Espetacular previsibilidade



Nada do que Botafogo e Internacional fizeram ontem à noite no Maracanã foi surpreendente. E isso é fantástico, pois, se tudo ocorresse conforme o scrypt, dificilmente não teríamos um jogaço de bola. O empate em 3 a 3, obtido pelo Colorado no último lance da partida através de Fabrício, um perigo nas duas áreas, deu um sabor de vitória ao time gaúcho, embora, na prática, o resultado tenha sido ruim para ambos dentro da situação do Campeonato Brasileiro.

O Internacional se repetiu em tudo, suas virtudes e defeitos tão conhecidos. É um time com grande poder de fogo. Mesmo com uma partida discreta de Alex (claramente ainda fora de ritmo) e um D'Alessandro menos participativo que em outras oportunidades, conseguiu marcar três gols. O ataque é poderoso. Leandro Damião não marcou, mas teve ótima atuação. Brigou como um leão contra a defesa adversária, segurou a bola na frente quando o time precisava e ainda deu uma assistência espetacular para Scocco no segundo gol. Aliás, Nacho não teve uma atuação brilhante, mas marcou dois gols de quem conhece. Criou-se por aqui uma falsa angústia de que ele precisava desencantar. Ora, era apenas seu terceiro jogo com o Inter, o segundo desde o início. Já "desencantou", e com sobras. Vai brigar por titularidade, no mínimo.

Agora, os defeitos: o Inter se defende mal, muito mal. Tem o segundo melhor ataque, mas a terceira pior defesa do campeonato. Mesmo com Ygor à frente da zaga, o que em tese garantiria uma maior proteção e melhor saída de jogo, a equipe penou e não conseguiu segurar o resultado no segundo tempo. Vitinho e Seedorf mandaram na meia-cancha a partida toda, embora Willians se desdobrasse, e embora ver o holandês tabelando com Edílson seja um sacrilégio. O Botafogo mandou no jogo. Foi melhor no primeiro tempo, mas tomou dois gols em 50 segundos que viraram a partida do avesso. Seguiu pressionando, e parecia claro que reverter o resultado desfavorável era questão de tempo. Obteve a virada, demonstrando força e qualidade de quem é, sim, candidato ao título. Mas cedeu o resultado no final.

E, ao ceder mais dois pontos no fim do jogo, o Botafogo chega a uma sequência de três empates consecutivos onde deixou o adversário empatar nos minutos finais. Ontem, e contra o Atlético Mineiro, semana passada, foi no último lance. Contra o Goiás, também ocorreu mais para o fim do segundo tempo. São seis pontos jogados fora, que poderiam fazer do Alvinegro o líder disparado do Campeonato Brasileiro. É assim que se perde um título. Detalhe: estamos falando do primeiro colocado da competição. Se tivesse confirmado estas três vitórias, porém, o Fogão estaria com 32 pontos, sete a mais que o Cruzeiro, e não "apenas" 26. Baita diferença, não?

O Inter, por sua vez, reage novamente. Eis o grande mérito do time de Dunga, maior até do que marcar gols: é uma equipe indignada com a derrota, e isso é meio caminho andado para ser um grupo vencedor. O Colorado já esteve em desvantagem contra Vitória, Bahia, Cruzeiro, América-MG, Náutico, Grêmio, Atlético Paranaense e Botafogo recentemente. Só saiu derrotado para Bahia e Náutico, uma prova de que se dá melhor contra os grandes (71,4% de aproveitamento no Brasileiro) que contra os médios (33,3%). E uma prova de que possui uma defesa absolutamente frágil, uma das piores da competição. Quem está frequentemente em desvantagem terá sempre a vitória mais longe do alcance. O Inter não consegue uma há quatro rodadas - sofreu nove gols neste período, mais de dois por partida. Contra o Atlético Mineiro, domingo, é obrigatória a volta dos 3 pontos.

Os destaques
Vitinho foi o grande nome do jogo. Além de dois gols, deu o passe perfeito para Rafael Marques sofrer o pênalti convertido por Seedorf. Jogar ao lado do holandês facilita, mas o guri mostrou mais uma vez ser bom de bola. No Inter, além de Scocco, Willians fez boa partida. Jorge Henrique, improvisado na lateral, foi eficiente e não comprometeu. O maior destaque negativo, por outro lado, foi Dunga, que mais uma vez mostrou todo o seu desequilíbrio emocional ao correr atrás do gandula, em vez de tentar ajeitar a peneira que é o sistema defensivo colorado. Pior ainda é ver dirigente elogiando esse tipo de postura do seu treinador.

Ruim para todo mundo
Outro empate que não ajudou ninguém, a não ser a concorrência, foi o 1 a 1 entre São Paulo e Atlético Paranaense, no Morumbi. O Tricolor Paulista está a cinco pontos de sair da zona de rebaixamento, e já não há mais o desconto de ter dois jogos a menos que ninguém. O Furacão segue em boa fase, mas poderia ter adentrado o G-4 com uma vitória - e nada melhor que aproveitar uma fase terrível do São Paulo para fazer isso, certo?

O grande beneficiado
O Grêmio é o grande beneficiado não só pelos resultados desta rodada, mas da penúltima também. O Tricolor Gaúcho fez 6 pontos contra rivais diretos (Bahia e Cruzeiro), e viu todo mundo da ponta de cima tropeçar. Fora o Corinthians, que fez 4 pontos nos dois últimos jogos, e o Vitória, que fez 3, ninguém mais venceu. Cruzeiro, Botafogo, Inter e Atlético Paranaense fizeram só 2 pontos, e o Coritiba fez 1. Por isso o salto: de 12º ao entrar em campo na Fonte Nova, domingo passado, para o 4º lugar atual. Contra Vasco e Flamengo, fora de casa, o time de Renato, obtendo bons resultados, pode dar o salto definitivo para entrar de vez na briga. Ou trazer os dois cariocas para a disputa: a diferença entre os oito primeiros é de apenas 5 pontinhos. Do líder ao 12º, de 8.

Comentários