Todos relativamente satisfeitos

O Cruzeiro foi a Buenos Aires para buscar o empate ou perder de pouco. O San Lorenzo, por sua vez, jogou como todo time de Edgardo Bauza em casa: querendo a vitória, mas sem sofrer gols, o que é importante no saldo qualificado. Portanto, ninguém sai do Nuevo Gasómetro triste ou decepcionado com a vitória por 1 a 0 do campeão argentino sobre o campeão brasileiro. O resultado, se não é ótimo para ninguém, está dentro do que todos imaginavam. É confortável até certo ponto para o San Lorenzo, e ainda assim reversível sob a óptica cruzeirense.

Surpreendeu o modo covarde com que o time mineiro se portou na Argentina. Ao contrário do Grêmio, que atuou com personalidade e encarou o San Lorenzo de igual para igual fora de casa, o Cruzeiro, que tecnicamente é até superior ao time gaúcho, preferiu apenas se defender, embora tivesse condições de tentar se impor. Seus dois pontas, Willian e Ricardo Goulart, foram quase volantes, de tanto que marcaram. Júlio Baptista e Éverton Ribeiro também se dedicaram demais a fechar os espaços alheios. Nada disso seria problema, desde que ele não se resumissem às tarefas defensivas. Mas foi o que aconteceu.

Como diante do Grêmio, o San Lorenzo falou a semana toda em respeito ao adversário brasileiro da vez, e portou-se com cautela nos minutos iniciais, em vez de se atirar para cima. Vendo que o Cruzeiro não tentaria o ataque, aí sim, o time argentino passou a sufocar. Teve dificuldades, claro: como time forte que é, a Raposa se defendeu bem, com solidez. Mas o campeão argentino também é forte, e aos poucos foi usando de suas armas para achar espaços valiosos. Correa estava marcado? Piatti assumia o jogo. Matos estava isolado? Villalba dava um jeito de procurá-lo, auxiliado por Buffarini, que não tinha a quem marcar e ajudava o ponta constantemente, dando trabalho dobrado ao paraguaio Samudio na lateral esquerda mineira.

Na volta do intervalo, Marcelo Oliveira tratou de corrigir a falta de contra-ataques de sua equipe, uma arma fundamental para preocupar o San Lorenzo e tirá-lo tanto de cima do seu time. O Cruzeiro conseguiu um par deles nos primeiros 10 minutos, mas a pressão argentina se tornava cada vez maior. O gol de cabeça de Gentiletti, aos 20, era uma consequência natural do domínio da equipe da casa. Um gol que inflamou o campeão argentino, incendiou de alegria e cantos copeiros o Nuevo Gasómetro, mas não fez Bauza recuar de sua ideia: a de ganhar sem tomar gols em casa.

O técnico do San Lorenzo deu sete minutos para a sua equipe aproveitar o embalo e tentar marcar 2 a 0. Não conseguiu? Pois então tirou o atacante Correa e pôs o zagueiro Kannemann, já deixando claro que agora a ordem seria manter a vantagem, que é bem menos mínima do que parece. Nos 20 minutos finais, foi o time visitante quem passou a ter a iniciativa, mas sem qualquer brilho ou qualidade para envolver a sólida retaguarda portenha. Com Piatti em noite não tão inspirada, o San Lorenzo também não conseguiu nenhum contragolpe mortal, e o jogo se arrastou para o 1 a 0 que agrada a Bauza e não deixa Marcelo Oliveira em desespero.

O Cruzeiro pode reverter a desvantagem no Mineirão, como o Grêmio também podia na Arena. A vantagem dos mineiros em relação aos gaúchos é que seu ataque é muito mais produtivo, o que para quem precisa de gols é tudo. Mas será preciso jogar muito, muito mais para fazer os 2 a 0 mínimos. Há dois Cruzeiros nesta Libertadores: o instável, que joga pouco, e o campeão brasileiro de 2013, cheio de personalidade. Hoje, como diante de Real Garcilaso, Defensor e no jogo de ida com o Cerro Porteño, esteve em campo o primeiro; na semana que vem, é hora de o segundo retomar as ações.

Em tempo:
- O Nacional-PAR segue fazendo história. A vitória por 1 a 0 sobre o Arsenal de Sarandí não define nada, mas é exatamente a mesma que eliminou o Vélez, bem mais poderoso que seu rival de agora.

Ficha técnica
Copa Libertadores da América 2014 - Quartas de final - Jogo de ida
7/maio/2014
SAN LORENZO 1 x CRUZEIRO 0
Local: Nuevo Gasómetro, Buenos Aires (ARG)
Árbitro: Antonio Arias (PAR)
Público: não divulgado
Gol: Gentiletti 20 do 2º
Cartão amarelo: Gentiletti, Navarro e Dagoberto
SAN LORENZO: Torrico (5,5), Buffarini (6,5), Valdés (6,5), Gentiletti (7) e Más (6) (Navarro, 35 do 2º - sem nota); Mercier (6,5), Ortigoza (6), Villalba (7) (Elizari, 37 do 2º - sem nota) e Piatti (6); Correa (5,5) (Kannemann, 27 do 2º - 5,5) e Matos (5,5). Técnico: Edgardo Bauza
CRUZEIRO: Fábio (7), Ceará (5,5), Léo (5,5), Dedé (6) e Samudio (5,5); Lucas Silva (5,5), Henrique (5) e Éverton Ribeiro (5,5); Ricardo Goulart (5,5), Júlio Baptista (5) (Borges, 24 do 2º - 4,5) e Willian (5,5) (Dagoberto, 24 do 2º - 5). Técnico: Marcelo Oliveira

Comentários