Quase irresponsável, quase campeão

Ever Hugo Almeida é o técnico cujos movimentos táticos são os mais interessantes da Libertadores. Muda seu Olímpia hipermobilizado de esquema quando lhe vem a cabeça, e quase sempre a estratégia funciona. É um raro time que tem tanto conjunto que pode atuar de acordo com o adversário, algo que dificilmente dá certo. Hoje, mudou um esquema que vinha dando certo no intervalo, quando nem deveria fazer isso. Não estava dando certo, até os 48 do segundo tempo. Quem disse que só o Galo tem sorte de campeão?

O time paraguaio veio em duas linhas de quatro no meio, para ter superioridade no setor sobre o Galo. Se os jogadores se desdobrassem, poderiam atacar com mais gente, em bloco, e se defender com mais consistência e robustez. Demorou até a equipe se achar. O Atlético-MG começou o jogo melhor, jogando adiantado, sem medo. Diego Tardelli, com muita movimentação pela direita, trouxe problemas a Benítez e Giménez, o lado esquerdo defensivo do Olímpia, não por acaso formado por dois meio-campistas, nenhum lateral de origem.

Mas veio o gol, e ele mudou tudo. Alejandro Silva escancarou as deficiências da marcação atleticana ao driblar só um jogador e ficar com o campo livre, mesmo que outros sete jogadores mineiros estivessem por perto. O golaço abriu o caminho da vitória e desvendou por onde atacar: às costas de Richarlyson, pela direita de ataque paraguaia. Por ali, Silva e Salgueiro transitaram livremente e criaram perigo nos 20 minutos finais da etapa inicial. A marcação, atrás, estava encaixada. Até por cima a equipe da casa levava vantagem contra os grandalhões zagueiros do Galo. A vitória parecia se encaminhar, e o segundo tempo prometia mais gols.

Mas aí Almeida cometeu o pecado da gula. Com muita sede ao pote, colocou Ferreyra em campo no lugar de Giménez. Era verdade que ele não tinha feito um grande primeiro tempo, mas era peça integrante da linha de quatro homens no meio. Agora, Salgueiro recuava para que Bareiro e Ferreyra atuassem mais adiantados, num 4-3-1-2. Com menos gente marcando e a mudança de posicionamento do meio, a marcação desencaixou. A pressão arrefeceu e o Atlético-MG controlou quase todo o segundo tempo.

Mais uma vez, o Galo começou melhor, com duas boas chegadas de Tardelli. Depois disso, o jogo foi equilibrado, mas mantido em segurança pelo time mineiro. A partir dos 30 minutos, com maior aproximação entre os homens de frente, o Olímpia começou a crescer. 1 a 0 era pouco para o jogo de volta, e aí o 4-3-1-2 passou a fazer mais sentido. O problema de atacar com muita volúpia, nesta formação, era abrir espaços. Em um deles, Jô obrigou Martín Silva a um milagre com o pé, ao aparar com categoria um lançamento de Guilherme. O Olímpia respondeu aos 37, com Ferreyra chutando em Leonardo Silva, e Bareiro pegando o rebote para fora, tudo com Victor já batido.

Satisfeito com a derrota mínima, o Galo recuou. Bareiro quase fez aos 42. A expulsão de Richarlyson aos 44 foi a senha para a pressão final. Que foi consolidada no golaço de Pittoni, aos 48, o gol que deixa o Olímpia perto da Copa. Almeida mudou o time de forma até temerária no intervalo, uma ousadia em excesso, digamos assim, mas saiu premiado. Quando as coisas são para dar certo, dão certo.

A vantagem paraguaia é ótima. O Olímpia se defende melhor que o Newell's, o que já dá uma boa noção da dificuldade que será para o Galo reverter esta desvantagem, mesmo que não haja saldo qualificado. No entanto, cabe lembrar que o Santa Fé encaixotou o time paraguaio na semana passada e só não devolveu os mesmos 2 a 0 sofridos em Assunção por detalhe. Que dá, dá. Mas o gol de Pittoni complicou, e muito. Até porque nunca sabemos o que o matreiro Ever Almeida está armando, já que ele tira um coelho da cartola a cada semana com este comovente Olímpia.

Em tempo:
- Richarlyson, além de envolvido no primeiro tempo, prejudicou o time com sua expulsão. Pior em campo, seguindo de perto por Ronaldinho, apagado. Victor, desta vez, não falhou em nenhum dos gols (o que Alecsandro fazia ali na cobrança de Pittoni?), mas passou insegurança em várias saídas, tanto por cima quanto por baixo, no mano a mano. Atuação individual e coletiva bem abaixo da média de vários jogadores do Galo.

Copa Libertadores da América 2013 - Final - Jogo de ida
17/julho/2013
OLÍMPIA 2 x ATLÉTICO-MG 0
Local: Defensores del Chaco, Assunção (PAR)
Árbitro: Néstor Pitana (ARG)
Público: 35.000
Gols: Alejandro Silva 22 do 1º; Pittoni 48 do 2º
Cartão amarelo: Giménez, Miranda, Silva, Josué e Marcos Rocha
Expulsão: Richarlyson 44 do 2º
OLÍMPIA: Martín Silva (7), Candía (6), Manzur (6), Miranda (6,5) e Benítez (5,5); Alejandro Silva (7,5), Aranda (6,5), Pittoni (7) e Giménez (5,5) (Ferreyra, intervalo - 6,5); Bareiro (6) e Salgueiro (6,5) (Paredes, 43 do 2º - sem nota). Técnico: Ever Hugo Almeida (7,5)
ATLÉTICO-MG: Victor (5), Marcos Rocha (6), Leonardo Silva (6), Réver (5) e Richarlyson (3); Pierre (6), Josué (5) e Ronaldinho (4,5) (Guilherme, 19 do 2º - 5,5); Diego Tardelli (7), Jô (5,5) (Alecsandro, 33 do 2º - 4) e Luan (5) (Rosinei, 18 do 2º - 4,5). Técnico: Cuca (4)

Comentários

Lourenço disse…
Se o Olímpia for campeão em cima do Galo, concorre com o Boca como maior devorador de brasileiros. De cabeça, lembro do Inter 89, Grêmio e São Caetano 02 e Fluminense 13.
Vicente Fonseca disse…
Devem haver mais eliminações aí. Vou dar uma pesquisada.
André Kruse disse…
No primeiro gol o Tardelli estava posicionado como lateral esquerdo e desistiu de marcar o Silva.

Vicente Fonseca disse…
Não sei se ele estava pendurado e desistiu de fazer a falta ou se faltou cacoete de volante e parar a jogada.