Onde está o detalhe?

Ainda não se sabe exatamente porque o Olímpia é o finalista da Libertadores. Porque foi uma classificação no detalhe, mas um detalhe tão mínimo que não se enxerga a olho nu. As duas partidas desta emocionante semifinal foram praticamente iguais: o time da casa mandou no jogo o tempo todo, criou chances para uma goleada, acuou o adversário quase que pelos 90 minutos. Mas os paraguaios fizeram dois gols. Os colombianos, apenas um.

A proposta do Olímpia para jogar em Bogotá, no entanto, diferia da do Santa Fé em Assunção. Era bem mais correta: fechar-se atrás e contragolpear em bloco. O 3-5-2 teve uma linha quase que milimétrica de cinco homens no meio, para dificultar a vida do campeão colombiano. Nos primeiros 10 minutos, os paraguaios chutaram três vezes a gol. O Santa Fé não havia feito nenhum chute no jogo de ida. Mas nada disso explica a sétima classificação do Olímpia à final da Libertadores.

Tudo porque, passados os 10 minutos iniciais, o Santa Fé passou a pressionar. E cada vez mais. Impôs-se em campo e desmontou, com muito futebol, como não havia jogado em nenhuma partida sua nesta Libertadores até agora, todo o esquema paraguaio. Gutiérrez pensou o time com o meia argentino Molina, mas ele se lesionou no comecinho, e entrou em seu lugar Cristian Borja. Foi uma boa para o Santa Fé: no 4-3-3, a equipe anulava a sobra do Olímpia. Borja entrou bem no jogo, trocava de lado constantemente com Cuero e confundia a marcação paraguaia. Com o liso Medina entre os zagueiros e o inteligente Omar Pérez enfiando bolas a toda hora, o jogo virou filme de terror para a equipe de Ever Hugo Almeida.

Na etapa final, Almeida colocou fôlego novo para a altitude. Castorino é atacante, mas entrou como auxiliar de ala esquerdo, para conter os avanços colombianos por aquele lado. Do outro lado, Mazacotte tentava parar Cuero. O rápido camisa 23, sofreu pênalti de Manzur, mas o árbitro não marcou. Pressionado, Martín Vázquez erraria mais adiante, dando um gol de Medina onde a bola parece não ter transposto a linha. Um gol provavelmente inexistente, mas que refletia minimamente a imensa superioridade do Santa Fé, que poderia ter feito mais. Parou no excepcional goleiro Martín Silva, que além de ter feito milagres contou com a sorte, como na bicicleta de Medina que raspou a trave no primeiro tempo e o voleio de Borja que acertou o poste aos 40 do segundo.

O Santa Fé sai da Libertadores por conta de dois pecados cometidos em fases anteriores. O primeiro, é o excessivo recuo fora de casa. O Olímpia amassou o time colombiano em Assunção muito devido à própria covardia da estratégia elaborada por Gutiérrez. Ao contrário, Almeida não pensou seu time para se defender em Bogotá: foi sim é encurralado pelo Santa Fé, que impôs seu ritmo e estilo de jogo e suplantou a equipe paraguaia com todos os méritos. E só não se classificou por conta do outro pecado: os gols perdidos.

O Santa Fé cansou de criar chances em jogos anteriores, especialmente na fase de grupos, e perdê-los. Passou despercebido para muitos porque os adversários eram frágeis e as vitórias vinham da mesma forma, mas uma hora isso seria cobrado. Contra o Grêmio, quase a equipe caiu por conta destes dois pecados. Foi salva na Arena pela estupidez de Cris, e em Bogotá quase deixou de vencer um adversário que foi absolutamente medroso. Contra o Olímpia, não houve perdão.

A campanha do Santa Fé é histórica, mas o Olímpia é um finalista merecido. Foi mais eficiente no jogo de casa e contou também com a sorte fora dela. Sua campanha tem a liderança de um grupo dificílimo, onde chegou a golear o Newell's em Assunção, uma virada sobre o Tigre e uma classificação sem derrota para o Fluminense. Não é um time só com história: há time e há banco, embora os salários andem atrasados há algum tempo. Este comprometimento com o projeto do tetra fortalece demais o Olímpia. Newell's e Atlético-MG, seja quem for o outro finalista, têm até mais time em termos técnicos, mas quem vencer amanhã não entrará como favorito. E não é só pelo fato de do outro lado estar um tricampeão da América.

Em tempo:
- O Olímpia é o único time a jogar finais de Libertadores em todas as décadas desde que a competição passou a ser disputada. Antes de 2013, disputou a decisão em 1960 (vice do Peñarol), 1979 (campeão sobre o Boca), 1989 (vice do Atlético Nacional), 1990 (campeão sobre o Barcelona-EQU), 1991 (vice do Colo Colo) e 2002 (campeão sobre o São Caetano). Muita cancha.

Copa Libertadores da América 2013 - Semifinais - Jogo de volta
9/julho/2013
SANTA FÉ 1 x OLÍMPIA 0
Local: El Campín, Bogotá (COL)
Árbitro: Martín Vázquez (URU)
Público: 32.000
Gol: Medina 30 do 2º
Cartão amarelo: Cuero, Medina, Benítez e Castorino
SANTA FÉ: Vargas (5,5), Roa (6) (Centurión, 40 do 2º - sem nota), Valdez (6,5), Meza (6) e Acosta (6); Torres (5,5), Anchico (6), Molina (sem nota) (Borja, 6 do 1º - 6,5) e Pérez (6,5); Cuero (5,5) (Lalinde, 15 do 2º - 6) e Medina (7). Técnico: Wilson Gutiérrez (7,5)
OLÍMPIA: Silva (8,5), Manzur (5,5), Miranda (6) e Candia (6); Silva (5,5), Pittoni (6), Giménez (5) (Mazacotte, intervalo - 5), Aranda (5) e Benítez (4,5); Prono (5) (Castorino, intervalo - 5,5) e Bareiro (5,5). Técnico: Ever Hugo Almeida (5)

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