Chance demais para o azar



O Grêmio de Renato é mesmo sui generis. Em jogos de alta dificuldade costuma se sair bem. A prova é de que as duas melhores atuações do time nos últimos tempos foram contra Botafogo e Atlético-PR, seus concorrentes mais próximos na tabela. Já em jogos fáceis, se complica. Depois de ter jogado fora três pontos contra o Criciúma, ontem a equipe gaúcha tinha nas mãos uma importante vitória sobre o Fluminense no Maracanã. Diminuiu perigosamente o ritmo nos minutos finais e cedeu um empate num lance ocasional, mas real, e deixa com gosto de derrota o único ponto trazido na bagagem.

A história da partida foi uma repetição de quase todas as do Grêmio fora de casa neste Brasileiro. Escalado num 3-5-2, o Fluminense tentou espelhar o time gaúcho projetando os alas Bruno e Rafinha e recuando Edinho para a zaga. Tentou impor a pressão inicial, e não conseguiu, pois perdia no meio-campo, onde os três volantes gremistas se sobressaíam. Souza, escalado na posição de Riveros, mostrou que tem qualidade para jogar por ali também, e não apenas como primeiro homem - tarefa que ontem coube a Adriano. Foram dele os dois chutes mais perigosos no primeiro tempo.
1º TEMPO: com a liberdade de Riveros, Souza é destaque gremista no primeiro tempo
A partir destas duas chegadas, o Grêmio passou a tomar conta do jogo. Como contra o Botafogo, se resguardou no começo para aplicar sua marcação adiantada na segunda metade do primeiro tempo. Não ao acaso, os gols dos últimos jogos como visitante surgiram entre os 35 e os 45 minutos. Quando Bressan fez 1 a 0, o time de Renato já merecia a vantagem, tal sua imposição tática em campo. O que não ocorrera em partidas anteriores foi a fortíssima pressão do Fluminense na busca do empate logo após ter ficado em desvantagem. Marcelo Grohe, naqueles 10 minutos, tornou-se o melhor jogador em campo. Lembrou Dida contra o São Paulo.

Mas sufoco, mesmo, só ali. No segundo tempo, Grohe não precisou fazer qualquer defesa realmente difícil. Luxa retirou o inseguro Anderson da zaga e colocou Felipe para auxiliar na criação. Seu time atuava no campo do Grêmio, mas sem penetração - o jogo passou a lembrar o da semana, contra o Botafogo. Aí veio a cartada final: entra Marcos Júnior no ataque e Aílton na lateral, ambos muito agudos. O Flu passou a incomodar pelos dois lados. Mas a tola expulsão de Biro Biro estragou os planos. Se o Grêmio soube suportar a pressão do Botafogo com um a menos, segurar com um a mais diante do Tricolor Carioca seria bem menos difícil.
2º TEMPO: Luxemburgo abre o time, mas Grêmio segue controlando o jogo, até afrouxar e ceder o empate com um a mais no fim da partida
Da expulsão, aos 28, até os 40 minutos, a administração de resultado foi perfeita. O Grêmio não agrediu o Fluminense, como muitos gostariam, mas isso não era necessário. O importante era manter a bola consigo, valorizá-la no campo de ataque, e isso a equipe de Renato fez. A entrada de Elano foi para isso também. Ficou tão fácil que a equipe visivelmente afrouxou nos cinco minutos finais. E aí sim cometeu o pecado mortal, que ficou evidente no gol de Sobis: um gol fortuito, em um chute desviado, mas que só ocorreu porque ele penetrou na defesa gremista com facilidade. Ninguém parecia acreditar que um lance na zona morta, isolado, causaria tanto estrago. Pois causou.

Foi azar, sim, mas o azar só ocorre para quem dá chance a ele. O Grêmio deu sopa para o azar contra o Criciúma, quando perdeu diversas chances de gol e vacilou nas bolas aéreas. Ontem, tinha o jogo na mão, adotava postura correta na valorização do placar, mas afrouxou a marcação nos minutos finais e foi castigado com o empate. Quem pretende lutar por título não pode se dar ao luxo de cometer esse tipo de bobagem. Quem está 11 pontos atrás, então...

Em tempo:
- O Grêmio deu chance para o azar, sim, mas também, a exemplo de contra o Criciúma, foi prejudicado por um erro vil de arbitragem. O impedimento assinalado no lance para Kleber é absurdo por ele estar atrás da linha de meio de campo e bem atrás de um jogador do Fluminense na hora do lançamento. O auxiliar certamente estava desatento e se apavorou com a liberdade do Gladiador, mas o árbitro, de onde estava, também poderia ter visto o equívoco da marcação. A chance de gol era enorme, e dali nasceu a jogada que culminou no empate de Sobis.

- Sete meses fora do time não parecem ter abalado a qualidade de Marcelo Grohe. Grande atuação, no nível de 2012, quando foi titular e um dos melhores goleiros do campeonato.

Campeonato Brasileiro 2013 - 28ª rodada
12/outubro/2013
FLUMINENSE 1 x GRÊMIO 1
Local: Maracanã, Rio de Janeiro (RJ)
Árbitro: Alício Pena Júnior (MG)
Público: 19.556
Renda: R$ 233.440,00
Gols: Bressan 36 do 1º; Rafael Sobis 45 do 2º
Cartão amarelo: Edinho, Diguinho, Marcos Júnior, Saimon, Ramiro e Kleber
Expulsão: Biro Biro 28 do 2º
FLUMINENSE: Kléver (5,5), Gum (5), Edinho (5,5) e Anderson (4,5) (Felipe, intervalo - 5); Bruno (5,5) (Aílton, 19 do 2º - 6), Diguinho (5), Jean (6), Wagner (5,5) (Marcos Júnior, 19 do 2º - 5,5) e Rafinha (5,5); Rafael Sobis (6) e Biro Biro (4,5). Técnico: Vanderlei Luxemburgo (5,5)
GRÊMIO: Marcelo Grohe (8), Saimon (5,5), Rhodolfo (6) e Bressan (6,5); Pará (6), Adriano (5,5) (Matheus Biteco, 29 do 2º - 5,5), Souza (6,5), Ramiro (5,5) (Elano, 41 do 2º - sem nota) e Alex Telles (6) (Wendell, 38 do 2º - sem nota); Kleber (5,5) e Barcos (4,5). Técnico: Renato Portaluppi (6)

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