Vergonha não, complicação sim

Cada vez mais, o Cruzeiro de 2014 repete o de 2004. Dez anos atrás, a equipe campeã brasileira com folga no ano anterior voltou das férias travada, sem conseguir deslanchar na Libertadores. Acabou eliminada nas oitavas, para o Deportivo Cali. Agora, Marcelo Oliveira simplesmente não consegue fazer um time com as mesmas peças render o mesmo que na campanha vitoriosa de 2013. O time mineiro repetiu erros de equipes como Internacional (2007), Corinthians (2013), Fluminense (2013) e até do rival Atlético agora: não se reforçou quase nada. É difícil mexer em times vitoriosos, mas necessário. A única contratação realmente mais interessante foi Marcelo Moreno. Como o time não depende tanto de individualidades, até pode dar a volta por cima. Mas a trajetória deste começo de Libertadores é preocupante.

O empate de ontem não foi uma "vergonha", como a exigente torcida cruzeirense gritou. Foi, sim, uma grande decepção, pelo gol sofrido no lance derradeiro da partida, mas convenhamos: o Defensor mereceu o empate. No primeiro tempo, o organizado time uruguaio raramente sofreu a pressão prometida pelo Cruzeiro antes do jogo. Trata-se de uma equipe catimbeira, claro, mas também qualificada. Gedoz e Arrascaeta, mais uma vez, mostraram enorme qualidade técnica. Não é à toa que desequilibraram a partida, tanto em Montevidéu como no Mineirão. Os quatro gols do Defensor nesses dois jogos passaram diretamente por eles (Gedoz fez três, simplesmente).

O gol de Éverton Ribeiro no fim do primeiro tempo foi maravilhoso em termos anímicos, pois fez finalizar em festa um primeiro tempo bastante tenso, logo após uma expulsão para cada lado. Seguiu-se o melhor momento mineiro no jogo, que foi do início do segundo tempo ao golaço de Júlio Baptista, que parecia definir a partida aos 17 do segundo. Só que aos 20 Gedoz varreu a defesa brasileira a dribles (Dedé esteve irreconhecível ontem, por sinal), descontou e recolocou os uruguaios no jogo. A reação rápida foi fundamental para o Defensor se manter vivo. Marcelo Oliveira mexeu errado, tirando Éverton Ribeiro em uma boa noite quando Ricardo Goulart era apenas medíocre. Aí, sem ninguém para segurar a bola, o Cruzeiro passou a ser controlado. Na base da pressão nos minutos finais, o time uruguaio empatou não só na raça charrua característica, mas na qualidade ímpar de Arrascaeta, que deixou Zeballos na cara de Fábio. Foi só fazer.

O resultado é trágico. O Cruzeiro não tem escolha: precisa vencer a Universidad de Chile em Santiago para se manter vivo. O time mineiro tem 4 pontinhos, contra 9 dos chilenos, 7 dos uruguaios e 3 dos peruanos do Real Garcilaso. Somente duas vitórias nas rodadas decisivas dão a classificação ao campeão brasileiro. Liderança? É muito difícil. A chance de o Cruzeiro, se passar, pegar um líder de grupo nas oitavas é muito grande. É o preço de uma campanha medíocre, mas chamar isso de vergonha ainda é um exagero.

E o campeão argentino? Também a perigo...
Não é só campeão brasileiro Cruzeiro que está a perigo na Libertadores. O atual campeão argentino, San Lorenzo, vive situação tão difícil quanto. Com a derrota para a Unión Española, a chance de eliminação passou a se tornar muito grande. O time do Papa Francisco tem 4 pontos e é o lanterna do grupo. Se não bater o Independiente del Valle no Equador, a chance de cair beirará a certeza.

Quanto ao Atlético Paranaense, a grande questão é vencer o Vélez em Curitiba na próxima rodada. A vantagem para o Strongest é de três pontos, mas os dois times se enfrentam em La Paz na partida que fecha o grupo. Seria bom chegar às alturas sem precisar do resultado.

As oitavas
Por enquanto, passadas quatro rodadas para todo mundo, nenhum time está matematicamente classificado e somente dois estão sumariamente eliminados: o Universitario peruano e o Nacional uruguaio. As oitavas, por enquanto, ficaram como consta abaixo. Notem os quatro brasileiros que estão passando estão todos acotovelados de um lado da chave.

Santos Laguna x Nacional-PAR
Botafogo x Atlético Paranaense

Grêmio x Unión Española
Atlético Mineiro x Arsenal Sarandí

Vélez Sarsfield x Emelec
Cerro Porteño x Defensor

Universidad de Chile x Deportivo Cali
León x Atlético Nacional

Comentários

Franke disse…
Estranha essa projeção de Segunda Fase sem River, Boca, Nacional ou Peñarol.
Unknown disse…
Interessante a análise do amigo Franke. Se formos mais longe, veremos que, entre os classificados, o que mais tem títulos de Libertadores é justamente o Grêmio.

E a maioria desses possíveis classificados não conseguiram levantar a taça em sua história. Apenas Grêmio, Atlético Mineiro, Vélez e Atlético Nacional, ou seja, 1/4 dos times das oitavas HOJE, conseguiram esse feito.

Para vermos como o torneio está equilibrado...