Erros demais
Ontem foi o jogo em que ficaram bem claros os problemas do 3-5-2 gremista, o de três volantes. Não é porque os resultados eram bons que este sistema não tenha seus defeitos, e já apontamos eles aqui algumas vezes. A dificuldade de criar e de buscar um resultado adverso ficaram evidentes, bem como um aspecto que se repetiu a noite toda no Serra Dourada: erros individuais, que não são perdoados nesta formação, especialmente se for lá na frente ou lá atrás.
E erros aconteceram a noite toda. Basicamente foram eles que desequilibraram um jogo equilibrado a favor do Goiás. A começar pela escalação. Ontem era partida para vermos Zé Roberto desde o início, puxando a criação gremista. Renato preferiu manter a formação com três volantes, embora ela não deva permanecer por muito tempo no Grêmio. Para azar dele, Matheus Biteco entrou mal. Não tem a força e o vigor de Riveros, embora saia bem para o jogo, e ainda iniciou a falha completada por Dida no primeiro gol de Walter. Os erros desequilibraram porque Walter desequilibrou. Errar na frente de um artilheiro é pecado mortal.
E aí seguiu-se o jogo coletivo do Grêmio como o conhecemos. Não foi uma má partida coletiva da equipe, mas os problemas permaneciam. Nas partidas vitoriosas deste time fora de casa, sempre o gol de início era a favor, e não contra. Buscar resultado com esta formação dificulta bastante as coisas - segurá-lo é bem mais fácil. Barcos foi um dos que mais lutou, mas perdeu gol cara a cara com Renan - méritos do goleiro do Goiás, mas perder chances neste esquema, sabemos, complica demais as coisas, já que o time cria pouco. Alex Telles, pelo terceiro jogo seguido, foi pouco inspirado no apoio. Pará e Ramiro sim, faziam boa dupla, mas a equipe seguia exibindo pouco volume de jogo. Faltava o meia.
Ele entrou aos 17 minutos do segundo tempo. Zé Roberto, claro - e como contra a Ponte Preta, melhorou a posse de bola ofensiva gremista e ajudou a abrir mais espaços na bem fechada defesa de Enderson Moreira. Mas aí veio novo erro. Primeiro, mais um de Renato, que retirou seu melhor zagueiro em campo (Gabriel, que vinha controlando Walter) para colocar Maxi Rodríguez. Segundos depois, a defesa desarrumada se atrapalhou, Bressan (que vinha sofrendo tanto com o gordinho que foi deslocado para a direita da zaga, por onde ele não atuava) chegou atrasado e Walter fez o golaço que definiu a parada. Não tinha mais como buscar.
Tem coisas que só acontecem no Serra Dourada na vida gremista: erros individuais bisonhos, jornada ruim de nomes que vinham atuando bem, Renato errando na escalação e nas substituições. O fator simbólico vale muito para o torcedor, mas os erros gremistas em Goiânia ficaram bem claros, e podem começar a ser solucionados com uma alteração na formação do meio-campo para a partida contra a Portuguesa. A volta de Zé Roberto ao time titular se impõe como solução para a criação em um confronto contra uma equipe que, na Arena, deve jogar fechada e esperando um contragolpe para matar o jogo. E um jogo onde o Grêmio precisa recuperar os três pontos perdidos ontem, para não ficar para trás na briga da ponta de cima. Hoje e quinta, se tudo der errado, o time pode até sair do G-4. Nada de drama, mas já queimaria a gordura, sem trocadilhos, por favor.
O Grêmio não se defenderá pior com um volante a menos: ainda haverá dois, mais três zagueiros e dois alas que voltam o tempo todo. A entrada do camisa 10 facilitará a vida dos atacantes e diminuirá a possibilidade de que um gol perdido ou que uma falha individual lá atrás coloque três pontos a perder, como ontem.
Tabela favorável
Como dissemos ontem aqui, era uma boa o Grêmio enfrentar o Corinthians na Arena no segundo jogo das quartas de final da Copa do Brasil. Há viagens marcadas entre os dois jogos das quartas, mas na ida o time passará por Salvador para jogar com o Vitória, o que, de Porto Alegre, seria uma longa viagem a mais. Será possível repetir o esquema de uma semana longe de casa, como foi feito em agosto para as partidas contra Vasco, Santos e Flamengo. Já o Inter decidirá fora contra o Atlético Paranaense. Tanto faz como tanto fez: a viagem é bem mais curta e as estatísticas não são claras a respeito de ser vantagem jogar a segunda em casa ou longe dela.
