Amigo é para essas coisas

Se Grêmio e Nacional-URU são clubes amigos, esta amizade entre os tricolores gaúcho e uruguaio ganhou um novo capítulo ontem à noite, com a equipe charrua, repleta de reservas, arrancando dois inesperados pontos do Atlético Nacional no Grupo 6 da Libertadores. Quis o destino que o primeiro encontro entre os Nacionais uruguaio e colombiano na história da principal competição do continente fosse histórico por sua dramaticidade, circunstâncias atípicas e pitadas de heroísmo, que são os ingredientes que fazem da Libertadores o melhor e mais difícil torneio do futebol mundial.

Certamente nem Gerardo Pelusso esperava que o mistão do Nacional uruguaio conseguisse alguma coisa em Medellín. O fato de ter poupado titulares importantes, como Scotti, Prieto, Cruzado e Alonso já sinalizava que, mesmo que apenas duas rodadas do grupo da morte tenham sido transcorridas, o Bolso já havia desistido da Libertadores, ou ao menos a relegara a um segundo plano, já que o confronto de domingo, contra o Wanderers, vale a liderança do Campeonato Uruguaio. Mas as circunstâncias de um dos mais eletrizantes jogos de 2014 quase deram ao time charrua uma grande vitória em Medellín e pode até, quem sabe, tê-lo recolocado na competição continental.

3-4-3 colombiano nem chegou a ser colocado em prática
O jogo já começou com a expulsão de Bernal. Eram 25 segundos, o cartão vermelho mais rápido da história da Libertadores. Entrou por cima, de sola, como Ronaldinho diante da Inglaterra na Copa de 2002. A discussão se o cartão foi justo ou não rende assunto para um dia de bate-papo, mas duas coisas são certas: 1) o árbitro Marco Rodríguez teve grande coragem de apresentar o cartão vermelho nessas circunstâncias; e 2) a expulsão mudou a história do jogo. Ainda mais porque, logo aos três minutos, De Pena abriu o placar para o Nacional uruguaio.

Foram dois duros golpes que os colombianos tiveram dificuldades de assimilar. Juan Carlos Osorio perdia um dos meias do seu 3-4-3, mas não quis sacrificar nenhum atacante de largada, pois precisava do resultado. E quando seu time ameaçava reequilibrar o jogo, um buraco imenso na defesa causado pela ausência de Bernal resultou no passe perfeito de Calzada para Morro García fazer o segundo dos uruguaios. Só então o técnico sacou Ángel para remontar seu time com Valoy, e finalmente o time de Medellín partiu para cima com consistência. A diferença de um homem facilitava o trabalho uruguaio, pois a marcação tendia sempre a encaixar com facilidade. Para não perder a vantagem numérica, Pelusso espertamente sacou de campo o lateral Espino, amarelado, ainda no primeiro tempo.

No segundo, o Nacional-URU controlou ainda melhor as investidas colombianas. As boas atuações de Arismendi e Nacho González deixam claro que, com eles, o Bolso poderia ter encarado melhor seus dois jogos iniciais na fase de grupos. O problema é que o Nacional perdeu as poucas chances que teve de fazer o terceiro e definir a parada. A equipe era dominada quando sofreu o primeiro gol, aos 25, em cabeçada do zagueiro Bocanegra. E o Atanásio Girardot veio abaixo.

Porém, depois disso, não se viu o time de Medellín ter sequer uma chance clara de gol, embora estivesse sempre rondando a área uruguaia. Ao contrário, as melhores chances foram do Nacional-URU, mas Morro García as desperdiçou. E Bocanegra, num chutaço espetacular por cobertura, chegou ao empate aos 46, resultado que premia a abnegação dos colombianos, que souberam superar todas as dificuldades e conseguiram chegar ao empate de forma dramática. Um prêmio também à fantástica torcida da equipe da casa, que apoiou o time mesmo quando o empate parecia impossível. E a Mejía, que jogou por ele, Bernal e por todos os zagueiros que deixaram o setor defensivo nos 15 minutos derradeiros para virarem centroavantes. Partidaça, fazendo desde desarmes providenciais a lançamentos, sem falar no aspecto anímico, de liderança.

Ainda assim, o resultado é péssimo para o Atlético Nacional, e só as circunstâncias são capazes de minimizá-lo. Dava-se o Nacional-URU como morto, o que é sempre um erro, mas os próprios uruguaios pareciam não acreditar mais nas possibilidades do Bolso, e a própria ideia de Pelusso de priorizar o campeonato nacional favorecia essa interpretação. Ninguém havia perdido pontos para os charruas, ainda mais em casa. O empate não chega a fazer do Nacional um candidato à classificação, mas tendo dois jogos por fazer em Montevidéu a equipe uruguaia pode chegar à última rodada com 7 pontos, e portanto até possivelmente viva. Vencer os uruguaios em casa, portanto, facilitaria a vida do Atlético Nacional no Parque Central. Agora, o jogo pode ser uma espécie de última chance para os tricampeões, o que dá a ele um caráter decisivo que ninguém mais esperava. Grêmio e Newell's riem à toa com esse entrevero.

Fracasso em Montevidéu
Decepcionante a atuação do Cruzeiro no Luis Franzini, às belas margens do Rio de Prata, em Montevidéu. Não conseguiu se impor ao Defensor no primeiro tempo, mesmo tendo mais posse de bola e relativo controle do jogo. No segundo, viu os uruguaios perderem o medo de ir para cima, perdeu um pênalti de forma bisonha com Dagoberto, não soube aproveitar a superioridade numérica e tomou merecidos 2 a 0, com destaque para o gaúcho Gedoz, autor de dois golaços, e do meia De Arrascaeta, uma das maiores promessas que o futebol uruguaio revelou nos últimos anos. Seu lance que redundou no segundo gol é típico dos craques: dois chapéus seguidos em cruzeirenses e um lançamento primoroso. Gedoz dominou de chaleira e encobriu Fábio com categoria. Um dos gols do ano até agora.

A vitória da Universidad de Chile em Cuzco sobre o Real Garcilaso tampouco foi boa para o time mineiro, que ainda visitará os chilenos e por enquanto está em desvantagem. Devolver a vitória sobre o Defensor em Minas será fundamental, e marcar um pontinho que seja no Chile também, ou então a classificação pode estar a perigo.

Uma estreia difícil
O Remo nem na quarta divisão esteve em 2013, mas a estreia de hoje na Copa do Brasil é complicada para o Internacional. Trata-se de um adversário tradicional, que provavelmente terá um estádio lotado a seu favor, e o time vem fazendo um bom começo de ano. Alan Patrick ganhará uma chance, mas sem D'Alessandro o Inter não vence desde novembro de 2012. Pensar em eliminar o jogo de volta com uma grande vitória hoje não é exatamente uma possibilidade tão clara. Melhor deixar as barbas de molho.

Comentários

Sancho disse…
INJUSTIÇA! A dor! %$@^%@!!!

Sete pontos é bom, a atuação foi a melhor da Libertadores até o momento, mas agora vem as duas partidas fora que me deixam apavorados. Mas a classificação parece, seja tranqüila ou peleada, que virá.