Guia para acompanhar o sorteio da Copa

Claro, acompanhamos as eliminatórias. Mas o sorteio dos grupos é o que realmente começa a trazer o clima de Copa do Mundo para dentro de casa. Hoje, no Costa do Sauípe, após os shows e discursinhos cansativos de sempre (dá tempo de sobra para preparar o mate), serão respondidas as perguntas que realmente interessam, do ponto de vista esportivo: quem pega quem na fase de grupos? Qual será o grupo da morte? Quem joga em qual cidade? Quem pode pegar quem nas oitavas de final?

É sempre um momento mágico, de projeções, em que a imaginação se abre por seis meses até que a bola role de forma definitiva. Por isso, o Carta na Manga abre sua extensa cobertura da Copa do Mundo (já realizamos uma das maiores da internet de forma independente em 2010) com este miniguia para acompanhar o sorteio dos grupos. Não se trata de um passo a passo, isso é facilmente verificável aqui, por exemplo. O objetivo é saber se é bom negócio enfrentar tal adversário ou não, se ficar nesta ou naquela chave é bom negócio do ponto de vista georgráfico, enfim. Ir além do óbvio, como sempre tentamos fazer por aqui.

Em 2010, nossa cobertura pré-Copa, de fevereiro a junho, englobou textos sobre os craques que fizeram a história do Mundial, os jogos inesquecíveis, as grandes seleções que nunca ganharam nada e a saga brasileira Copa a Copa, de 1930 a 2006. Agora, com o Mundial sendo realizado aqui no Brasil, evidentemente não deixaremos por menos. No começo de janeiro explicaremos nosso calendário de textos. A Copa do Mundo, aqui, sempre começa bem antes. Palavra de honra!

OS CABEÇAS DE CHAVE
Quem vê a lista de cabeças de chave estranha a presença de Bélgica, Colômbia e Suíça na lista. O critério utilizado pela FIFA é justo: seu ranking mensal, tomando como base a classificação de outubro. Não estranhe a presença destas três seleções, que nunca sequer participaram de uma final de Copas - os belgas, no máximo, acabaram em 4º no México, em 1986: a tradição não tem peso no Ranking da FIFA, mas os resultados das últimas quatro temporadas, com peso ponderado maior para a última. O ranking do Carta para clubes brasileiros segue procedimento parecido. Bélgica, Colômbia e Suíça, todas, têm bons times atualmente. Ainda assim, é estranho ver a Holanda, atual vice-campeã mundial e com campanha avassaladora nas eliminatórias, fora do grupo das oito melhores equipes do mundo. O desequilíbrio técnico é evidente.

DOIS EUROPEUS NO CAMINHO
A Copa de 2014 terá seis seleções sul-americanas, um recorde. Quatro delas são cabeças de chave, algo que não ocorria desde 1962. E uma delas enfrentará dois europeus na fase de grupos. Isto porque uma seleção europeia do Pote 4, que tem nove seleções, integrará o Pote 2, que reúne sul-americanos e africanos, por sorteio. As outras três seleções sul-americanas enfrentarão um africano, um europeu e um asiático/norte-americano. Ser o sul-americano que enfrentará dois europeus não é garantia de caminho mais difícil, porém.

AS PEDREIRAS DA VEZ
Excluindo o europeu que pode integrar o Pote 2, já que ele será definido na hora, o Chile é sem dúvida o melhor time deste grupo de seleções. Treinados pelo argentino Jorge Sampaoli, campeão da Copa Sul-Americana de 2011 com a Universidad de Chile, os chilenos têm a seleção que joga, atualmente, o futebol mais vistoso do nosso continente, contando com individualidades brilhantes e um sistema de jogo entrosado e envolvente, que recentemente deu trabalho ao Brasil, bateu o Uruguai e a Inglaterra, esta em pleno Wembley. Dentre os africanos, destaca-se a atual campeã continental Nigéria, que embora não tenha tido destaque na Copa das Confederações tem a seleção mais sólida dos últimos 15 anos. Costa do Marfim e Gana também têm boas equipes.

No Pote 3, o México é a equipe de mais tradição, mas passou por diversos percalços nas eliminatórias. Quase ficou de fora para o fraco Panamá, trocou de técnico três vezes e passou voando pela Nova Zelândia com uma equipe que provavelmente não disputará a Copa, já que foi formada exclusivamente por jogadores que atuam nos próprios clubes mexicanos. Os Estados Unidos, hoje, têm uma equipe bem mais consolidada e bem treinada. Dentre os asiáticos, o Japão é sem dúvida o melhor time.

