O camaleão da Libertadores

Muito se fala que a repetição de esquema e de uma ideia de time são fundamentais para o sucesso de uma equipe. É verdade, mas há exceções que confirmam esta regra. O Atlético Nacional é uma delas. Mesmo que não tenha chegado às semifinais da Libertadores, a equipe do técnico Juan Carlos Osorio apresentou um futebol quase sempre interessante, propositivo, e mostrou força mesmo mudando de esquema constantemente, encontrando alternativas táticas interessantíssimas mesmo quando os desfalques eram sérios. Não foi pelas frequentes trocas de esquema que acabou eliminada pelo Defensor.

Esse dinamismo todo só foi possível devido a dois aspectos: o primeiro, a inteligência e qualidade dos jogadores, de todos os setores. Atletas como Bocanegra, Mejía e Cárdenas mostraram ser diferenciados no que tange à obediência tática e leitura das partidas. O outro, claro, é o entrosamento da equipe, que já vem de tempo.

A seguir, fazemos uma retrospectiva dos esquema utilizados por este time que pode não ter ganhado a Libertadores, mas passou um um grupo muito difícil, eliminou Newell's e Atlético-MG fora de casa e deixará saudades pelo futebol interessante e tão peculiar.

O 3-4-3 sem laterais
O Chile de Marcelo Bielsa, que disputou a Copa de 2010, notabilizava-se por não ter laterais. O técnico sul-americano mais inovador dos últimos tempos inspirou o esquema de Osorio para o Atlético Nacional no começo da Libertadores. O excelente Mejía protegia o trio de zagueiros, Bernal e Díaz eram os meias-volantes-laterais da equipe, enquanto Cardona centralizava a criação, ainda que os pontas, especialmente Cárdenas, o auxiliassem nesta tarefa. Os zagueiros Bocanegra e Murillo também tinham relativa autorização para avançar, e compunham as alas se necessário. O time não tinha laterais fixos, mas nunca deixava as pontas vazias.

Sem dúvida, este esquema tão diferente foi o mais interessante do Atlético Nacional na Libertadores. Vejam como a própria figura do time é toda projetada para a frente, para cima do adversário. Esta formação venceu o Newell's em Medellín por 1 a 0 em uma partida de alto nível. Na Arena, levou 3 a 0 do Grêmio, placar que não reflete a boa atuação do Atlético Nacional naquela noite. Contra o Nacional-URU, em casa, o esquema ficou prejudicado pela expulsão aos 20 segundos de Bernal. Díaz foi recuado a lateral esquerda, Bocanegra fez a direita e o time se postou num 4-4-1.

O 3-4-3 com o meio em linha
Prevendo um jogo onde o Nacional-URU alçaria bolas na área o tempo todo no Parque Central, Osorio decidiu manter o 3-4-3, para manter três defensores altos na área, mas fixou dois laterais, Bocanegra e Díaz, para dificultar os cruzamentos. O meio, assim, formou-se em linha, com Mejía e Valencia como volantes. Na frente, Duque foi o centroavante centralizado, enquanto Cárdenas e Cardona tinham a dupla tarefa de atacar pelos lados e voltar para recompor e ajudar na criação. Assim, o Atlético Nacional foi um 3-6-1 quando se defendia e um 3-4-3 quando atacava. Ganhou o jogo por 1 a 0 em Montevidéu. A estratégia foi repetida diante do Grêmio, certamente prevendo que Luan e Dudu levaria perigo pelas pontas, mas fracassou: derrota por 2 a 0 no Atanásio Girardot.

O 4-3-3 de Rosário
Se o time precisava vencer o Newell's em Rosário, Osorio não hesitou em manter os três atacantes. Desta vez, porém, sua equipe foi ultraofensiva, já que Cárdenas foi recuado para a meia esquerda, e apenas Mejía seria volante. Foi o primeiro jogo em que Valencia atuou como ponta. A expulsão de Cardona logo no começo forçou Cárdenas a atuar centralizado, com Arias voltando para compor a marcação com Mejía. O jogo foi todo atípico, mas tudo deu certo, e o 3 a 1 carimbou a vaga para as oitavas de final com sobras. Notem: nesta altura da Libertadores, já víamos Cárdenas e Cardona em posições totalmente invertidas às do início da competição, o que ajudava a confundir os adversários: se Sherman era ponta esquerda, agora era meia; se Edwin era meia, agora era ponta direita. Tudo possível graças à qualidade individual de ambos.

O ofensivo 4-5-1 de quatro volantes
Este talvez tenha sido o esquema mais insólito e ousado utilizado por Osorio. E como deu certo. Diante do Atlético-MG, em Medellín, o Atlético Nacional entrou com uma proposta simples para acabar com a maior virtude do Galo, a intensidade: superpovoar o meio-campo. Assim, o técnico postou a equipe com quatro volantes que, na verdade, marcavam tão adiantados que eram meias, e às vezes até atacantes. Mejía e Díaz atuavam mais centralizados, Bernal e Valencia pelos lados e Cárdenas, que coordenava todo o processo criativo antes do atacante Duque, fez um partidaço. Criou perigo o tempo todo e ainda marcou, no fim, o golaço que definiu a vitória colombiana. 

Tudo isso foi necessário porque Cardona, expulso em Rosario, não pôde atuar. Vejam como mesmo sem seu principal referencial técnico Osorio conseguiu fazer do limão a limonada: com a colaboração coletiva de todos do meio para a frente, o Atlético Nacional pouco sentiu a falta de Edwin. É neste tipo de situação que se vê que estamos diante de um grande treinador, capaz de achar soluções quando 99% de seus colegas só se queixariam do desfalque e lamentariam a falta de substitutos adequados.

O 4-3-3 de Belo Horizonte (e Medellín)
Para segurar a pressão do Galo, um esquema mais cauteloso: um 4-3-3 com três volantes. Neste caso, Cárdenas e Valencia voltavam para recompor o meio e ajudar na marcação quando a equipe era atacada. O Atlético Nacional não foi nem um pouco brilhante no Independência, mas sim eficiente, e saiu com o 1 a 1 que lhe classificava. Diante do Defensor, em Medellín, a proposta de esquema foi semelhante, mas bem mais ofensiva: Cárdenas, ponta direita em BH, atuou como meia centralizado, num time com dois volantes atrás. A equipe teve muito poder de criação, mas acabou levando 2 a 0 nos contragolpes, resultado que, na prática, a eliminou da Libertadores. De todos os esquemas, este foi o menos interessante e que pior funcionou.

O 3-5-2 da eliminação
Em seu último jogo na Libertadores, o Atlético Nacional entrou com a proposta de não tomar gols do rápido contra-ataque uruguaio. Assim, entrou com três zagueiros e Bocanegra, um zagueiro de origem, na ala direita. Um erro de Osorio, que talvez devesse pensar mais em alguém para ajudar Cárdenas na criação, já que Cardona estava fora, mais uma vez suspenso. A equipe criou menos do que deveria, e acabou tomando gol justamente no contra-ataque, caindo fora da Libertadores no Centenario.

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