Mais um Brasileirão chega ao fim

Termina hoje um Campeonato Brasileiro de mudanças. É o primeiro Brasileirão com as modernas arenas, que elevaram a média de público geral de 14 mil para 16 mil, mas isso não deve ser comemorado. Foi um aumento muito pequeno diante do que se esperava, por motivos bastante claros: valores de ingressos completamente fora da realidade, especialmente no que diz respeito ao Maracanã e ao Mineirão. Quem vê a torcida do Cruzeiro lotando estádio para comemorar o título de seu time não pode esquecer que até setembro, pelo menos, só se via gente atrás das goleiras do Mineirão, porque os lugares ao centro eram caros demais. Talvez após a Copa a euforia passe e os administradores de estádios voltem à realidade. As pessoas têm vontade de ir a jogos em canchas melhores, mas não a qualquer preço.

Foi um Brasileirão de calendário mais uma vez espremido. Nunca tantos jogos ocorreram em tão pouco tempo. Na prática, as 38 rodadas foram disputadas em um minúsculo intervalo de cinco meses e meio, já que a Copa das Confederações diminuiu em um mês o período para a realização das partidas. Felizmente, o absurdo teve reação, e os jogadores tomaram as rédeas da discussão, criando o Bom Senso FC. Se a torcida respondeu ao abusivo preço dos ingressos deixando os melhores lugares dos estádios às moscas, os atletas cruzaram os braços, protestaram a até ameaçaram paralisar o campeonato por conta dos desmandos da CBF. Talvez herança das manifestações de junho, que despertaram em muitos o poder de mobilização para mudar o que antes parecia imutável. Guardadas as devidas proporções, claro.

Infelizmente, é mais um Brasileirão que termina com um campeão conhecido muito antes do tempo. Já havia sido assim em 2003, 2006, 2007 e 2012. Em 11 anos de pontos corridos, cinco campeonatos foram decididos antes da hora. É uma boa média se compararmos à Europa (54,5% dos títulos são decididos aqui na última rodada), mas se em 2014 tivermos novamente um time disparando desde o início novamente surgirá a ideia de que a fórmula não é a ideal - do ponto de vista esportivo, já que do econômico é, sim.

Ainda assim, 12 equipes chegam à última rodada com interesse direto de tabela, considerando que Inter e Portuguesa ainda podem matematicamente ser rebaixados. É um bom número, ainda que 40% dos times joguem hoje por laranjas. A iniciativa de acabar com a rodada de clássicos no último domingo do ano, que se mostrou acertada em 2011 e 2012, foi abandonada pela CBF, algo que poderia ser repensado. Se os jogos de hoje fossem Atlético Mineiro x Cruzeiro, Grêmio x Inter, Atlético Paranaense x Coritiba, Botafogo x Fluminense, Flamengo x Vasco, Bahia x Vitória, Santos x Portuguesa, Corinthians x São Paulo, Goiás x Náutico e Ponte Preta x Criciúma teríamos, é verdade, um clássico paulistano bem esvaziado, mas também um Atle-Tiba eletrizante e dois jogos dramáticos no Rio, fora um belo clássico mineiro que fecharia a temporada brilhante dos dois grandes de Minas. Na tabela acima, o número de equipes com interesse de tabela subiria para 13 - não muito, mas já maior, e com rivalidades em campo.

Sobre as brigas de hoje, acredito na classificação de Atlético Paranaense e Goiás à Libertadores e no rebaixamento de Vasco e Coritiba. Ao contrário da grande maioria, tenho o palpite de que o Fluminense se salva. Enfrenta um Bahia aliviado pela fuga e sem grandes objetivos, enquanto o Coritiba visita o São Paulo (o Coxa só ganhou uma vez fora de casa em 18 jogos) e o Vasco pega um Furacão querendo Libertadores. O jogo do Flu é o mais fácil. Mas claro, é mero palpite. Se não há briga por título, nem clássicos cheios de rivalidade, as brigas por Libertadores e rebaixamento, com chances de dois grandes caírem, dão um molhinho interessante a este domingo de despedida.

Em tempo:
- Fim melancólico da Era Tite. A derrota de 1 a 0 para o Náutico encerra um Brasileirão decepcionante do Corinthians e evita que o Timbu tenha a pior campanha da história dos pontos corridos. Foram ridículos 20 pontos, número ainda superior aos 17 do América-RN de 2007.

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