Coluna do meio
Somados, Inter e Corinthians jogaram 33 vezes neste Brasileiro. Em 17 delas o jogo terminou empatado. Ninguém empatou tanto, e por isso a lógica indica a coluna do meio como grande favorita para a partida no Estádio do Vale, hoje à noite. Será também o jogo de uma piores defesas contra um ataque pouco efetivo, mas por outro lado o confronto de um dos melhores ataques contra uma das retaguardas mais sólidas. Clássico nacional, com grandes nomes, técnicos simbólicos para o futebol nacional e uma das melhores chances que o Colorado tem de se enturmar com a elite da tabela. Um tropeço hoje em Novo Hamburgo complica e muito as pretensões dos comandados de Dunga de chegarem ao grupo de cima da tabela.
Reação confirmada
Não é de hoje que o São Paulo vem crescendo. A vitória do time de Paulo Autuori na Arena Pernambuco sobre o Náutico foi o quinto jogo sem derrota do Tricolor Paulista, e estancar a série de derrotas é sempre o primeiro passo para sair de uma crise tão profunda. Nesta série de cinco partidas o time obteve empates contra Botafogo e Atlético Paranaense, por pouco não derrotou o Flamengo e ganhou com sobras do Fluminense. Com 18 pontos e um jogo a menos, pode sair da zona de rebaixamento já no final de semana - e colocar, quem sabe, o próprio time de Vanderlei Luxemburgo no abismo.
Primeira ou segunda?
Se Náutico x São Paulo foi jogo com cara de Série B 2014, Palmeiras x Chapecoense teve cara de Série A 2014. Os dois líderes da segunda divisão não saíram de um 0 a 0 no Pacaembu. A superioridade palmeirense foi evidente durante os 90 minutos e, embora o gol não tenha saído, o título simbólico do primeiro turno foi conquistado.
Fechada a primeira metade do torneio, com 42 pontos, o Palmeiras tem 11 de vantagem sobre o 5º colocado Joinville, e está com um pé de volta à elite. A Chapecoense tem 40 e também segue próxima, com campanha muito consistente. O Paraná, com 36, está bem encaminhado. Depois, a briga é dura: envolve três times com 31 (Sport, Joinville e Boa Esporte), o Avaí com 30, o Figueirense com 29, o Icasa com 28, o América-MG com 27 e o Bragantino com 26, fora outros que podem surgir do bloco de trás. O equilíbrio impera na Série B, como sempre. Palmeiras e Chapecoense à parte, claro.
Comentários
A primeira: eu entendo o Renato em entrar com os 3 volantes no Serra Dourada. Era um jogo difícil, arriscado, e se Zé Roberto entrasse e fosse mal, depois de um tempo parado, muita gente diria que o melhor seria colocar outro volante, e que esse esquema só dá certo assim.
Quero crer que ele tenha pensado que o melhor fosse colocar o seu articulador em jogos mais fáceis, como contra Portuguesa e Náutico, pra dar sequencia de jogos e acertar o esquema com ele.
O que eu não entendo é por que ele manteve os 3 volantes pro início do segundo tempo, se estava óbvio que o Goiás anulou por inteiro o meio campo gremista, e que o time estava precisando de criatividade no meio. Ali sim, era pra colocar o Zé Roberto e tentar surpreender o Goiás na volta do intervalo, e não passados 2/3 do jogo. Nesse quesito sim, acho que o comandante gremista errou. Talvez tenha errado quanto a escalação inicial, mas podemos compreender sua decisão.
A segunda: a vitória do Goiás não passa só pelos erros do Gremio, mas também pelo jeito que Enderson Moreira armou a equipe. O plano era não deixar o Gremio reter e tocar a bola no meio, com seus volantes procurando jogo, e sair rápido pros contra ataques. Ele então desarmou o 4-4-2, tirou Tartá e Hugo, e armou um 4-5-1, isolando o Walter no ataque e apostando nas saídas rápidas pelas pontas com Ramón (risos) e William Matheus. Congestionou o meio campo, compactou a equipe e apostou numa marcação forte no setor que o Gremio mais se saía bem. Ganhou assim o jogo (além, claro, do talento do Walter na frente).
Fred, o Renato nunca muda o time no intervalo. Eu acho que o ideal era colocar o Zé Roberto desde o início para dar mais criatividade à equipe. Mas claro, fora de casa até dá para entender a opção de manter o esquema - embora eu discorde dela, já que o Zé estava pronto para jogar, como ele mesmo falou após o jogo.
Eu concordo com a tua leitura sobre o Goiás. O 4-5-1 foi pensado para combater os cinco meio-campistas do Grêmio. Mas não acho que o Goiás ganhou o jogo por aí - não teve superioridade no meio sobre o Grêmio. Teve como fator de desequilíbrio um atacante inspirado, que aproveitou muito bem os erros que o time do Renato cometeu individualmente falando.