Teoria e prática



Quem viu a escalação do Grêmio antes de o jogo contra o Vasco começar, se apavorou com a proposta de Renato Portaluppi. Desta vez, um time sem nenhum meia de origem: 3-5-2 com três zagueiros e três volantes. Tinha tudo para dar errado. Mas deu certo. Força das circunstâncias? Pode ser, mas lembremos que a análise das vitórias sobre Bahia e Cruzeiro foram idênticas: esquema ruim que, por força das circunstâncias, acabou funcionado. Será? As "circunstâncias" pela terceira vez. É sorte demais para ser verdade.

Mas, ainda assim, apesar dos ótimos resultados recentes, é preciso manter o distanciamento crítico. Um time com três zagueiros e três volantes, sem meias, é mesmo esdrúxulo. E não será mantido por muito tempo, ao menos até Elano e Zé Roberto voltarem. E as circunstâncias, mais uma vez favoreceram - mas elas sempre favorecem porque o Grêmio esbanja competência. Enfrentando um Vasco no máximo médio, para não dizer fraco, conseguiu marcar um gol cedo, o que encheu de ansiedade a equipe do Rio, que passou a errar cada vez mais, favorecendo o esquema retrancado de Renato. Gol, aliás, surgido numa falha de... Cris, claro, que estreava pelo clube carioca.

O esquema, portanto, foi realmente favorecido pelo fato de o Grêmio ter quase sempre a vantagem, mas também porque Riveros e Ramiro se soltavam o tempo todo. Sempre um deles tentava se juntar a Kleber e Barcos na frente - isso sem falar em Alex Telles, que apesar do gol contra fez mais um ótimo jogo, especialmente no apoio ao ataque, que foi fundamental para trazer um desafogo ao time. O Tricolor sofreu um gol praticamente ocasional, mas logo fez o segundo, com Ramiro, quase idêntico ao que ele fizera pelo Juventude diante do próprio Grêmio, há dois anos. Sem pressionar (seria pedir demais a um time com este esquema), mas sem ser acuado em nenhum momento da partida. E sendo letal nos contra-ataques, raramente desperdiçando chances. Perder gols inviabiliza esta proposta.

O Vasco tentou voltar em ritmo mais forte no segundo tempo, mas faltava qualidade. Juninho, o maestro do time, não esteve em noite inspirada. Montoya, Marlone, Tenório, André, todos erravam muito, muitas vezes por precipitação - um chute na hora errada, um passe mal feito, enfim, coisas típicas de um time limitado, em construção e nervoso com a desvantagem. O Grêmio, por sua vez, era muito mais efetivo, e melhorou ainda mais com a entrada de Guilherme Biteco - prova de que a formação inicial não é mesmo a melhor. Se defendia de forma organizada e trocava passes com paciência na frente. Em um jogada espetacular de Barcos, fez o terceiro e praticamente definiu o jogo, pois o próprio Vasco desanimou com o 3 a 1. No fim, André chegou a descontar, mas o time carioca não teve uma chance sequer nos nove minutos finais da partida.

Barcos foi o grande nome da partida, e é ótimo para o Grêmio revê-lo em alto nível. Difícil vai ser Renato escolher que volante deixar o time. Hoje, Ramiro está jogando futebol para ser titular, e não é apenas pelo gol, mas pela qualidade do passe, combatividade, movimentação e dinamismo que traz ao time. No entanto, Souza provou que tem tudo para ser o primeiro volante, pois protege realmente bem a zaga. O Grêmio chega à terceira vitória seguida, marcou nove gols nelas, já é 3º na tabela e 4º pelo aproveitamento. Entrou de cabeça na disputa pela ponta de cima. Seja com o esquema que for.

Goleada enganosa
Espetacular a vitória do Cruzeiro sobre o Vitória, não fosse pelo fato de ser absolutamente enganosa. A partida foi equilibrada na maior parte do tempo, e os 5 a 1 só foram construídos nos minutos finais. O fato é que o time baiano desanimou após levar o terceiro gol no Mineirão. O Cruzeiro é líder novamente, e segue firme, agora com Borges de volta, e marcando gol. Na Arena Pernambuco, o Fluminense bateu o Náutico, time rebaixado com 25 rodadas de antecipação.

Necessidade de vitória
O Atlético Mineiro é o campeão da América, vem de vitória sólida sobre o Bahia, mas nada disso interessa: o Internacional precisa vencer o jogo hoje se não quiser perder o contato com a ponta de cima, já que não ganha há quatro partidas. A grande dificuldade é a falta de opções defensivas: sem Índio e Juan, devem jogar os jovens Ronaldo Alves e Alan, contra o grande ataque do Galo. É o preço que se paga pela não contratação de opções para a defesa. Dia para o Vale pulsar e o Inter conquistar uma grande vitória. Mas não vai ser fácil.

Que tristeza, Papão
Acompanhei Palmeiras x Paysandu pela Rádio Clube de Belém, ontem à tarde. Exageros localistas da transmissão à parte, é de se comover com o fato de o Papão ter aberto 2 a 0 em pleno Pacaembu e ter deixado não só a vitória escapar, mas perder o jogo por 3 a 2, com gol de Leandro aos 50 do segundo tempo. A experiência de ouvir uma emissora do outro lado do país, porém, é extremamente instigante. Recomendo a todos que gostam de futebol e, acima de tudo, de rádio, como eu.

Tarde de secar os goianos
O Caxias foi mal, levou 2 a 0 do Macaé, foi ultrapassado pelo time fluminense e caiu para 3º no Grupo B da Série C. Hoje é dia de secar o Vila Nova contra o Barueri. Se o time goiano perder, a vantagem para o 5º lugar seguirá sendo de confortáveis 4 pontos. Caso contrário, vai apertar.

Comentários

Lique disse…
numa hipotética falta de telles e/ou pará, zero berto e elano poderiam fazer as de alas/meias nesse mesmo esquema? os dois têm chegada, qualidade no passe e cruzamento.
Vicente Fonseca disse…
O Zé Roberto com certeza pode, até por ser sua função de origem. Ao Elano talvez falte intensidade para a função. Mas acho que os dois têm qualidade demais para não atuarem no meio. Acho que Renato manterá o 3-5-2, retirando Ramiro e colocando Zé Roberto. Elano, meu palpite, será reserva por um tempo.