A "galinha morta" que derrotou o Galo



Nunca o termo "galinha morta" foi tão mal utilizado e de forma tão irônica num jogo futebol como neste entre Raja Casablanca e Atlético Mineiro. Porque galinha morta o Raja nunca foi, e provou isso dentro de campo. Se for, nessa rinha deu galinha, e caiu o Galo, o segundo sul-americano a ser eliminado antes da final de um Mundial Interclubes.

O menosprezo ao Raja não se deu por parte do Atlético Mineiro, mas sim por alguns setores da imprensa que avaliaram mal o adversário do Galo. Falamos isso aqui ontem mesmo, e no Carta na Mesa de segunda-feira: este era o enfrentamento mais difícil da história para uma equipe brasileira na primeira fase do Mundial, ao menos teoricamente. Afinal, o Marrocos é um país com certa tradição no futebol. Seu campeão não pode ser tão débil a ponto de comentaristas se surpreenderem quando a equipe troca dois passes certos no campo de ataque. Isso caberia ao Taiti na Copa das Confederações, não a um time marroquino, jogando no Marrocos.

É verdade que o Raja Casablanca não apresentou algo próximo de bom futebol contra Auckland City e Monterrey, e que o Atlético era o favorito. Mas as dificuldades eram previsíveis. A partida foi toda equilibrada. Claro que a façanha marroquina foi possível, também, graças à má atuação do time de Cuca. Diego Tardelli, que falou muito antes do jogo, fez pouquíssimo dentro dele. Ronaldinho foi completamente omisso no primeiro tempo. Fernandinho conseguia causar transtornos à zaga, mas Jô tropeçava na bola. Para completar, Marcos Rocha tinha boas subidas, mas abria grandes espaços aproveitados por Hafidi e Chtibi.

O primeiro tempo já terminara com domínio do time africano, para espanto de todos os que desdenharam de suas possibilidades. No segundo, o Galo tentou partir para a pressão com mais força, mas seguia ineficaz na frente e abrindo espaços cada vez mais generosos atrás. Num desses contragolpes, armado com qualidade de time que sabe jogar futebol competitivo, Hafidi deixou Iajour livre para fazer 1 a 0. Nos dois minutos seguintes, mais espaços pintaram em lances idênticos, às costas de Lucas Cândido. Um deles, um gol bem anulado pela arbitragem. Ficava claro que as coisas não seriam tão simples.

Até que Ronaldinho empatou de falta. Com o gol, o pensamento mágico de que a porteira se abriria pintou na cabeça de muitos, mas não foi isso o que aconteceu. O Raja Casablanca, jogando como time da casa, se impôs de novo. A partida seguiu equilibrada até o (muito) discutível pênalti de Réver em Iajour, convertido por Moutouali com categoria. Eram 37 minutos do segundo tempo. O desespero tomou conta de vez, e aquele Galo criativo dos tempos de Libertadores simplesmente inexistiu. O terceiro foi o da pá de cal, com toques de humilhação.

A desclassificação do Galo não era esperada, mas também não se pode dizer que é uma zebra do tamanho da que o Mazembe aprontou para o Inter há três anos, por exemplo. Primeiro, porque aquela foi uma novidade, a primeira vez que um sul-americano caía antes da final. Segundo, porque o Raja Casablanca de hoje é bem melhor que aquele Mazembe de 2010, e tinha o fator local a seu lado. Terceiro, porque a trajetória do Galo em boa parte da Libertadores foi a de recuperar em casa resultados ruins obtidos fora. Foi assim contra Newell's e Olímpia, mas havia o jogo de volta. Foi assim hoje, contra o Raja Casablanca, que jogou em casa. Mas, infelizmente, não há segundo jogo no Horto ou no Mineirão desta vez.

Em tempo:
- Alecsandro desclassificado duas vezes seguidas nas semifinais do Mundial. Provavelmente fará três gols contra o Guangzhou e se gavará de ter sido o único jogador no mundo a ser artilheiro de dois clubes diferentes em Mundiais.

- Iajour foi o destaque, fazendo um gol e cavando um pênalti, mas Moutouali, outro de excelente atuação, é o destaque do Raja Casablanca. Ótima visão de jogo, liderança e boa técnica. Jogador bem interessante.

- E a Copa de Enquetes chega às semifinais, só com equipes de tradição. Quem serão os finalistas? Vote até segunda-feira!

Comentários

Diogo Terra disse…
Mais um tapa na cara da arrogância ufanista do futebol brasileiro. Coisa pior vem aí ano que vem, se ninguém controlar o oba-oba...
Lourenço disse…
Sem querer fazer alusão ou comparação com Inter e Mazembe, não classifico o feito do Galo como um fiasco, apenas uma grande decepção. O fator local faz toda a diferença, é um elemento que raramente está presente nessas competições. Não gosto de time de país sede participando, mas como questionar eventual título do Raja, se tirar Atlético e Bayern.
E que bucha do Ronaldinho, infelizmente.