos que joga.
Ficha técnica
Copa do Mundo 2014 - Oitavas de Final
28/junho/2014
COLÔMBIA 2 x URUGUAI 0
Local: Maracanã, Rio de Janeiro (BRA)
Árbitro: Bjorn Kuipers (HOL)
Público: 73.804
Gols: James Rodríguez 27 do 1º; James Rodríguez 4 do 2º
Cartão amarelo: Armero, Giménez e Lugano
COLÔMBIA: Ospina (8), Zúñiga (7,5), Zapata (7), Yepes (7) e Armero (6,5); Aguilar (6), Sánchez (6,5), Cuadrado (8) (Guarín, 35 do 2º - sem nota) e James Rodríguez (9) (Ramos, 39 do 2º - sem nota); Gutiérrez (6) (Mejía, 22 do 2º - 6) e Martínez (6). Técnico: José Pekerman
URUGUAI: Muslera (6), Giménez (5,5), Godín (6) e Cáceres (5,5); Maxi Pereira (6), Arévalo (6), González (5,5) (Hernández, 21 do 2º - 5,5), Cristian Rodríguez (7) e Álvaro Pereira (5,5) (Ramírez, 7 do 2º - 5,5); Forlán (4,5) (Stuani, 7 do 2º - 6) e Cavani (6). Técnico: Óscar Tabárez
Comentários
Se a Colômbia gosta de jogar em contra ataques, imagine a tensão que vai ser o jogo contra o Brasil...