Força

Força foi a palavra da noite no Alfredo Jaconi. Foi preciso fazer força para jogar em determinados lados do gramado molhado; força bruta foi o que se viu no fim da partida, com a confusão envolvendo jogadores e seguranças das duas equipes; o Grêmio teve que fazer força para virar um jogo complicado, no qual saiu perdendo logo de cara; e o Grêmio, afinal, demonstrou força. Pois virar a partida desta noite não foi nada fácil.

De cara, gol do Botafogo. Uma semitragédia: o gol cedo era tudo o que o time visitante precisava para legitimar a estratégia de jogar fechado e explorar os contra-ataques. E o Botafogo foi a Caxias pensando nisso: três volantes, Carlos Alberto estreando em bom nível e os rápidos Emerson Sheik e Zeballos na frente. Não seria nada fácil, e o Grêmio sentiu o golpe, demorou a entrar no jogo. Sorte que era cedo demais, e dava tempo para se reorganizar.

Começou a fazê-lo a partir de uma mudança de posicionamento de seus meias. Alán Ruiz passou a atuar pelo meio, e Rodriguinho caiu mais pela direita. Mudança que talvez pudesse ter ocorrido até em jogos anteriores, pois o argentino é lento para jogar pelo flanco e cresce muito de nível enfiando bolas pelo centro. Distribuiu o jogo de forma qualificada para os dois lados, dando ao Grêmio opções de jogadas pelos dois lados, embora o time ainda errasse muitos passes e parasse na bem montada marcação botafoguense. O time gaúcho foi crescendo até empatar, em ajeitada de Barcos para um chute seco de Rodriguinho.

No segundo tempo, o Grêmio voltou empurrando o Botafogo para trás. Enderson liberou Breno para atacar e fazer o dois-um com Dudu em cima de Edílson, o que obrigava algum volante a sempre fazer a cobertura e poderia abrir espaços no meio. Com essa dinâmica, a equipe envolveu os cariocas nos primeiros 15 minutos, mas aos poucos foi cansando. O Botafogo também já não tinha mais o vigor do primeiro tempo, com Carlos Alberto e Bolatti cansados. Era hora de mudar para tentar a vitória, e Enderson teve estrela.

O gol de Maxi Rodríguez surgiu numa jogada que começou com o outro reserva, Zé Roberto. O uruguaio, que quase foi exatamente para o Botafogo há algumas semanas, decidiu o jogo em uma de suas qualidades: a infiltração pelo meio e o chute colocado de média distância. Sorte do Grêmio que o negócio com o Fogão não saiu. Não tanto pelo jogo de hoje, mas pelos muitos mais que podem vir. Maxi Rodríguez é um jogador irregular, ainda não confiável para titularidade, mas talentoso e com capacidade de mudar o rumo de um jogo quando entra no segundo tempo. Hoje foi assim. Em 2013, algumas vezes, também. E num campeonato longo e cheio de jogos complicados, como o de hoje, isso pode ser a diferença.

O Grêmio é o vice-líder nos critérios, mas com pontuação de líder. Um feito importante, claro, mas isso é o de menos, pois ainda é cedo. O importante mesmo é ver a equipe crescendo, se reformatando com a escalação nova, no 4-2-3-1. Hoje, houve também banco qualificado, capaz de modificar o panorama de forma favorável. Os resultados estão aí. Os desempenhos não são brilhantes, mas quem tem tido atuações esplendorosas? O Fluminense, que goleou hoje o São Paulo, faz pouco perdeu em casa para o Vitória. Solidez a equipe do Humaitá tem demonstrado. Sábado há mais um teste, complicadíssimo por sinal, no Morumbi.

Em tempo:
- A confusão ao final do jogo era previsível pelo nível de competitividade do jogo. Gramado molhado ajuda a haver divididas mais ríspidas, havia jogadores de temperamento explosivo (Carlos Alberto, Sheik) em campo e o nível de disputa da partida foi alto. Quem tinha razão? Ninguém. Ninguém tem razão quando se sai no tapa.

- O Botafogo, apesar da péssima colocação, mostrou que a saída do Z-4 é questão de tempo. Tem bons jogadores, alguns reservas interessantes e fez um enfrentamento de bom nível com o Grêmio fora de casa.

Ficha técnica
Campeonato Brasileiro 2014 - 6ª rodada
21/maio/2014
GRÊMIO 2 x BOTAFOGO 1
Local: Alfredo Jaconi, Caxias do Sul (RS)
Árbitro: Flávio Rodrigues de Souza (SP)
Público: 8.101
Renda: R$ 183.940,00
Gols: Zeballos 5 e Rodriguinho 43 do 1º; Maxi Rodríguez 35 do 2º
Cartão amarelo: Barcos, Alán Ruiz, Carlos Alberto, Gabriel e Emerson Sheik
GRÊMIO: Marcelo Grohe (5,5), Pará (6), Werley (5,5), Bressan (6) e Breno (6); Ramiro (5,5) (Zé Roberto, 34 do 2º - 6), Riveros (6), Rodriguinho (6) (Maxi Rodríguez, 30 do 2º - 6,5), Alán Ruiz (6) e Dudu (6) (Edinho, 39 do 2º - sem nota); Barcos (5,5). Técnico: Enderson Moreira
BOTAFOGO: Renan (6), Edílson (6), André Bahia (5), Bolívar (5,5) e Júnior César (5); Aírton (5), Gabriel (5,5) (Sassá, 37 do 2º - sem nota), Bolatti (6) e Carlos Alberto (6) (Gegê, 24 do 2º - 5,5); Emerson Sheik (5,5) e Zeballos (6) (Wallyson, 21 do 2º - 5). Técnico: Vagner Mancini

Comentários

Lique disse…
eu acho que justamente por causa dos seus dois jogadores de maiores qualidades, cazalberto e sheik, o botafogo tá com uma cara de time que vai cair.

aquele carrinho de sola carlos alberto no ruiz e a cotovelada do sheik no ramiro (revidando uma falta comum feita pelo volante, que irritou o emerson por que parou um contra-ataque) são absolutamente injustificáveis.

eu aposto num campeonato ruim do fogão, para tentar fugir do rebaixamento.

PORÉM, a atuação do juiz foi lamentável, no que diz respeito à aplicação dos cartões.
Lique disse…
aliás, emerson sheik conseguiu a proeza de agredir TRÊS ADVERSÁRIOS e um COLEGA (sobrou uma coronhada na orelha do carlos alberto naquela tentativa de agressão ao segurança gremista) e não foi expulso.
Vicente Fonseca disse…
Boníssimo argumento, meu caro. Citarei no Carta na Mesa, inclusive. Mas apesar do destempero deles, vejo no time condições de sair lá de baixo. Tem muito time que é bem pior que o Botafogo.
Chico disse…
Não pode mais rádio em estádio (ainda existem estádios?)

GRÊMIO X são paulo num sábado de noite...

O futebol piora cada vez mais. Está cada vez mais chato assistir a apenas um jogo. Nessas horas tenho inveja da 2 Divisão do Gauchão onde tudo é mais simples e sem frescura

Vicente Fonseca disse…
Essa é uma das proibições mais absurdas da FIFA para a Copa do Mundo. Ainda assim, das menos nocivas. Complicado.