Improvável e quase inexplicável



Em 2010, completamente esfacelado, o Grêmio foi a Salvador enfrentar o Vitória. Cheio de desfalques, com um esquema em que Saimon atuou improvisado como volante, Renato conseguiu chegar a uma inacreditável goleada por 3 a 0. Ontem, a história foi praticamente a mesma, só que o adversário era o Bahia, na Fonte Nova.

Foi muito mais sorte que juízo. Mas qual o problema, se tantas vezes esta sorte anda faltando ao Grêmio, como atestam os desfalques simultâneos de Zé Roberto, Kleber e Vargas? O esquema 3-6-1 não foi o responsável pelo resultado, como Renato disse após a partida. O que deu a vitória ao time gaúcho foi a fragilidade técnica do Bahia, um time que tem notáveis dificuldades para fazer gols, tanto que, diante de um adversário absolutamente recuado, fragilizado e confuso, não fez um golzinho sequer no primeiro tempo. Faltou articulação ao time de Cristóvão, faltou qualidade. O Grêmio, por sua vez, era uma montoeira de volantes e Barcos isolado na frente. Parecia questão de tempo o gol do Bahia.

Na etapa final, mais afoito, o time da casa passou a acossar o Grêmio cada vez menos. Aos poucos, o Tricolor foi percebendo espaços para contra-atacar. Alex Telles assumiu papel mais ofensivo pela ala, Elano começou a entrar no jogo. Numa de suas incursões na área, cabeceou no poste e Riveros se jogou para a bola do jeito que deu e fez o gol na base da raça. Nervoso, o Bahia viu Titi ser expulso de forma infantil. E aí jogo ficou à feição: o Grêmio tinha a vantagem e enfrentava um time nervoso, com um a menos. Ou seja: erraria bastante e daria espaços, tudo o que é preciso para jogar no contra-ataque. Na velocidade de Guilherme Biteco e na criatividade de Maxi Rodríguez, definiu o jogo - o gol de Maxi na pura sorte, diga-se.

Seja como for, o saldo de Salvador é excepcional: o Grêmio goleia um adversário direto, mesmo todo desfalcado. Teve gol de Maxi e Biteco, dois jogadores que precisavam de confiança, e gol dá confiança. Teve Elano sendo sombra do que já foi no segundo tempo, participando de dois lances capitais de forma decisiva (o primeiro gol e cavando a expulsão). Teve vitória fora de casa, o que há cinco meses não ocorria, e de goleada, que é para acabar com qualquer trauma. Tudo isso sem atacantes, porque Barcos foi novamente uma nulidade. No primeiro tempo, seu isolamento é atenuante. Mas no segundo, com mais espaço, claramente faltou explosão.

O que não dá é para se enganar: o 3-6-1 não é solução alguma para o Grêmio, que foi um time absolutamente travado no primeiro tempo e só chegou à vitória no segundo por conta da fragilidade do Bahia. O que é fato é que, com três zagueiros, este time se defende melhor do que com dois. Talvez por aí esteja saindo a solução. Com a volta de Kleber, o 3-5-2 é a alternativa com maior chance de sucesso. Quarta, contra o líder Cruzeiro, teremos mais respostas. Uma vitória na Arena recoloca o Grêmio no Campeonato Brasileiro, do qual ele parecia absolutamente fora após o fracasso diante do Coxa.

Ascendente e descendente
O Flamengo de Mano Menezes está crescendo aos poucos; o Fluminense, no entanto, é pura incerteza. O Fla dominou o clássico e venceu com absoluta justiça no Maracanã. Tomou um gol num erro individual de Wallace, mas já dominava o rival desde os primeiros minutos. Tanto que seguiu melhor e fez 3 a 1 ao natural, como o Vasco fizera alguns domingos atrás. O gol no fim de Sobis só deixou a coisa um pouco menos feia pro Tricolor.

Mano Menezes repete na Gávea algumas soluções que já utilizou outras vezes. André Santos, por exemplo, teve boa atuação. Foi seu jogador no Corinthians. E atuou no meio, como Lúcio no Grêmio em 2007. Mas há Elias (ótima fase novamente), Léo Moura foi um guri pelo lado direito, Hernane se mostra um bom centroavante. O Flamengo vai crescendo, e provavelmente terminará o Brasileiro na parte de cima da tabela se mantiver este nível de crescimento.

Sequência ruim
O Inter de Dunga se repete: novamente, apresentou grandes dificuldades contra uma equipe média, mas novamente demonstrou grande capacidade de reação, seu maior mérito em 2013. Esteve perdendo do Atlético-PR duas vezes, e buscou o empate 13 minutos depois de cada gol sofrido. Perder para um rival direto, em casa, seria péssimo.

Mas é pouco: nos últimos 3 jogos, só atuações ruins e 2 pontinhos ganhos em 9 disputados. Quinta-feira, há simplesmente o Botafogo, no Maracanã. O Inter costuma se dar melhor contra os grandes, mas precisará evoluir bastante para trazer um ponto que seja do Rio. Ao menos Scocco teve bom desempenho e Otávio, novamente, entrou bem, salvando o time da derrota.

Comentários

Lourenço disse…
Boa tua análise crítica e sóbria em relação ao jogo de ontem. O Grêmio foi aplicado ontem e, no segundo tempo, elogiável a efetividade. Mas foi um esquema chama-derrota incrível, que dificilmente dará certo de novo.
Vicente Fonseca disse…
Valeu, Lourenço. Pois é, eu não gosto nem um pouco do 3-6-1, raramente dá certo e é um esquema normalmente chama-derrota mesmo. O Renato saiu dizendo que "esquema bom é o que ganha", mas não é do perfil dele manter uma formação tão retrancada. Difícil prever o que será o esquema quarta-feira, depois daquele jogo com o Coxa. Mas o normal seria um 3-5-2, com Kleber no lugar de algum dos volantes.