Aquele mero detalhe

Foram 22 chutes a gol, 17 oportunidades criadas, um punhado considerável de boas atuações individuais, jogadas que mostraram bom entrosamento ofensivo e poucos riscos defensivos sérios. O Grêmio teria todos os motivos do mundo para comemorar seu desempenho diante do Cruzeiro-RS, não fosse por um detalhe: essa superioridade toda não se transformou em gols, o que levou o jogo para um incompreensível 0 a 0 em Gravataí.

A chance perdida por Dudu sem goleiro, embaixo do gol, aos 26 minutos, já indicava que a noite não seria normal. Ainda assim, é injusto julgar a atuação do rápido atacante por este lance. Dudu mostrou novamente que tem qualidade para ser titular, e só não o é porque o time está bem encaixado no esquema 4-3-1-2. Foi liso nos dribles, inteligente nos tabelamentos e técnico ao servir os companheiros (seu toque de calcanhar para o chute seco de Alán Ruiz na trave foi uma pintura). Atuação quase completa. Quase, como tudo que se refere ao Grêmio no jogo de ontem.

O 4-3-3 gremista criou 17 oportunidades de gol em Gravataí
No fim do primeiro tempo, através de boas subidas de Wendell pela esquerda, Luan pela direita e as jogadas armadas por Dudu, o Grêmio já merecia sair com a vitória. A segunda etapa, então, transformou o 0 a 0 num escândalo. Barcos passou a entrar no jogo e levar perigo constante à zaga cruzeirista, sempre com giros rápidos e chutes poderosos, quase sempre defendidos pelo milagroso Fábio. A entrada de Alán Ruiz trouxe ainda mais poder de fogo ao time de Enderson. O argentino entrou aos 24, e nos 13 minutos seguintes participou de simplesmente quatro lances de perigo. Mas a bola, sempre ela, não entrou.

Há de se ressaltar a boa dose de sorte, mas também a grande dose de bravura do Cruzeiro, uma constante pedra no sapato da Dupla Gre-Nal que conseguiu milagrosamente segurar um empate diante de um Grêmio bem superior. Não se tratava de uma Copa do Mundo em termos de tabela para o time cruzeirista, que está praticamente classificado, mas empatar com um dos grandes é sempre simbólico. Quanto ao Grêmio, não vencer dois jogos seguidos pelo estadual evidentemente incomoda, mas é preciso ir além na análise: o desempenho, conclusões à parte, foi bastante satisfatório hoje, ao contrário da partida em Rio Grande. Que as bolas que não entraram hoje entrem na Libertadores, que é o que realmente importa.

O aviso do Zequinha
O time ultraofensivo de Abelão fracassou no Estádio do Vale. O primeiro tempo teve um São José melhor, sabendo se aproveitar do espaço concedido pelo esquema aberto demais do Inter e vencendo por 1 a 0 com justiça. A lesão de D'Alessandro complicou ainda mais as coisas e deixou claro que o time ainda depende dele em termos de criação. O segundo tempo colorado foi ainda aquém do esperado em termos de produção, mas o golaço de Rafael Moura salvou a noite. Bela participação de Alan Patrick e Wellington Paulista no lance, aliás. Mas o Zequinha deu o aviso: esse time não funcionará, pois é faceiro demais. Simples assim.

O verdadeiro golaço de Neymar
Neymar jogou demais, fez três gols, mas o seu verdadeiro golaço no Soccer City foi impedir que os seguranças do estádio levassem embora o menino que invadiu o campo para tirar fotos com a seleção brasileira. Um gesto simples que deu a uma criança um momento que ela guardará por toda a vida.

A seleção, aliás, foi muito bem. A África do Sul é fraca, mas não a ponto de levar 5 a 0 naturalmente. Fernandinho, com sua versatilidade e seu golaço, provavelmente carimbou sua vaga para a Copa. Felipão costuma recompensar quem aproveita as chances recebidas - ou alguém esqueceu como foi que nomes como Luizão, Edílson e Anderson Polga integraram a seleção pentacampeã em 2002?

França forte
Dos 51 amistosos realizados ontem, o de resultado mais chamativo foi a boa vitória da França sobre a forte Holanda, 2 a 0, duas seleções que jogarão aqui em Porto Alegre. A classificação heroica diante da Ucrânia pode ter dado força aos franceses num momento importante, perto do Mundial. A facilidade com que Portugal goleou Camarões, 5 a 1, também é digna de nota.

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