A força da Raposa


O Cruzeiro 2013 teima em quebrar tabus e sequências. Chegou neste sábado à sétima vitória consecutiva, algo que ninguém neste Brasileirão conseguiu (e dificilmente conseguirá). Quarta-feira, derrubou uma série de 41 jogos do Goiás sem perder no Serra Dourada em competições nacionais, que durava dois anos. E ontem acabou com a maior invencibilidade deste Brasileiro: a de 13 jogos do Atlético Paranaense. Não foi uma vitória qualquer: foi a que abriu de forma positiva a terrível série que a Raposa terá nos próximos jogos, que serão exclusivamente contra equipes da ponta de cima da tabela do Campeonato Brasileiro. 

É preciso reconhecer: coloquei o Atlético Paranaense como um dos candidatos ao rebaixamento antes de o certame começar, e me equivoquei completamente. Ao contrário do que possa parecer, não se trata de um time que está onde está apenas por conta do aspecto físico, já que abriu mão de jogar o estadual. Vagner Mancini faz um belíssimo trabalho, provavelmente o melhor desde o surpreendente Paulista campeão da Copa do Brasil de 2005. Sua equipe é compacta, e também por isso consegue realizar um jogo intenso, atacando e defendendo em bloco. Um futebol moderno, e um time tão bem estruturado que jogadores médios crescem ao nível dos melhores que há por aí. Gratíssima surpresa.

Ederson leva a fama pelos gols, mas Everton é seguramente o melhor jogador desta equipe: liso, vertical e com ótima visão de jogo, abastece tanto o artilheiro do Brasileiro quanto Marcelo, outro bom atacante, forte, mas com mobilidade e bom chute. Mas se o time de Mancini é bem feitinho, o de Marcelo Oliveira é tão organizado quanto. Nunca um dos três da frente tinha liberdade. Quando Everton tentava escapar pela esquerda, Mayke e Nílton realizavam uma marcação dupla, sempre com alguém na sobra, dificultando o trabalho do meia atleticano em dobro. Na frente, os atacantes pararam na atuação segura de Dedé e Bruno Rodrigo. Cabe salientar que a ausência do eterno Paulo Baier pesou, claro.

O curioso é que o Cruzeiro, líder disparado do campeonato, também não é um timaço cheio de estrelas. Faz algo que o Grêmio se notabilizava em fazer tempos atrás: reaproveitar peças de outros times de forma exemplar, de modo que elas funcionem em conjunto. Assim vieram Egídio, Nílton, Ricardo Goulart, Dagoberto, Borges, entre outros, todos com um sua parcela de importância para o funcionamento do timw. Mesmo contra um adversário forte como é o Furacão, o Cruzeiro foi melhor na maior parte do jogo e mereceu a vitória, que seria maior não fosse um gol mal anulado pela arbitragem. E se Everton Ribeiro, que é o centro técnico do time, não estava lá em uma grande jornada, apareceram Ricardo Goulart, infernal, Willian, sempre perigoso, Lucas Silva e suas boas chegadas à frente. O Cruzeiro não tem estrelas, mas tem soluções diversificadas dentro de uma partida, tal sua organização.

E por conta disso, e de sua incrível pontuação, é cada vez o grande favorito ao título brasileiro. A vitória de ontem abre a série terrível de forma positiva, e joga toda a pressão sobre seus rivais mais diretos, Botafogo e Grêmio, que enfrentam Santos e Atlético Mineiro hoje no final da tarde. Se tropeçarem, só enxergarão a Raposa de binóculo. A tendência, neste caso, seria de um clima nacional de que o Cruzeiro é destacadamente o time a ser batido, como sempre ocorre quando alguém dispara demais. Será, então, o último teste para saber se este time tem mesmo condições de ser campeão brasileiro: lidar com o favoritismo destacado. Pelo que tenho visto, minha aposta é que conseguirá superar também este desafio.

Super salto
A ponta de baixo está tão equilibrada que o Fluminense estava na zona de rebaixamento no primeiro tempo, quando perdia para a Portuguesa, e em 9º lugar no segundo, quando virou o jogo e chegou aos aliviantes 2 a 1. Do Coritiba para baixo, não há quem não corra risco. Um mau resultado já é a quase certeza de que a zona de rebaixamento pode estar a três pontinhos, ou mesmo entrar nela. Alguns jogos deste domingo são confrontos diretos, por mais que exista certa diferença de colocações entre as equipes: Vasco x São Paulo é o mais tenso deles, Ponte Preta x Flamengo também, e até mesmo Coritiba x Bahia pode ser considerado, caso o Coxa tropece de novo e mantenha sua série ruim de partidas que perdura de agosto para cá.

Convidado indigesto
Renato está escaldado. Antes do jogo com o Fluminense, que coincidiu com os 30 anos da Libertadores de 1983, advertiu a todos que festa é festa, e jogo é jogo - ou seja, que a torcida do Grêmio deixasse o clima festivo para antes de a bola rolar, e depois do apito inicial apoiasse o time com vigor. Hoje, nem será preciso fazer esta advertência. Motivos sobram para que as vaias ao Atlético Mineiro sejam intensas.

Será a primeira vez de Ronaldinho na Arena, sempre um marco importante, tendo em conta se tratar da figura mais controversa e polêmica, talvez, de toda a história do Grêmio. É uma ironia do destino que esta visita indigesta ocorra justamente no dia do aniversário de 110 anos do Tricolor. Para que ele não coloque água no chope gremista, todos certamente usarão a garganta para berrar e pressionar o Galo hoje no final da tarde. A preocupação em manter contato com o Cruzeiro deveria ser mais importante, mas o simbolismo, neste caso, se impõe.

Em tempo:
- Bela vitória e boa atuação do Caxias nos 3 a 0 sobre o CRAC. O time grená lidera o Grupo B da Série C, com 24 pontos, mas a disputa é renhida. O Macaé, 5º colocado, tem 22.

- Juventude joga hoje contra o Metropolitano o jogo mais importante dos últimos anos. Um empatezinho com gols em Blumenau já seria muito bem-vindo. Lembrando: quem passar já está na Série C de 2014.

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