O pior investimento

O Internacional errou ao contratar Ignacio Scocco? Não. Seria de um oportunismo bárbaro dizer isso agora. Mas uma coisa é certa: não há momento menos propício para buscar um jogador do que aquele em que finaliza uma grande competição na qual ele se destaca. É o momento no qual ele está mais valorizado (muitas vezes sobrevalorizado) e no qual o clube que contrata mais espera dele, pois supõe-se que esteja no seu auge técnico.

Lembram do lateral italiano Fabio Grosso após a Copa de 2006? Aproveitou o tetra da Azzurra para trocar o modesto Brescia pela Internazionale, por alguns milhões de euros que nunca valeu pela bola que joga. Ou então Diego Forlán, que saiu da Copa de 2010 valendo muito mais do que antes dela, e muito mais do que um jogador de 31 anos deveria custar. Erro, de novo, da Internazionale, que o buscou do Atlético de Madrid. Há diversos casos semelhantes: Kleberson, Anderson Polga, Hagi... Alguns com mais, outros com menos talento, mas todos casos de supertransferências após competições de grande vitrine que não compensaram o investimento, por um motivo ou outro.

Scocco, guardadas as proporções mundialistas dos casos acima, foi mais um exemplo. Sua Libertadores pelo Newell's não foi uma exceção: no clube de Rosário, ele vinha jogando bem há bastante tempo. Teve boas passagens por todos os clubes que passou, um indicativo de que tinha boa chance de dar certo. Só que a compra veio na hora em que ele mais caro custou em toda a sua carreira. O Inter pagou U$ 6,5 milhões por não ter observado o jogador antes de ele estourar na Libertadores. Gastando muito, como gastou, a margem de paciência diminui bastante, pois a expectativa aumenta na mesma proporção que o dinheiro gasto. A responsabilidade aumenta, com ela a pressão. Mesmo quem parecia tender a ter problemas de adaptação pode sentir.

O mais decepcionante nessa história toda é que, além de caríssimo, Scocco foi trazido no meio do ano. Como Forlán em 2012, era normal começar com dificuldades, mas talvez crescer no ano seguinte. 2014 poderia ter sido o ano do argentino no Beira-Rio: mais adaptado, trabalhando desde o início da temporada com os colegas. Scocco não teve essa chance - não por culpa do Inter, mas dele mesmo. Sua postura pouquíssimo séria nestes últimos meses não batem com o histórico de profissionalismo dos jogadores argentinos.

Tinha tudo para dar certo, mas deu muito errado. E o alto gasto feito para trazê-lo só aumenta o tamanho da decepção. Scocco foi um dos piores investimentos feitos pelo Internacional em todos os tempos. Culpa de uma direção que gasta caro porque não tem criatividade ao contratar e só faz o óbvio, quando poderia, com uma observação mais bem feita do mercado sul-americano, trazer alguém mais jovem, barato e em crescimento técnico. Culpa do planejamento errado feito pelo futebol do clube, que insiste em gastar mais na janela de agosto que na de janeiro. E culpa de Scocco, claro. Forlán, que tem carreira imensamente superior, nunca reclamou de ficar na reserva - e olha que até Rafael Moura já o deixou no banco nesse tempo.

Comentários