A cara dos novos tempos

Enderson Moreira é uma aposta no novo, num momento em que o futebol brasileiro está se dando conta de que pagar salários milionários para figurões (na casamata ou no campo) não vale mais à pena nem é garantia de bons resultados. É o que faz o Grêmio: aposta num técnico novo, emergente, que notabilizou sua carreira profissional como um revelador de talentos. Caberá a este mineiro de 42 anos a tarefa de conduzir este processo num momento delicado do clube financeiramente falando. Se dará certo ou não, só Deus sabe.

Não há ainda como definir um time "com a cara de Enderson". Não é culpa dele, mas de sua curta trajetória em equipes de ponta. No Goiás, formou um time com velocidade, algo que faltou ao Grêmio nos últimos três anos. É o vestígio que temos de seu pensamento sobre futebol. Também era uma equipe de um centroavante que recuava para armar jogadas, mas não se furtava de jogar mais dentro que fora da área. Se Walter teve sucesso em 2013, talvez olhando por este lado Barcos possa ter em Enderson um orientador interessante para ter um 2014 melhor.

Enderson vem ao Grêmio por estes dois motivos principais: ser emergente (e portanto barato em comparação com medalhões) e ser um técnico que valoriza as categorias de base e sabe promover jovens. Mas é também um técnico que teve problemas de vestiário no Inter B de 2011. Por isso, um nome com discurso mais forte, como Gilmar dal Pozzo, me agradaria mais ver no comando do Tricolor em 2014. É um técnico que conhece a realidade gremista melhor, sabe o estilo de jogo que agrada ao ideário tricolor e tem um estilo mais sanguíneo dentro do vestiário.

Mais do que a torcida, a direção precisará ter paciência. Nos últimos seis anos, dois técnicos foram demitidos em fevereiro por não agradarem os dirigentes nas primeiras semanas do ano. Enderson tem a grande chance de sua carreira, mas não será fácil: precisará contar com a paciência de todos, mas apresentar resultados rapidamente, pois a Libertadores será difícílima desde o começo. O antídoto? Trabalhar, e muito. Isso ele fez bem no Goiás, notabilizando-se por ser um estudioso, que prioriza a parte tática. Talvez seja um bom caminho para sair do furacão que serão as semanas iniciais.

O segundo adeus
Renato sai, e sai novamente de bem com todos. Mesmo que 70% dos torcedores, segundo várias interativas, desejassem sua saída, ele deixa o Grêmio melhor do que quando pegou. Vice-campeão brasileiro, com um trabalho sólido, de bons resultados, embora contestável do ponto de vista técnico. Recebeu os elogios de Fábio Koff na coletiva de apresentação de Enderson Moreira, deixando claro que o não-acerto não abalou a relação de ambos. Mas entre aumentar o salário de Renato ainda mais ou ficar com o de Enderson, bem mais modesto, o Grêmio tomou a decisão certa. A mais racional do ponto de vista financeiro, sem dúvida. Ao contrário de 2010, o trabalho de Renato em 2013 não tornava sua permanência um imperativo.

Venda confirmada
Leandro Damião é o novo reforço do Santos, por R$ 40 milhões, dos quais R$ 28 milhões ficam com o Internacional. Só não é a melhor venda da história colorada porque o próprio Damião poderia ter saído em 2012 por valores bem superiores. Manter craques é sempre bom, mas vendê-los no momento certo é ainda melhor. O tempo provou que Giovanni Luigi perdeu o bonde da história ao manter seu centroavante a qualquer custo: deixou valiosos milhões de euros pelo caminho num momento em que o clube não vive mais pujança financeira e ficou com um jogador que trouxe muito mais problemas que soluções nesta temporada. Ainda assim, deu a sorte de o Santos ainda não ter se dado conta de que a realidade do futebol brasileiro vai pedir mais comedimento em breve.

Comentários

Igor Natusch disse…
Eu também preferia Gilmar Dal Pozzo, mas me parece boa a ideia que anima a vinda de Enderson Moreira - um treinador relativamente novo, com ambição, que trabalha fortemente o aspecto tático e que vem de um trabalho recomendável no Goiás (admitam, ninguém sonhava com o esmeraldino disputando grandes coisas em 2013). Muito melhor do que trazer um zumbi como Celso Juarez, ou medalhões caríssimos e improdutivos como Luxa e Autuori. Tite não concordou em vir, Renato não aceitou renegociar salários - convenhamos que a partir daí não existiam mais opções remotamente incontestáveis. Enderson não conhece bem o ETHOS gremista, e isso é um complicador, mas acho boa aposta.