Um eficiente, sortudo e mortal violeta

Nacional-PAR, San Lorenzo, Bolívar e Defensor. Estes, por enquanto, são os quatro semifinalistas da surpreendente Libertadores 2014. É claro que Arsenal de Sarandí, Cruzeiro, Lanús e Atlético Nacional, os teóricos favoritos para os confrontos das quartas, ainda têm condições de reverter as desvantagens que sofreram, mas hoje os finalistas seriam estes. Estamos, senhores, diante do mata-mata mais surpreendente dos últimos tempos na maior competição do nosso continente.

Dos quatro favoritos em desvantagem, sem dúvida o Atlético Nacional é o que tem menos chances de seguir adiante. Afinal, em poucas noites na história do futebol sul-americano, o tom violeta do Defensor brilhou tão intensamente quanto ontem. No Atanásio Girardot, o surpreendente time uruguaio contou com uma mistura de eficiência, sorte e sabedoria para explorar o principal defeito do time da casa, que é o de perder gols demais. Quebrou um tabu histórico: nunca o Nacional havia perdido para um time do Uruguai jogando na Colômbia. A vitória com sobras, 2 a 0, não reflete o que foi o jogo, mas deixa a equipe do iluminado Luna (entrou e em 20 minutos fez a jogada dos dois gols) e dos irresistíveis Gedoz, De Arrascaeta e Olivera muito perto de sua primeira semifinal de Libertadores.

O Atlético Nacional é um ótimo time, mas peca pela ansiedade ao jogar diante de sua torcida. E não se trata de uma pressão vinda das arquibancadas: a cada gol sofrido, os torcedores de Medellín incentivam ainda mais o time, e jamais o vaiam. O volume de jogo é sempre imenso (ontem foram 64% de posse de bola e 25 arremates), mas os gols perdidos seguem sendo um enorme problema. Só no primeiro tempo foram criadas sete chances claras, todas desperdiçadas. Outro problema é a constante troca de esquema que efetua o técnico Osório: nos últimos jogos, tem insistido no meio-campista Valencia como ponta esquerda, recuando Cárdenas para o meio. Com Sherman mais longe do gol, a qualidade do arremate piora. Embora seja um jogador qualificado para criar, algo fundamental diante de uma defesa fechada como a uruguaia, o time perde um pouco do seu poder de fogo. A inversão de posição dele com Cardona diminuiria este problema. 

Ainda assim, não se pode dizer que o Atlético Nacional jogou mal. A equipe foi superior no primeiro tempo e teve grandes chances de marcar. Poderia ter ido para o intervalo em vantagem se tivesse mais capricho e até sorte nas conclusões. Quando Campaña não fazia um milagre, a bola raspava a trave. O Defensor teve grandes méritos, mas muita sorte também. E os colombianos repetiram um problema de sempre: dominam o adversário em Medellín, mas perdem gols demais. Contra o Newell's e o Atlético-MG, tiveram ao menos 15 chances, e só marcaram no fim o gol do 1 a 0; contra o Grêmio, pressionaram no segundo tempo e perderam de 2 a 0. A história que se repetiu ontem, infelizmente, foi a da partida contra o Tricolor Gaúcho.

O Defensor ficou na sua, e apesar de pressionado e até dominado em determinados momentos, teve grandes méritos, em especial o da eficiência. Contou com duas linhas de quatro homens, que fechavam os espaços dos volantes, meias e atacantes sempre projetados do time colombiano. Fleurquín e Cardaccio foram perfeitos na frente da área, Correa e Malvino soberanos por cima e Gedoz e Pais cumpriam função tática dupla, anulando as subidas do Atlético Nacional e saindo em velocidade nos contragolpes sempre que possível. E, apesar disso, o escrete charrua não abriu mão de jogar, mas no momento certo, com inteligência.

Ávido por abrir vantagem, o time da casa se expôs cada vez mais no segundo tempo. O Defensor, em vez de se enchiqueirar lá atrás, tratou de segurar um pouco mais a bola e tentar encontrar espaços que surgiam a toda hora. Num deles, Luna, o meia esquerda da segunda linha de quatro naquele momento, cruzou para o cabeceio do meia direita, Pais, após uma paciente troca de passes uruguaia. Aos 32 do 2º tempo, um gol importantíssimo, que enervou o Atlético Nacional. Desesperado, o time colombiano saiu com tudo para cima, perdeu mais algumas chances e deixou aberto o espaço para os uruguaios fazerem o segundo, com o veteraníssimo e mortal Olivera, em um contragolpe espetacularmente puxado por Luna.

O Atlético Nacional tem mostrado postura semelhante dentro e fora de casa, mas parece se sentir mais à vontade longe de Medellín. É um time com qualidade para se impor no Centenario e reverter os 2 a 0. Basta lembrar que fez 3 a 1 no poderoso Newell's em Rosario na primeira fase. Mas o Defensor, como clube pequeno que é, não terá problemas em jogar resguardado, esperando para dar o bote. É o time mais semifinalista de todos, e terá a vantagem de sempre decidir em casa qualquer mata-mata, pois, dos oito, é o que teve melhor campanha na fase de grupos. Uma equipe com qualidade técnica, bem treinada e corajosa. A mais grata surpresa de toda a Libertadores, e que provou ontem que é candidata ao título da competição.

Em tempo:
- Cardona é tecnicamente brilhante, mas seu destempero prejudica ele próprio e o Atlético Nacional. Ontem jogou pouco e foi expulso no fim. Em Rosario já havia sido assim. Se estivesse bem de cabeça e jogando tudo o que sabe (e até já mostrou no começo desta Libertadores), o time de Medellín era candidatíssimo ao título.

- O golaço de Ferreira no fim do jogo deixa o Bolívar muito perto da semifinal. O Lanús fez 1 a 0 cedo, mas não conseguiu aproveitar este fato para meter mais gols no bem postado time boliviano. Terá de conseguir resultado melhor na volta, na altitude de La Paz. Como Nacional-PAR e Arsenal de Sarandí nunca chegaram tão longe, e Bolívar e Defensor estão em vantagem decidindo em casa, a Libertadores está muito perto de ter três semifinalistas (e ao menos um finalista) inédito.

Ficha técnica
Copa Libertadores da América 2014 - Quartas de final - Jogo de ida
8/maio/2014
ATLÉTICO NACIONAL 0 x DEFENSOR 2
Local: Atanásio Girardot, Medellín (COL)
Árbitro: Néstor Pitana (ARG)
Público: 38.687
Renda: COL$ 1.519.219.000,00
Gols: Pais 32 e Olivera 38 do 2º
Cartão amarelo: Cardaccio
Expulsão: Cardona 41 do 2º
ATLÉTICO NACIONAL: Armani (5,5), Bocanegra (4,5) (Valoy, 33 do 2º - 4,5), Peralta (5), Murillo (5,5) e Díaz (5,5); Mejía (6), Bernal (5,5) (Guisao, 26 do 2º - 5) e Cárdenas (6); Cardona (3,5), Duque (4,5) (Ángel, 35 do 2º - sem nota) e Valencia (5,5). Técnico: Juan Carlos Osorio
DEFENSOR: Campaña (8), Zeballos (6), Correa (6), Malvino (7) e Herrera (5,5) (Silva, 22 do 2º - 6); Fleurquín (6,5), Cardaccio (6,5), Pais (7), De Arrascaeta (6) (Luna, 27 do 2º - 8) e Gedoz (5,5) (Olivera, 9 do 2º - 7); Alonso (5). Técnico: Fernando Curutchet

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