Jogo fraco, resultado fraco



Renato Portaluppi, por enquanto, só tem um esquema que funcione no Grêmio. Isso não é algo ruim: quando um treinador acha uma formação que encaixa, normalmente o ideal é insistir nela. O problema, neste caso específico, é que o sistema tático que melhor rendeu no Tricolor só serve para jogos como o de ontem, fora de casa, diante de um adversário que vai tomar a iniciativa do jogo. Em casa, precisando propor as ações, já se viu que não rende.

Ontem, no Barradão, o Grêmio controlou o Vitória, especialmente no primeiro tempo. O motivo é simples: povoamento do meio de campo. Enquanto o time gaúcho veio com seus três zagueiros, três volantes móveis e dois alas extremamente participativos, os baianos jogaram num pretenso 3-6-1, que na verdade foi um 3-4-3, com apenas um marcador no meio, proporcionando um verdadeiro buraco ocupado com inteligência pela equipe visitante. Mesmo por vezes incisivo com a bola no pé, especialmente por parte de Marquinhos, o Vitória parava no bloqueio gaúcho. E as melhores chances do primeiro tempo, em qualidade e em quantidade, foram gremistas. O time de Renato, inclusive, chegou a marcar um gol, muito mal anulado pela arbitragem.
1º TEMPO: Grêmio ocupa o despovoado meio-campo do Vitória com três volantes móveis, alas participativos e recuos de Kleber
No segundo tempo, a história do jogo mudou. Ney Franco desmanchou o seu esdrúxulo esquema, trouxe Arthur Maia do banco, retirou o apagadíssimo Renato Cajá e equilibrou, com isso, as ações do meio com o Tricolor. Ainda assim, seu time teve uma ou outra chegada com mais perigo. Bem postado defensivamente, o grande problema do Grêmio passou a ser a criação de jogadas. Acuado nos primeiros 20 minutos, o time de Renato melhorou com a entrada de Elano (sempre melhora quando entra um meia), e se se viu obrigado a abrir mão dos três zagueiros com a lesão de Saimon. Mais uma vez, o 3-5-2 fechado funcionou bem, mas novamente a mudança para o 4-4-2 melhorou o rendimento da equipe no decorrer da partida.

Com mais gente criativa e um jogador a mais no meio, o Vitória exigiu mais do Grêmio defensivamente na segunda etapa. Com isso, Ramiro e Riveros puderam sair menos que no primeiro, e os alas tiveram atuação bem mais contida, por terem maiores obrigações defensivas. Tudo isso colaborou para que o Tricolor criasse menos nos 45 finais. Outro problema, e não chega a ser novidade, foi Barcos: mais uma atuação apagada do argentino, que teve a bola limpa para marcar, mas furou, no primeiro tempo. Perdido em meio aos três zagueiros do Vitória, desta vez deveria ter voltado mais para buscar o jogo, mas pareceu apático. Kleber lutou muito, porém. A saída do argentino para a entrada de Vargas, nos 10 minutos finais, melhorou o Grêmio, lhe deu velocidade de contragolpe. Kleber foi bem em sua pequena amostragem como referência na área.
1º TEMPO: Vitória superofensivo obriga o Grêmio a recuar alas e controlar saídas dos volantes. Jogo cai de nível: 101 passes errados!
Sem Gabriel, Werley e Saimon, Renato provavelmente escalará o 4-4-2 diante do Corinthians, na próxima quarta. É compreensível que tenha insistido nos três zagueiros hoje, embora Saimon tenha se mostrado completamente sem ritmo de jogo, uma temeridade que só não comprometeu porque Rhodolfo foi soberano e Bressan, faça-se justiça, controlou bem Marquinhos, jogador mais perigoso do Vitória. No entanto, é curioso um técnico escalar um time tão defensivamente e abrir mão de Elano, Zé Roberto e Vargas, todos no banco. Os reservas, ontem, eram até melhores que os titulares. Na quarta-feira, ao menos um deles tem que jogar desde o começo.

O resultado, assim como o jogo, não agradou a nenhum dos dois lados. O Grêmio não vence há três rodadas, pode hoje ser ultrapassado pelo Atlético-PR e provavelmente verá o Internacional ficar a apenas dois pontinhos de distância - e o próximo jogo é igualmente difícil, contra o São Paulo, no Morumbi. Já o Vitória, que está a uma distância razoavelmente segura da zona de rebaixamento, perdeu uma chance de ouro de diminuir a diferença para o G-4. Parece fadado a ficar mesmo no meio da tabela, o que para quem recém veio da Série B não chega a ser tão mal negócio.

Campeonato Brasileiro 2013 - 23ª rodada
21/setembro/2013
VITÓRIA 0 x GRÊMIO 0
Local: Barradão, Salvador (BA)
Árbitro: Sandro Meira Ricci (DF)
Público: 13.378
Renda: R$ 147.712,00
Cartão amarelo: Alemão e Ramiro
VITÓRIA: Wilson (6), Victor Ramos (6), Luís Alberto (5,5) (Édson Magal, 24 do 2º - 5) e Kadu (5); Ayrton (5,5), Elizeu (5) (Arthur Maia, 13 do 2º - 5,5), Renato Cajá (4) (Alemão, 27 do 2º - 5,5) e Juan (6); Marquinhos (6), Dinei (4,5) e Escudero (5). Técnico: Ney Franco (5)
GRÊMIO: Dida (6), Saimon (5) (Elano, 15 do 2º - 5,5), Rhodolfo (6,5) e Bressan (6); Pará (6), Souza (5,5), Ramiro (6) (Jean Deretti, 41 do 2º - sem nota), Riveros (6) e Alex Telles (5,5); Kleber (6) e Barcos (4,5) (Vargas, 35 do 2º - sem nota). Técnico: Renato Portaluppi (5,5)

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