Como diz o mascote



No Maracanã, o Grêmio seguiu o lema de seu mascote, o mosqueteiro. Não é apenas uma força de expressão. A abnegação com que o time gaúcho encarou as dificuldades impostas pelas circunstâncias no importantíssimo duelo com o Botafogo foi impressionante. Ramiro, por exemplo, fez o "um por todos": após a expulsão de Kleber, foi um misto de volante, meia e atacante. Parecia ter quatro pulmões em vez de dois, tal o fôlego. E o "todos por um" foi desempenhado pelos jogadores, que correram por Renato, abraçaram o seu projeto de time e deram uma comovente demonstração de união, algo cada vez mais raro de se ver num espaço tão profissional como o futebol atual.

Era de certo modo previsível que o Grêmio tivesse boas chances na partida de hoje, dados os últimos resultados de cada equipe. O Botafogo, apesar da ótima colocação, vive uma crise técnica que tem muito a ver com a saída de Vitinho, mas também pela decadência física de alguns jogadores que visivelmente já não rendem tanto quanto antes, e um problema anímico, de confiança, este estabelecido após a fatídica goleada sofrida para o Cruzeiro. Este bom time, mas em crise, enfrentaria um adversário confiante pelos últimos resultados e extremamente sólido na defesa. Jogando no erro do Fogão, as chances gremistas eram mesmo boas.
1º TEMPO: no 11 contra 11, Grêmio joga no 3-5-2 clássico de Renato
Oswaldo de Oliveira, sabedor do modo de jogar do Grêmio fora de casa, mandou seu time marcar a saída de bola no começo do jogo. Fez como o São Paulo domingo passado: ocupou o campo gremista e não lhe deu respiro. Pois aí é que crise apertou: fisicamente mal, era previsível que o Botafogo não fosse conseguir exercer esse tipo de proposta de jogo por muito tempo. Como Seedorf e Lodeiro estavam em mais uma noite pouco inspirada, o aspecto técnico também pesou. Eram erros de passe que facilitavam a marcação gremista. E aí chegava a hora do time de Renato entrar no jogo.

Gradualmente, mas em poucos minutos, o jogo virou do avesso: a partir dos 15 minutos, era o Grêmio que pressionava a saída de bola botafoguense e não deixava o time da casa trocar passes. A marcação adiantada fazia com que o Tricolor começasse a criar perigo, sempre em combinações exercidas com paciência no campo adversário - e paciência foi tudo o que faltou ao Botafogo. Nem com a infantil e previsível expulsão de Kleber, aos 29, essa postura foi deixada de lado, e isso é um mérito que precisa ser ressaltado: o Grêmio só se fechou após sofrer o gol. Antes dele, mesmo com um homem a menos, jogou de igual para igual e era superior ao Botafogo. O golaço de Alex Telles foi merecido pela boa partida que fazia a equipe visitante.

No segundo tempo, já não era mais só a superioridade tática que precisava se apresentar para que a vitória viesse: era preciso raça. E o Grêmio a teve de sobra, mas seguiu taticamente melhor. Tanto que o Botafogo, que teve a posse de bola mais de 70% do tempo na etapa final, só teve uma situação real de gol, e foi num chute de fora da área de Renato, que desviou em Rhodolfo e por isso foi defendido com muita dificuldade por Dida. De resto, muitas bolas erguidas à área, quase nenhuma vitória pessoal e pouquíssimos arremates realmente perigosos. A desorganização do time carioca pôde ser vista claramente nos dez minutos finais, quando o zagueiro Dória virou atacante. Teve três vezes a bola em seu pé próximo à área, e chutou todas por cima do gol, sem direção.
2º TEMPO: Botafogo adianta todo o time. Alas gremistas viram laterais, Souza encosta mais em Seedorf e Ramiro desempenho dupla função: volante e atacante ao mesmo tempo
O Grêmio, com dez homens, praticamente abriu mão de atacar no segundo tempo. Ainda assim, era só por isso que percebíamos que estava em inferioridade numérica. O time de Renato se comportou com tamanha perfeição tática que nunca o Botafogo conseguia estabelecer uma tabelinha que fosse em cima deste homem a menos que tinha o Grêmio, tal a exatidão de posicionamento e a entrega de todos. Ramiro foi o mais evidente de todos: com a saída de Kleber, ele passou a acumular a sua função natural de volante com a de marcar a saída de bola alvinegra e se juntar a Barcos, que é a que cabia ao Gladiador. Saiu extenuado.

