Faltou D'Ale, mas sobraram outros erros



D'Alessandro faz falta em qualquer time do Brasil, com a bola que está jogando. Mas a derrota do Internacional ontem em Salvador passa por muitas outras coisas. Ninguém, entre jogadores, comissão técnica e dirigentes, pôs a culpa do fiasco de Salvador na conta da ausência do craque argentino. Talvez tenha sido a única boa notícia da noite de ontem: não usar a desculpa pronta para justificar o fracasso do time em campo.

A culpa começa, é claro, por Dunga. O Inter precisava ter entrado em campo com uma escalação tão covarde e equivocada? O segundo tempo, com mais gente para criar perigo, deixa claro que não. Se Willians vem em má fase e exibe notórias dificuldades para sair de trás com bola dominada, por que insistir nele, e numa posição como vértice canhoto de um losango, a qual ele definitivamente não sabe desempenhar? Será que Fabrício, que é canhoto e já atuou com desempenho minimamente razoável naquela função não era o mais indicado?
1º TEMPO: Bahia num 4-3-3 com inversão dos pontas, Inter num 4-4-2 em losango
O primeiro tempo foi horroroso. Fraco, o Bahia atuou num 4-3-3, praticamente abrindo o seu meio para o Inter trocar passes. Levou perigo apenas em um lance, um chute errado de Feijão que caiu nos pés de Fernandão, que chutou em cima da zaga. O Colorado, no entanto, foi tão ruim quanto. Aírton, Josimar e Willians não colaboraram em nada para que a equivocada estratégia de Dunga funcionasse. Erraram passes demais. Nenhuma jogada, de nenhum dos dois times, se desenvolvia. Tanto que o Inter, a exemplo do Bahia, só chegou uma vez com perigo, num belo lance de Leandro Damião, que tentou encobrir Marcelo Lomba e acertou o travessão.

No segundo tempo, mais aceso, o Bahia não precisou de mais do que cinco minutos para fazer o horrendo sistema defensivo colorado vazar. O gol de Feijão foi o milésimo do time baiano em Brasileiros, e trouxe o Inter para cima. Dunga precisou tomar o gol para se dar conta de que o 4-3-1-2 não funcionava, quando poderia muito bem ter mexido ainda no primeiro tempo: retirou Josimar e colocou Caio, e seu time cresceu. Empilhou chances de gol, mas parou na trave ou em Marcelo Lomba. Macumba baiana? O folclore adora essas explicações sobrenaturais, mas o que faltou foi perícia nas conclusões (lance de Rafael Moura no fim do jogo) e até uma dose de sorte mesmo (chute de Damião acertando as duas traves e saindo). Fora ter sobrado competência ao bom goleiro do Bahia.
2º TEMPO: Bahia num 4-4-2 segurando os laterais; Inter recua Otávio, que combina com Caio pela direita. Na esquerda, combinação é entre Kleber e Fabrício
Somente aos 30 minutos do segundo tempo é que Dunga tirou Willians para colocar Fabrício, reconhecendo seu segundo erro na noite. A partir daí, o Inter passou a ter jogadas pelo lado esquerdo. Kleber deixou de ser um quase terceiro zagueiro que segurava a correria de William Barbio para, de vez em quando, se juntar ao ataque. Em três minutos, os dois tabelaram e saiu um cruzamento que Damião quase pôs para dentro. A boa mecânica durou só sete minutos: quando Dunga pôs Rafael Moura, no desespero, para colocar Otávio, o Inter se perdeu de novo. Parou de criar jogadas de perigo e ainda cedeu espaços para o Bahia marcar o segundo.

D'Alessandro fez falta, mas o problema não foi só esse. Foi o modo equivocado como Dunga escalou seu time, coroado por erros técnicos de vários jogadores que começaram a partida. O título brasileiro já era miragem para o Inter há algum tempo, mas o principal problema de ontem foi a rodada ruim, a combinação da bela vitória do Atlético-PR no Maracanã com essa derrota horrenda em Salvador. Já não é mais o baixo número de vitórias que afasta o Inter do G-4 até a rodada que vem, mas o número de pontos mesmo. A sequência com Criciúma, Bahia e Portuguesa deveria ser de nove pontos se a equipe de Dunga quer mesmo brigar por Libertadores. Não, nada está perdido. Faltando 16 rodadas, quatro pontos é um pouco mais do que nada. Mas perder seis pontos para o Bahia, algo que talvez nem o Náutico perca, é duro de engolir.

Campeonato Brasileiro 2013 - 22ª rodada
19/setembro/2013
BAHIA 2 x INTERNACIONAL 0
Local: Fonte Nova, Salvador (BA)
Árbitro: Wagner Reway (MT)
Público: 10.288
Renda: R$ 209.970,00
Gols: Feijão 5 e Fernandão 43 do 2º
Cartão amarelo: William Barbio, Fabrício Lusa, Marcelo Lomba, Aírton, Alex, Josimar, Willians e Rafael Moura
BAHIA: Marcelo Lomba (7), Fabrício Lusa (5), Lucas Fonseca (6), Titi (6) e Jussandro (5,5) (Erick, 33 do 2º - sem nota); Fahel (5,5), Feijão (6) (Diones, 38 do 2º - sem nota) e Hélder (5); William Barbio (5), Fernandão (6) e Wallyson (5) (Marquinhos Gabriel, 20 do 2º - 5,5). Técnico: Cristóvão Borges (6)
INTERNACIONAL: Muriel (5), Gabriel (5), Índio (5), Juan (5) e Kleber (5,5); Aírton (4,5), Josimar (5) (Caio, 8 do 2º - 6), Willians (3,5) (Fabrício, 32 do 2º - 5,5) e Alex (5,5); Otávio (5,5) (Rafael Moura, 37 do 2º - 5) e Leandro Damião (6). Técnico: Dunga (2,5)

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