Um triste coadjuvante em meio à emoção

O Botafogo não foi à Argentina. Na verdade, o time pouco deu as caras em 2014. Abdicou completamente do estadual, fazendo sua pior campanha em todos os tempos na competição. Na Libertadores, à exceção dos jogos contra Deportivo Quito e San Lorenzo em casa, não empolgou. Como disse Jorge Wagner ao final do jogo de Buenos Aires, a classificação foi perdida no Maracanã, com a derrota para a Unión Española. Era lá que a equipe deveria ter criado a gordura para levar ao Nuevo Gasometro, onde todos sabiam que as coisas iriam ser muito complicadas.

E de fato foram. A noite alvinegra foi absolutamente constrangedora. O começo não foi tão ruim porque o próprio San Lorenzo parecia nervoso, com dificuldade de criar chances. Nos primeiros minutos elas vieram no abafa, mas os quatro desfalques, em especial o centroavante Blandi, pesavam na mecânica ofensiva argentina. A equipe vivia de iniciativas individuais dos habilidosos Correa e Piatti, mas era pouco. Porém, repetindo o velho bordão, uma coisa que só poderia acontecer com o Botafogo mudou os rumos da noite: o erro de passe de Jorge Wagner, o chute de Villalba, o desvio em Júlio César, o gol.

Foi um nocaute. O Botafogo pensou o jogo como time pequeno. Tanto que, ao tomar o gol, ficou sem reação, sem saber o que fazer. Não foi preparado para buscar gols em Buenos Aires, mas evitá-los. Jorge Wagner já não tem a mesma intensidade de outros tempos, Wallyson esteve sem parceria, Lodeiro faz uma temporada apagada e Ferreyra, sem parceria, perece sozinho em meio aos zagueiros rivais. O time parecia batido e sem qualquer poder de reação mesmo precisando de um golzinho para se classificar.

O segundo tempo, com a improvável relação de paralelismo com Unión Española x Independiente del Valle, foi uma loucura. A disputa entre argentinos e equatorianos pela vaga foi gol a gol, minuto a minuto. Piatti fez o 2 a 0 que dava a vaga ao San Lorenzo quase ao mesmo tempo em que Angulo virava o jogo para o time de Quito em Santiago. O time do Papa apertou a pressão. E o Botafogo? Ficou constrangedoramente fora da disputa. Como um mero coadjuvante, levou o segundo gol e abdicou de qualquer chance de tentar o empate. Cada disputa de jogadores argentinos era como se fosse uma dividida contra alguém do Independiente del Valle, e não do Botafogo.

O time equatoriano fez 3 a 1, tomou a virada que classificava o San Lorenzo com folga, mas empatou e fez um incrível 5 a 4 de pênalti, obrigando a equipe argentina a partir para cima com tudo nos minutos finais. Bauza, vendo que o Botafogo não ameaçaria (principalmente após a saída de Wallyson), mandou seu time abandonar a defesa e partir com tudo para cima. Aos 41, Cavallaro pegou de primeira após cruzamento e mandou por cima. Aos 42, o fraquíssimo Mauro Matos chegou a driblar Jefferson e chutou com o gol vazio para fora. Aos 43, a redondinha caiu nos pés de quem tem qualidade: Piatti invadiu a área livre e decretou o 3 a 0. Aí, foi esperar agonicamente à beira do campo o fim da partida em Santiago para comemorar a classificação.

Em tempo:
- San Lorenzo é um possível adversário do Grêmio caso o Tricolor vença o Nacional nesta quinta. Isso ainda pode mudar, caso o vice-líder do Grupo 4, o do Atlético-MG, faça 8 pontos. Neste caso, o adversário pode ser Zamora, Santa Fé, Nacional-PAR ou Lanús. Tudo dependerá também do resultado do Santos Laguna em Sarandí contra o Arsenal. Se os mexicanos vencerem, o Tricolor terá a terceira melhor campanha em caso de vitória contra os uruguaios. E também pode pegar o San Lorenzo, ou qualquer desses outros, nesta hipótese.

FICHA TÉCNICA
Copa Libertadores da América 2014 - Grupo 2, 6ª rodada
SAN LORENZO (3): Torrico; Buffarini, Valdés, Gentiletti e Más (Navarro); Mercier, Ortigoza e Piatti; Villalba (Cavallaro), Matos e Correa (Elizari). Técnico: Edgardo Bauza
BOTAFOGO (0): Jefferson; Lucas, Bolívar, Dória e Júlio César; Aírton (Bolatti), Gabriel (Henrique), Lodeiro e Jorge Wagner; Wallyson (Fabiano) e Ferreyra. Técnico: Eduardo Hungaro
Local: Nuevo Gasometro, Buenos Aires (ARG); Data: quarta-feira, 09/04/2014, 22h; Árbitro: Juan Soto (VEN); Público: não divulgado; Gols: Villalba 28 do 1º; Piatti 8 e 43 do 2º; Cartão amarelo: Gentiletti, Piatti, Correa e Bolatti; Melhor em campo: Piatti; Nota do jogo: 8

NÚMEROS
Chances de gol: San Lorenzo 13 x 2 Botafogo
Finalizações: San Lorenzo 17 x 5 Botafogo
Escanteios: San Lorenzo 5 x 1 Botafogo
Impedimentos: San Lorenzo 3 x 0 Botafogo
Faltas cometidas: San Lorenzo 14 x 10 Botafogo
Desarmes: San Lorenzo 20 x 10 Botafogo
Passes errados: San Lorenzo 37 x 35 Botafogo
Posse de bola: San Lorenzo 57% x 43% Botafogo
Análise: logo se vê que o San Lorenzo dominou o jogo. O time argentino foi superior em praticamente todos os dados analisados. Dois dados mostram como o Botafogo foi frouxo: apenas 10 faltas cometidas e apenas 10 desarmes. É muito pouco para quem decide algo fora de casa na Libertadores.

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