Vitória de líder

A vitória do Cruzeiro hoje no Centenário não foi apenas um grande resultado contra um adversário grande. Foi uma atuação de campeão brasileiro, um campeão que já é o favorito maior para o bi. Um 3 a 1 de virada com maturidade, diante do até então único invicto da competição, o Internacional, que até agora não havia perdido sequer um jogo com seu time principal em 2014.

Foi um Inter principal, mas misto, o que jogou hoje no Centenário. Mais uma vez, Abelão se viu cheio de problemas - seis, contra três de Marcelo Oliveira, que tem um banco melhor. O Cruzeiro não se atirou para cima em nenhum momento, mas sempre foi mais consciente. Mesmo no equilibrado primeiro tempo, o time mineiro teve mais posse de bola ofensiva que o Inter. O jogo, no entanto, começou estudado demais. Na primeira meia hora, o único lance mais agudo foi um chutaço de D'Alessandro no travessão de Fábio.

A partida começou mesmo no gol de Wellington. Um golaço, aliás, pela trama coletiva: início com D'Alessandro, ótima subida de Diogo pela direita e cruzamento rasteiro para o volante, que chegou na área, como costuma fazer Aránguiz, embora seja bem diferente do chileno. O mistão do Inter tinha tudo para tomar conta do jogo a partir do gol, mas a maturidade cruzeirense apareceu com força em apenas quatro minutos, no improvável gol de cabeça de Ricardo Goulart, que conseguiu dar uma incrível curva à bola no testaço, mesmo sem ângulo. Uma ducha fria no já gelado Centenário, e que deixava o segundo tempo à feição para o time de Minas.

Com Willian no lugar de Dagoberto, o Cruzeiro voltou mais qualificado para a etapa final. E passou a ser o controlador do jogo, sempre atacando com mais organização e eficiência, mesmo sem tomar a iniciativa. Embora as melhores chances fossem do Inter (especialmente um lindo testaço de Juan para fora após escanteio), o time mineiro estava visivelmente mais bem formatado, pronto para esperar um vacilo colorado para virar. Num contra-ataque às costas de Diogo, sem a cobertura de Willians, Éverton Ribeiro lançou Willian, que fez 2 a 1.

Após a virada, ficou ainda mais clara a falta que Aránguiz faz ao Inter. Sem o chileno, mais uma vez o Colorado foi um time previsível, sem poder de surpreender o adversário com uma infiltração vinda de trás, e isso que estamos falando de uma equipe com jogadores criativos, como D'Alessandro, Otávio (àquela altura já substituído) e Valdívia, em um jogo onde um volante marcou o gol gaúcho. Com o nervosismo pela derrota iminente em casa, veio a precipitação, e com ela os passes errados. Após o segundo gol cruzeirense, o Inter não teve qualquer chance clara de gol. O Cruzeiro teve uma, e fez, com Marcelo Moreno, novamente pelo desfalcado lado direito da defesa rubra.

Não é uma derrota surpreendente, tampouco é uma derrota que faz o Inter "cair na real", como pregam os mais pessimistas. O time de Abel Braga jogou desfalcado de meio time contra o campeão brasileiro, e perdeu. Uma derrota contundente, sofrida com autoridade, mas natural pelas circunstâncias. Nada que ponha a dúvida a capacidade já demonstrada pela equipe, ao contrário: talvez freie um pouco o entusiasmo desmedido que tomou conta de muitos após a goleada no segundo Gre-Nal que decidiu o Gauchão, este sim um resultado fortuito e surpreendente, capaz de enganar quem visse no bom Colorado 2014 um timaço imbatível.

Pela tabela, sim, o saldo é bem ruim: foram sete posições perdidas numa semana, e apenas dois pontos conquistados em nove disputados. Ganhar da Chapecoense passou a ser obrigação, até porque o Fluminense, no próximo fim de semana, não promete ser muito mais fácil do que foi o Cruzeiro hoje. Ainda assim, mesmo em 8º lugar, o G-4 está a um ponto de distância. Nada de exaltações, já diria Jirafales.

Em tempo:
- Abelão mexeu mal, e foi vaiado. Otávio não merecia ter saído, afinal, era um dos bons jogadores do Inter no segundo tempo, quando o placar ainda estava 1 a 1. Sua saída tirou boa parte da criatividade do time, que quase não conseguiu mais chances de gol depois da troca.

- Apesar do frio intenso, público não mais que razoável no Centenário. O Grêmio, em um jogo na chuva, às 22h de quarta-feira, botou os mesmos 8 mil torcedores. E olha que o adversário nem era o Cruzeiro, mas o Botafogo.

Ficha técnica
Campeonato Brasileiro 2014 - 7ª rodada
25/maio/2014
INTERNACIONAL 1 x CRUZEIRO 3
Local: Centenário, Caxias do Sul (RS)
Árbitro: Paulo Henrique Bezerra (SC)
Público: 8.590
Renda: R$ 213.860,00
Gols: Wellington 38 e Ricardo Goulart 42 do 1º; Willian 24 e Marcelo Moreno 42 do 2º
Cartão amarelo: Wellington, Dagoberto e Ricardo Goulart
INTERNACIONAL: Dida (5,5), Diogo (4,5), Ernando (5), Juan (5,5) e Fabrício (5,5); Willians (4,5), Wellington (5,5) (Jorge Henrique, 28 do 2º - 5), Valdívia (5) (Aylon, 32 do 2º - sem nota), D'Alessandro (6) e Otávio (6) (Eduardo Sasha, 17 do 2º - 5); Wellington Paulista (5). Técnico: Abel Braga
CRUZEIRO: Fábio (5,5), Ceará (5), Léo (6), Bruno Rodrigo (6,5) e Egídio (5,5); Willian Farias (5,5), Henrique (5,5) e Éverton Ribeiro (6,5) (Tinga, 37 do 2º - sem nota); Ricardo Goulart (6,5), Marcelo Moreno (6,5) (Borges, 43 do 2º - sem nota) e Dagoberto (5,5) (Willian, intervalo - 6,5). Técnico: Marcelo Oliveira

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