O jogo do alívio



O Grêmio precisava, mais do que qualquer outra coisa, da vitória. Dificilmente jogaria bem, mas nem precisava. O importante era fazer o suficiente para ganhar do Vasco, um time fraco, mas que impôs as esperadas dificuldades por conta de sua situação dramática. O gol que quebrou o jejum de 10 horas e 29 minutos veio do jeito típico em que uma equipe que tem dificuldades em ir às redes chega lá: com um zagueiro, de cabeça, após bola parada.

Desta vez, as vaias a Renato Portaluppi não procedem. O técnico gremista acertou ao pensar o time com um meia, e a tendência é que nestas rodadas finais a formação seja este mesmo 4-3-1-2 de ontem à noite. E embora tenha acertado ao optar pela figura de um articulador, acertou também na troca. Ou talvez, então, tenha errado na escalação. Afinal, Maxi Rodríguez tem feito por merecer a titularidade. Sempre que entra, entra bem. Ontem, fez alguns grandes lançamentos, belas jogadas individuais (como num gol perdido no fim do jogo), uma assistência genial a Elano de cabeça. É o melhor meia do elenco no momento.

Não que tenha sido um erro a escalação de Zé Roberto. Foi dele, inclusive, a assistência para o gol, no primeiro escanteio bem batido após dezenas de erros de Pará e Alex Telles. Mas o time visivelmente cresceu a partir da entrada de Maxi. Ficou mais intenso, veloz, insinuante. Barcos cresceu muito no segundo tempo também por isso. Claro, a dinâmica do jogo mudou com o gol. O Vasco entrou num 3-5-2 fechado e que nunca foi treinado - Adílson, em atitude típica do técnico inseguro que é, mudou de esquema na última hora porque teria visto um espião no treino de terça. Em desvantagem, passou a atacar e abrir espaços, o que facilitou as coisas para o Tricolor.

De toda forma, o que era uma equipe trancada, insegura e medíocre no primeiro tempo se transformou não em uma maravilha, mas no time dono das ações no segundo. O Grêmio melhorou com Maxi, teve em Ramiro outro destaque, como de hábito, sem falar em Rhodolfo. Talvez por aí estejam as soluções do futuro - não o futuro de 2014, mas o imediato, das rodadas finais deste Brasileiro. Se Renato mantiver a ideia de que joga quem estiver melhor, o time será mais ou menos este no próximo domingo, contra o Flamengo. Ou, ao menos, deveria ser.

Cruzeiro, um campeão recordista e espetacular
Por um descuido imperdoável de quem fez a tabela, o Cruzeiro foi campeão brasileiro no intervalo. Nada mais estranho do que as emissoras tocarem o hino do clube na volta para o segundo tempo. Mesmo assim, foi o título mais incontestável dos últimos anos. Mesmo após comemorar no intervalo, o time de Marcelo Oliveira não se desconcentrou e patrolou o Vitória no segundo - o Rubro-Negro, cabe dizer, foi melhor no primeiro, mas perdeu gols demais. Os mineiros conseguiram um fantástico 3 a 1 em pleno Barradão, que complica as chances baianas de Libertadores e marca, com brilhantismo, o segundo título brasileiro e sétimo em torneios nacionais da Raposa.

O Cruzeiro foi o time que jogou melhor futebol, o que mais ganhou, o que menos perdeu, o que mais marcou gols e um dos que menos tomou. São 23 vitórias, 72 gols marcados, dois recordes dos Brasileiros de 2006 para cá. A vantagem para o vice-líder é de 16 pontos - nem o São Paulo de 2007 chegou a tanto. Se não relaxar, o Cruzeiro pode superar os 78 pontos do Tricolor Paulista de 2006, recorde dos pontos corridos com 20 clubes. Se fizer 83, supera o aproveitamento do timaço da Raposa campeão de 2003. Já tem 74. É bom não duvidar. Dá gosto ver esse timaço jogar.

Rodada boa
O Grêmio se ajudou, mas desta vez os resultados paralelos colaboraram bastante também. Além do tropeço praticamente fatal para o Vitória, o Atlético Paranaense, com time misto, perdeu para o Criciúma, que sai da zona de rebaixamento. No Rio, novo tropeço do Botafogo, que ficou no zero com a Portuguesa. Dos concorrentes, só mesmo o Goiás se deu bem ao bater a Ponte Preta.

Latino-americanos na Copa
Quem esperava equilíbrio na repescagem quebrou a cara. Em Amã, o Uruguai massacrou a Jordânia sem precisar fazer força ou jogar grande futebol. Só um desastre tira a vaga charrua quarta que vem, no Centenário. O México, por sua vez, se recuperou do ano ruim e goleou a Nova Zelândia por 5 a 1 no Azteca. Pode ser goleado em Wellington que ainda assim chegará ao Brasil. É bom para a Copa que Uruguai e México dela participem.

Em tempo:
- O Vasco dorme na zona de rebaixamento. Se o Fluminense ganhar amanhã, quem pode entrar na zona é o Bahia, que visita o Santos.

- E a principal emissora do país preferiu passar um amistoso de luxo entre São Paulo x Flamengo a transmitir o jogo que definiu o campeão brasileiro da temporada.

Comentários

Sancho disse…
Em nem mais falo do descaso da TV; não precisa.
Rober disse…
Renato tem sido teimoso com os 3 volantes. Sim, deram certo por um tempo, quando a equipe precisava recuperar confiança, o problema foi quando precisou ganhar dos adversários mostrando futebol.
Renato não precisa abrir mãos dos 3 volantes desde que um deles tenha caguetes mais ofensivos. Uma boa escalação teste agora para o final do campeonato talvez fosse: Dida, pará, Rodolfho, Bressan, Alex Telles (Wendell), Souza, Ramiro, Elano, Maxi, Kleber (Vargas), Barcos. Fica mais equilibrado, ataca e defende bem já que Elano é volante de origem e sabe marcar. Depois pro segundo tempo, Zé no lugar de Elano, pra enrolar o jogo. Talvez funcionasse.
Vicente Fonseca disse…
Neste caso, Rober, até mesmo a formatação poderia ser mantida - um losango, com Elano pela direita e Ramiro pela esquerda. É interessante sim. Eu ainda acho que os três volantes são importante para o esquema (Ramiro e Riveros chegam bem à frente), mas é preciso ter um meia, sim. Bem mais do que um terceiro atacante (Vargas) ou zagueiro (Werley), por exemplo.