AS PEDREIRAS DE SEMPRE
Com o critério de utilização do ranking, várias grandes seleções europeias acabaram não se tornando cabeças de chave. Com isso, a chance de termos grupos com duas ou até três grandes seleções é enorme. Nada menos que cinco equipes de tradição compõem o Pote 4: Inglaterra, Itália, França (três campeãs mundiais), Holanda (atual vice) e Portugal. Estas equipes podem cair em qualquer chave, tanto nas de cabeças sul-americanos quanto nas dos europeus. Das duas uma: ou formarão um grupo da morte com os cabeças de tradição ou serão favoritas nos grupos dos cabeças não tão famosos.

AS FALSAS BARBADAS
É claro que pegar a Bósnia é melhor do que enfrentar Holanda, Itália ou Inglaterra. Ainda assim, é preciso ter cuidado: mesmo sendo sua primeira Copa do Mundo, a ex-república iugoslava passou fácil pelas eliminatórias, com algumas goleadas. A verdade é que no pote europeu não tem galinha morta. A Rússia é outra pedreira complicada, vivendo momento superior às mais badaladas França, Inglaterra e Portugal, por exemplo. O time mais fraco deste grupo é a Grécia, ainda assim uma seleção que adquiriu certo respeito por causa do título europeu em 2004.

No Pote 3, enfrentar a Costa Rica parece ser sinônimo de bom negócio, mas a equipe da América Central, hoje, tem um time bem mais confiável que o México, tido como bicho-papão do continente. As seleções asiáticas é que não metem tanto medo (grande novidade!): o Japão, melhor time da região, foi mal na Copa das Confederações. A Coreia do Sul fez uma eliminatória apenas suficiente para se classificar e a Austrália tem dado fiasco nos amistosos recentes. A zebra pode ser o Irã, ainda assim um time pouco empolgante.

GRUPOS DA MORTE
Sempre há ao menos um grupo considerado difícil na fase de grupos. A chance de ser eliminado de cara aumenta, mas por outro lado, passando, a seleção já passa por um teste de fogo e chega experimentada para os mata-matas. 

Para seleções sul-americanas, que não podem enfrentar o Chile por questões geográficas de regulamento, um grupo com Inglaterra, Estados Unidos e Itália, por exemplo, seria terrivelmente complicado. Ou então, com França, México e Holanda. Para seleções europeias, a combinação pode ser Chile, Estados Unidos e Holanda, Itália, França, Inglaterra ou Portugal. Bota dificuldade nisso.

GRUPOS DA SORTE
Pegar a Argélia, seleção africana mais fácil dentre as que se classificaram, é o sonho de consumo de todos os cabeças da Copa. O Irã é outra bola de segurança, bem como Honduras (embora de boa campanha, tem tradição quase nula). Dentre as seleções europeias, a Grécia é a de menor força atualmente. Argélia, Irã e Grécia é a melhor combinação possível se o objetivo é passar com tranquilidade pela etapa inicial - todos os oito cabeças podem ser agraciados com esta combinação.

SORTE GEOGRÁFICA
Num torneio de tiro curto em uma sede de dimensões gigantescas, o aspecto físico conta bastante. E nada cansa mais do que uma longa viagem. Abaixo, os países que mais e menos precisarão viajar na primeira fase da Copa do Mundo.

G4: ninguém terá viagens mais longas. Como ao menos o cuidado de evitar trechos entre Porto Alegre e Manaus foi tomado, as aventuras da capital do Amazonas a Natal e Recife ficaram com o título de mais longas da Copa (nem a Curitiba a distância é tanta). Quem cair nesta posição fará exatamente estes dois trechos, que totalizam 5.598 quilômetros. O segundo país que mais viajará, o A4, fará quase mil quilômetros a menos.

H1: quem for o cabeça de chave do Grupo H se dará bem. Serão duas pontes aéreas: primeiro de Belo Horizonte ao Rio, e depois do Rio para São Paulo. Apenas 692 quilômetros.

Brasil: ser país-sede não deu ao Brasil a vantagem de viajar menos. A seleção fará 4.055 quilômetros em suas duas viagens na fase de grupos - primeiro, de São Paulo a Fortaleza, depois de Fortaleza a Brasília. Só cinco seleções viajarão mais que o Brasil - duas delas no seu grupo, o A2 (5.153) e o A4 (4.697). O A3 se deu bem: fará apenas 1.064 quilômetros, quatro vezes menos que a seleção canarinha.

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