Fora Ramiro, que foi um símbolo da gana gremista no Maracanã, fica difícil destacar individualmente alguém em específico. Muitos nomes merecem menção: Rhodolfo liderou a zaga e foi mais uma vez preciso nos botes e bolas aéreas; Souza anulou Seedorf e deu a qualidade habitual na saída de bola; Riveros fez outro partidaço, que explica porque este Grêmio prescinde de meias origem para dar certo: marca forte e sai muito bem com a bola; Pará novamente exibiu grande fôlego e foi importante ao puxar contragolpes e segurar a bola na frente, a exemplo de Barcos; e Alex Telles, que passava trabalho com Gilberto no começo do jogo, fez um golaço aproveitando um vazio deixado pelo próprio lateral botafoguense.

O resultado praticamente garante o Grêmio na Libertadores e encaminha de vez o vice-campeonato. Ultrapassar o Cruzeiro é quase impossível, mas o Tricolor é o único que ainda tem uma mínima de chance de conseguir esta façanha. De todo modo, o negócio para o time de Renato é manter o ritmo de no mínimo G-3 no Brasileirão (o que está bem encaminhado) enquanto estiver vivo na Copa do Brasil. Nesta semana, a equipe jogou duas vezes contra Atlético-PR e Botafogo, seus adversários diretos de tabela, e venceu em ambos os confrontos. Isso explica a tranquilidade de pontuação atual.

Em tempo:
- Grêmio chega a cinco jogos sem sofrer gols, incluindo a partida contra o Corinthians, pela Copa do Brasil. São 456 minutos sem ser vazado, fora os acréscimos. Quase oito horas sem tomar um golzinho sequer.

Campeonato Brasileiro 2013 - 26ª rodada
5/outubro/2013
BOTAFOGO 0 x GRÊMIO 1
Local: Maracanã, Rio de Janeiro (RJ)
Árbitro: Wilton Pereira Sampaio (GO)
Público: 14.418
Renda: R$ 356.995,00
Gol: Alex Telles 37 do 1º
Cartão amarelo: Gilberto, Dória, Lodeiro, Henrique, Bressan, Ramiro e Alex Telles
Expulsão: Kleber 29 do 1º
BOTAFOGO: Jefferson (5,5), Gilberto (5,5), Dankler (5,5), Dória (5) e Júlio César (5,5); Marcelo Mattos (5) (Jéferson Paulista, 24 do 2º - 5), Renato (6), Lodeiro (4,5) (Bruno Mendes, intervalo - 4,5) e Seedorf (5); Rafael Marques (5,5) e Henrique (5) (Sassá, 32 do 2º - sem nota). Técnico: Oswaldo de Oliveira (5)
GRÊMIO: Dida (6,5), Werley (6), Rhodolfo (7) e Bressan (6); Pará (6,5), Souza (6,5), Ramiro (7) (Adriano, 34 do 2º - sem nota), Riveros (7,5) (Wendell, 47 do 2º - sem nota) e Alex Telles (7); Kleber (4) e Barcos (5,5) (Lucas Coelho, 40 do 2º - sem nota). Técnico: Renato Portaluppi (7)

Comentários

Igor Natusch disse…
Ramiro foi de fato a figura mais assombrosa da partida de ontem. Movimentação e entrega impressionantes. Um nome a mais que eu acho que merece destaque: Bressan. Costuma sofrer no 3-5-2, mas ontem teve atuação segura, atento no posicionamento e simplificando sempre.

Concordo contigo: o Botafogo está com problema físico. Seedorf, por ex, jogou pouco (de novo), mas me parece claro que a sequência de jogos pesou sobre ele: a imposição física dele, que era um de seus destaques no primeiro turno, sumiu. Sem ele, e já sem Vitinho, o Botafogo foi aplicado, mas burocrático.

E a vitória gremista só consolida, de certa forma, o título cruzeirense: inimigo mesmo, agora, só o Grêmio e olhe lá. Se o time mineiro cai radicalmente de desempenho agora mesmo, tipo imediatamente, essa regularidade gremista pode dar alguma emoção ao campeonato; do contrário, já era (e acho que já era mesmo, porque torcer pelo Náutico hoje, por ex, é desanimador).
Lourenço disse…
Ramiro e Riveros. Riveros e Ramiro. Ramiro. Riveros. E Alex Telles também.
Vicente Fonseca disse…
Igor, o que me chama a atenção é a falta de paciência da torcida do Botafogo com o Seedorf. As vaias ontem foram fortes. Não sei se ele, mesmo com essa experiência toda, está acostumado a ser vaiado por sua própria torcida.

Lourenço: e Pará. E Rhodolfo. E Souza.
Chico disse…
Heroica a vitória do Imortal.

Carioca freguês perdeu mais uma pros uruguayos do norte.

Emocionante a campanha do Ferrolho Tricolor.