Equilíbrio dentro, desequilíbrio fora

O resultado do sorteio dos grupos da Copa do Mundo é fruto do critério que definiu os cabeças de chave. Com exceção da chave da Argentina, que é realmente mais tranquila que as demais, todos terão suas dificuldades. Mas isso não quer dizer que a distribuição foi bem feita. Ao contrário: há muito equilíbrio, mas em vários grupos ele se dá por cima, e em outros por baixo.

Grupo A: velhos conhecidos
O Brasil estreia contra a Croácia, como em 2006. Pegará três adversários razoáveis, todos velhos conhecidos em Copas. Nenhum jogo é fácil, mas a classificação é quase certa. Os croatas têm uma seleção com alguns nomes conhecidos, como Mandzukic. Os mexicanos, assim como em 1950, enfrentam a seleção canarinha na fase de grupos. Já foram algozes do Brasil em algumas oportunidades, mas hoje estão longe de dar medo. Camarões é um caso semelhante: não está entre as melhores equipes africanas do momento, mas já enfrentou o Brasil em 1994 e tem certa tradição. O Brasil deve passar, México e Croácia brigam pela segunda vaga e Camarões corre por fora, mas com chances.

Grupo B: a final reprisada
O terceiro jogo da Copa do Mundo será uma reprise da final de 2010. A Espanha deu azar: além de pegar a fortíssima Holanda, que estranhamente não foi escolhida cabeça de chave, enfrentará o perigoso Chile, que já aprontou recentemente com a própria Fúria, ao empatar em 2 a 2. Por fim, há a Austrália, que é o azarão do grupo. Lembrando: o vice-líder deste grupo deve pegar o anfitrião nas oitavas. Já pensaram num Brasil x Espanha ou Brasil x Holanda já nos primeiros mata-matas? A seleção pentacampeã teve até sorte hoje, mas só no que diz respeito ao seu grupo.

Grupo C: nivelado por baixo, parte 1
Uma das chaves mais equilibradas, mas de jogos pouco chamativos. A Colômbia deu sorte de não pegar nenhum europeu forte e tem o melhor time da chave. A Costa do Marfim é a segunda seleção mais forte em teoria, com boas chances de seguir até às oitavas. Japão e Grécia, porém, não chegam a ser galinhas mortas. O complicado vai ser encarar Uruguai, Itália ou Inglaterra nas oitavas.

Grupo D: três campeões e alguns absurdos
Inglaterra x Itália em Manaus é um acúmulo de erros. Não é jogo para fase de grupos, e Manaus não deveria ser sede da Copa do Mundo. O Grupo D é o primeiro na história a reunir três seleções já campeãs do mundo. Chave dificílima, mas o cruzamento com o fraco Grupo C deve tornar as oitavas um pouco mais amenas. Entre ingleses, italianos e uruguaios, a Costa Rica, surpreendente seleção da Concacaf e desde já candidata a atrapalhar a vida dos favoritos. Classificação? Já é mais difícil.

Grupo E: o falso cabeça
A Suíça é a cabeça de chave oficial, mas é a França a seleção com cara de mandante deste grupo. É uma chave bem distribuída: favoritismo francês, briga entre suíços e equatorianos pela segunda vaga e Honduras como zebra.

Grupo F: a sorte dos hermanos
A Argentina já deu tanto azar em sorteios anteriores (1958, 1978, 1986, 1990, 1994, 2002, 2006) que merece a chave que recebeu para jogar no Brasil. Pegar a Bósnia, time europeu mais fraco, e o Irã,o asiático mais fraco, é o que todos queriam. Para completar, uma pedreira: a Nigéria, velha conhecida da Olimpíada de 1996 e das Copas de 1994, 2002 e 2010.

Grupo G: vida dura para a Alemanha
A Alemanha não pegou um grupo da morte, mas terá vida duríssima na fase inicial. Na estreia, Portugal de Cristiano Ronaldo; a seguir, Gana, adversária em 2010 e uma das melhores equipes africanas; fechando a conta, os Estados Unidos, equipe mais difícil do Pote 3 do sorteio (sim, os americanos hoje são superiores ao México). Ainda assim, a tricampeã deve passar. A briga pela vice-liderança é que será de foice no escuro.

Grupo H: nivelado por baixo, parte 2
Nenhum time deu mais sorte hoje que a Bélgica, nem mesmo a Argentina. O grupo belga é fraco e ela será a seleção que menos viajará (692 km, de BH ao Rio e do Rio a SP). A Rússia deve disputar com os belgas a liderança do grupo, com a Coreia do Sul à espreita, mas correndo por fora. A Argélia é a zebra.

Rumo às oitavas
- Provável líder do Grupo A, o Brasil poderá pegar Espanha ou Holanda de cara no primeiro mata-mata. O Chile, boa seleção, é uma possibilidade que também existe.

- O difícil Grupo D terá vida mais mansa nas oitavas. Colômbia e Costa do Marfim têm ótimas seleções, mas enfrentar Uruguai, Itália ou Inglaterra em uma Copa é dureza.

- Se bobear no Grupo E, a França deve encarar a Argentina nas oitavas - isso se os hermanos não bobearem também.

- Mesmo que o Grupo H não tenha potências, a Alemanha deve seguir enfrentando dificuldades nas oitavas, caso passe e pegue Bélgica ou Rússia.

- Brasil x Argentina na final? É possível, desde que ambos terminem nas mesmas posições de seus respectivos grupos. Brasil x Espanha só ocorrerá se uma das duas equipes não for líder de sua chave. O que é possível, dada a pedreira em que se meteram os campeões do mundo.

Comentários

Sancho disse…
Na de 1982 teve Brasil, Argentina e Itália.
Mas esse triangular foi definido por sorteio? Ou a classificação pra segunda fase já definia essa possível formação?
Vicente Fonseca disse…
É a primeira vez que na fase de grupos isso ocorre. Em 1982 foi na segunda fase.
Sancho disse…
Falei porque nem sempre a Fase de Grupos foi só a primeira: em 1950, só houve "fases de grupo"; em 1978 e 1982, houve duas fases de grupo. Essa estrutura com uma fase de grupos seguida com finais a partir das oitavas, começou apenas em 1986 e se mantém desde então.

Ainda assim, apenas em 1982 é que houve um grupo com três campeões mundiais (antes de 2014, claro). Afinal, a lista é pequena.

Eis quando os times ingressaram no clube:

1924 - Uruguai
1934 - Itália
1954 - Alemanha
1958 - Brasil
1966 - Inglaterra
1978 - Argentina
1998 - França
2010 - Espanha
Sancho disse…
Aqui, todos os formatos já utilizados:

http://www.fifa.com/mm/document/fifafacts/mcwc/ip-201_04e_fwc_formats_slots_8821.pdf
Vicente Fonseca disse…
Muito legal esse documento, Sancho.

Uma coisa que notei pesquisando pra outro post é que os grupos mais equilibrados eram os das Copas de 1982 a 1994. Raramente havia um grupo muito mais forte que os demais ou disparidade técnica gritante entre os componentes de uma mesma chave. Mais um fator que me faz pensar que o ideal para uma Copa é ter 24 seleções, e não 16 ou 32.