Que sigam os trabalhos

No crime que é marcar um Gre-Nal para o começo de fevereiro, e num calorão de quase 40ºC, tudo saiu melhor do que a encomenda. O resultado do clássico deste domingo reflete o equilíbrio do jogo, não compromete o começo do trabalho de nenhum dos lados, e o melhor: não foi um empate amigo, covarde. Foi um Gre-Nal onde ambos buscaram a vitória sempre, e só mesmo a paridade de forças demonstrada em campo é que acabou por determinar o 1 a 1.

Numa daquelas peculiaridades típicas de Gre-Nal, cada time dominou um tempo, e cada time tomou gol quando jogava melhor do que o adversário. A etapa inicial foi azul, e com tons fortes, especialmente na primeira metade. A blitz do time de Enderson Moreira foi tal no começo que em 15 minutos já haviam sido quatro chances perdidas, uma delas um pênalti de Fabrício em Pará não marcado por Leandro Vuaden. Luan e Gilberto faziam um bom duelo de Gre-Nal, Edinho e D'Alessandro protagonizavam outro. Mas a superioridade tática era evidente, com o time mandante ocupando espaços no campo do rival, que raramente conseguia se desprender.

Talvez pela parada técnica, ou pelo calor, que impedia novamente que um jogo de intensidade se prolongasse por muito tempo, o fato é que após a parada para reidratação a partida mudou um pouco de figura e deu uma equilibrada. D'Alessandro não assumiu o jogo, mas Aránguiz sim. Foi com ele que a equipe colorada começou a trocar passes com mais tranquilidade, evitando que o rival chegasse próximo à área. Tanto que a melhor chance gremista foi um chutaço de Edinho defendido maravilhosamente por Muriel. Mas nada que justificasse uma vitória, como acabou ocorrendo, em falha de marcação de Pará, que viu Fabrício ingressar livre por suas costas e marcar o gol que surpreendia a todos naquele momento.

No 1º tempo, 4-3-1-2 do Grêmio se impôs ao 4-1-4-1 do Inter
O gol no fim da etapa inicial fez muito mal ao Grêmio, que mesmo com o intervalo todo para se recompor, voltou desarticulado. Na primeira jogada do segundo tempo, Rafael Moura quase ampliou. Zé Roberto e Ramiro tiveram oportunidades a seguir, Fabrício teve outra na sequência, mas só o começo da etapa final foi intenso. Depois dos 10 minutos, as condições climáticas e o curto preparo físico de duas equipes em começo de ano parecem ter colaborado para um clássico modorrento e arrastado, o que favorecia ao Inter. Aí sim, D'Alessandro entrou no jogo, comandando trocas de passe no campo de ataque. Parecia que o Grêmio jamais conseguiria o empate, pois o Colorado administrava o resultado com muita naturalidade.

A lógica só mudou a partir da entrada de Jean Deretti, que mais uma vez entrou e melhorou muito o Grêmio. Foi através de lances individuais do rapaz que o Tricolor se animou e voltou a carga, até que Paulão cometeu a bobagem que resultou no pênalti, convertido com categoria por Barcos. O Inter tentou uma pressão no fim, mas faltou objetividade. Foi esse, aliás, o grande problema colorado no Gre-Nal: muito toque de bola, às vezes no campo de ataque, mas pouca força ofensiva. Foram 13 arremates, contra só 6 do Grêmio, mas não se enganem: a maioria dos chutes foram fracos, sem perigo, de longe. Em termos de oportunidades de gol, o clássico foi rigorosamente igual: 7 chances para cada lado.

O Grêmio mostrou que pode realizar pressões iniciais com força mesmo diante de adversários de nível semelhante. Os primeiros 15 minutos escancararam a fragilidade defensiva que ainda acomete a equipe de Abel Braga - ele levará um tempo para corrigir isso. A equipe de Enderson Moreira tem alternativas para mudar o jogo, tem jogadores de velocidade para isso, mas segue refém dos três volantes. Riveros não foi mal, longe disso, mas o sistema tático desfavorece Zé Roberto. Será preciso achar uma alternativa para que o time não seja uma repetição de 2013, mas o supere. A trinca de centromédios é boa para iniciar um jogo em determinadas circunstâncias, mas quando o time precisa buscar o resultado ela trava as ações ofensivas. O problema dos passes errados, um dos defeitos do time de 2013, se repetiu com este esquema. É preciso buscar este equilíbrio tático.

Mas se o empate não fica de mau tamanho para quem ficou atrás no placar em boa parte do tempo e estreia na Libertadores quinta-feira, para o Inter também não ficou, apesar de a vitória ter escapado a 15 minutos do final: o time de Abelão jogou melhor em metade do Gre-Nal, mostrou um ótimo toque de bola e ultrapassagens de laterais bem interessantes. Fabrício, ponto fraco do time em 2013, teve boa atuação, bem como Gilberto, que se revelou um bom marcador. O meio de cinco baixinhos mostrou que sabe tocar bem a bola, e talvez essa manutenção da posse de bola ofensiva seja a melhor forma deste Inter aberto e faceiro se defender daqui para a frente, já que faltam marcadores de verdade nesse meio. O Gre-Nal nunca é parâmetro, por ser um jogo diferente de todos, ainda mais em começo de ano. Mas ajudou a fornecer pistas interessantes para Enderson e Abel.

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