Só o velho Galo salva



A curiosidade sobre o jogo de Rosário recaía a respeito de qual Atlético-MG veríamos em campo: o que passou voando por todo mundo até as oitavas e no Campeonato Mineiro ou o que quase caiu para o Tijuana e ganhou só um dos últimos oito jogos que disputou? Infelizmente, para a torcida do Galo, o que se viu foi uma mera continuação do que o próprio time vindo sendo: uma equipe já sem aquele futebol encantador, objetivo, de altíssimo nível, mas sim um time travado, que não se impõe sobre o adversário e não consegue desempenhar todo o futebol que é capaz. Melhor para o Newell's Old Boys.

Mas verdade seja dita: o Atlético-MG perdeu para um grande time. O Newell's não chegou até aqui por acaso. É uma equipe ousada, que soube se impor com um forte fator local (o que até não conseguira diante de Vélez e Boca), e é muito bem organizada por Gerardo "Tata" Martino. Isso sem falar na qualidade técnica, que há de sobra em todos os setores. Atrás, a categoria de Heinze; no meio, o dinamismo de Bernardi; na frente, dois grandes jogadores, Scocco e Maxi Rodríguez, capazes de conduzir a bola quase que grudada em seus pés, sempre prontos para dispararem arremates potentes, seja de onde for. É de longe o time mais forte que o Galo pegou na Libertadores.

Sem medo de atacar o time de setor ofensivo mais temível da América do Sul, o Newell's veio num 4-3-3 com marcação adiantada. Isso impedia o Galo de sair jogando, dificultava uma saída de bola que já não tinha Réver como elemento surpresa, bloqueava o avanço dos laterais e isolava o quarteto de frente do resto do time. No meio, Mateo era o único volante mais fixo, com Pérez e Bernardi compondo uma segunda linha com o dever de ajudar atrás, distribuir o jogo e chegar à frente. Ambos cumpriram tais tarefas com perfeição. Na etapa inicial, o mérito atleticano foi se defender bem, mas o time raramente chegou à frente. Sua posse de bola não chegou a 30%.

Para o segundo tempo, sem mudar nomes, Cuca adiantou um pouco mais o seu time. O Atlético-MG começou melhor, jogando um pouco mais no campo adversário, mas logo a pressão retornaria, tendo na intensa movimentação do trio ofensivo a grande chave. Maxi Rodríguez abriu o placar de forma merecida, em uma falha coletiva de marcação da defesa do Galo. Com um estádio pulsando a seu favor, o Newell's partiu com tudo em busca do segundo. O time mineiro, tão experiente, ficou naquele dilema clássico: sair para tentar o empate ou segurar a desvantagem mínima? Em mata-mata, ainda mais de Libertadores, não há tempo para pensar. Quem é mais decidido leva a melhor.

O segundo gol, de Scocco, mostrou toda a sua categoria na cobrança de falta - embora Victor tenha arrumado mal a barreira, permitindo que o arremate a contornasse e ainda assim tivesse ângulo para entrar. Jô havia tido um gol anulado por impedimento milimétrico logo antes, mas foi um lance isolado. A falta que ocasionou o lance polêmico se originou de um contragolpe do Galo, que havia recém evitado três vezes em cima da linha o segundo gol do time de Rosário. E cabia mais. Só não deu tempo de sair outro.

Os desfalques, claro, pesaram. Rafael Marques não comprometeu (até salvou gol sobre a risca fatal), mas Réver qualificaria a saída de bola. Josué desarmou bastante, mas Leandro Donizete se desprende mais, e o time hoje precisava disso. Mesmo assim, o Atlético-MG decepcionou, e não apenas por ter jogado mal, mas porque submeteu-se à pressão do Newell's quando poderia, se mantivesse a atitude que adotava no início da Libertadores, ter jogado mais de igual para igual. Sempre fazendo mais uma vez a ressalva de que o Newell's é o melhor time que o Galo enfrentou até agora, claro.

A falta de futebol demonstrada em Rosário foi mais ou menos a mesma dos jogos contra o Tijuana. A última grande atuação do time de Cuca foi nos 4 a 1 sobre o São Paulo, além dos 3 a 0 sobre o Cruzeiro, pelo estadual. Ou seja: o Galo não vem jogando bem, e não é de hoje. Para reverter a grande desvantagem imposta pelos argentinos, só uma atuação como essas duas no Independência, na semana que vem - até porque o Newell's é superior a São Paulo e Cruzeiro. Bola este time tem. Resta saber se conseguirá jogá-la como nos bons tempos, não tão distantes assim. E se o timaço de Scocco, Maxi Rodríguez e companhia sucumbirá ao velho Galo que há algum tempo não dá as caras.

Copa Libertadores da América 2013 - Semifinais - Jogo de ida
3/julho/2013
NEWELL'S OLD BOYS 2 x ATLÉTICO-MG 0
Local: Coloso del Parque, Rosário (ARG)
Árbitro: Enrique Osses (CHI)
Público: 48.000
Gols: Rodríguez 16 e Scocco 35 do 2º
Cartão amarelo: Casco, Pérez, Rodríguez, Gilberto Silva, Bernard e Luan
NEWELL'S OLD BOYS: Guzmán (5,5), Cáceres (6), Vergini (6), Heinze (6) e Casco (5,5); Mateo (6), Pérez (6,5) (Cruzado, 32 do 2º - sem nota) e Bernardi (6,5); Figueroa (6) (Tonso, 32 do 2º - sem nota), Scocco (7,5) (Urruti, 44 do 2º - sem nota) e Rodríguez (8,5). Técnico: Gerardo Martino (7,5)
ATLÉTICO-MG: Victor (6), Marcos Rocha (5), Gilberto Silva (5,5), Rafael Marques (6) e Richarlyson (5,5); Pierre (6), Josué (5,5) e Ronaldinho (6); Diego Tardelli (4,5) (Luan, 23 do 2º - 5), Jô (5) e Bernard (4,5). Técnico: Cuca (4,5)

Comentários

Lourenço disse…
Posso estar falando uma bobagem, mas imagino que Heinze e Maxi Rodriguez não devem ganhar mais de 100 mil reais e seriam titulares em qualquer clube brasileiro.
Vicente Fonseca disse…
Devem ganhar um pouco mais que isso, mas certamente menos do que muito atacante ruim que joga a primeira divisão em clube grande aqui no Brasil. E jogam, claro, muito mais.