Ele está de volta



Renato Portaluppi deixou o Grêmio no dia 29 de junho de 2011 e volta no dia 1º de julho de 2013. Dois anos e dois dias depois, ele retorna a Porto Alegre. Chega ao clube com a mesma idolatria de sempre por parte dos torcedores, mas muito mais acolhimento da diretoria do que na época em que deixou o Olímpico.

É justamente por isso que o Grêmio traz Renato, e é por isso que considero acertada a decisão de recontratá-lo: o Grêmio precisa de paz. Renato não é melhor técnico que Luxemburgo, mas apaziguará os ânimos de um clube que foi só conflitos em 2013, muitos criados por causa do próprio ex-técnico. Ele é o homem mais capaz de restabelecer uma boa relação entre time, diretoria, torcida e Arena. Sim: sabendo explorar bem a imagem de Renato, fazer uma relação dele com o novo estádio pode proporcionar receitas interessantíssimas, fora facilitar ainda mais com que o novo estádio caia no gosto dos torcedores e crie um fator local de fato para a equipe dentro de campo.

Isso, claro, são questões extracampo. Elas precisam ser levados em consideração quando falamos de um ídolo como Renato. Mas dentro de campo podem haver benefícios também. Repito: Renato não é um técnico superior a Luxemburgo, e a carreira de ambos diz isso. Mas é um homem com vivência de vestiário, que demonstrou capacidade em 2010, antes que a direção nova, e da qual ele nunca gostou, assumisse. O distensionamento do ambiente interno do grupo certamente será seu primeiro impacto. Se havia mesmo problemas de relacionamento entre o elenco e Luxemburgo, e se isso travava o desempenho da equipe, com Renato a tendência é que as coisa funcionem mais naturalmente.

Gandaia? Falta de profissionalismo? Tudo isso são riscos, mas que podem ser administrados através da figura de Fábio Koff. O presidente gremista não é mágico, nem tem toque de Midas, mas conhece Renato. Saberá impor os limites. Como o respeito é grande, difícil acreditar que haverá quebra de hierarquia, talvez o principal problema de Luxemburgo em 2013 no Grêmio. Como tem uma ótima relação com Koff, a tendência é que Renato trabalhe motivado como em 2010, e não desfocado como em 2011.

Quanto à sua qualidade como técnico, Renato tem virtudes, mas também problemas. Considero-o um bom técnico, ousado, que costuma formar times que jogam bem fora de casa. Já conseguiu alguns ótimos trabalhos, mas às vezes se perde. Koff, Rui Costa e Chitolina terão a missão de impedir que isso aconteça. Em 2011, inventou escalações esdrúxulas que colaboraram para o fracasso do Grêmio, por exemplo. Mas também já provou que sabe tirar bastante de elencos não tão bons, como aquele gremista em 2010 ou do Vasco em 2006. Com um grupo a fim de mostrar serviço e indiscutivelmente qualificado como o atual do Grêmio, há boas perspectivas.

O ideal é que o contrato fosse de dois anos, sempre projetando em um prazo maior, mas ele vence em dezembro. Talvez a direção gremista não queira se comprometer com uma nova multa que complique uma demissão depois (embora Renato normalmente não coloque multa em contratos com o Grêmio). O certo é que Renato sempre foi o técnico da preferência de Fábio Koff. Poderia, quem sabe, ter sido contratado antes, em dezembro do ano passado. É sempre melhor trabalhar com alguém com quem temos convicção e afinidade de pensamento do que forçar uma relação. Com seis meses de atraso, começa agora a III Era Koff dentro de campo - um erro, claro, mas acredito que ao menos o presidente deva pensar assim. E, sejamos francos: por mais que se possa contestar a contratação, nada é mais sensacional do que ver um ídolo como Renato de volta ao Grêmio.

Comentários

luís felipe disse…
A recepção positiva dele é a prova cabal de que ídolos não se queimam fácil. Renato perdeu o último título da história do Olímpico para o Inter e será recebido pelo jogador de 1983, não pelo técnico fracassado de 2011.
Lourenço disse…
Concordo, espero ansioso a volta de Falcão ou Fernandão ao Inter para vê-los serem ovacionados unanimemente pelos colorados.
Vicente Fonseca disse…
Perfeito, Luís. Existia sempre a dúvida de que ele poderia pôr em xeque todo o seu histórico pelo Grêmio sendo técnico em 2010, mas isso realmente não aconteceu. Saiu numa fase horrenda em 2011 com torcedores agarrados no seu carro no pátio do Olímpico, tal a idolatria.

Lourenço, corneta à parte, acho que a torcida do Inter ainda quer muito bem Falcão e Fernandão. O problema, especialmente no caso do primeiro, foi com a diretoria. Assim como Renato e Odone.
luís felipe disse…
Sim, tanto que Renato não esteve na inauguração da Arena. A relação dele com Koff é quase paternal.

Eu recepcionaria muito bem Falcão como PRESIDENTE do Inter. Faria campanha, inclusive. Como técnico, acho que já era. E Fernandão ainda precisa aprender muito (além de não ser meu ídolo, pois veio pra cá quando eu já era um iconoclasta)
Vicente Fonseca disse…
Acho que o Renato também é bem recepcionado como o técnico espetacular de 2010. Todo mundo prefere lembrar aquela fase em que o Clementino fazia gol de tudo que é jeito e esquecer Carlos Alberto, Lins e afins.

Eu não gosto muito do estilo do Falcão como técnico, mas tenho curiosidade de saber como ele iria no Inter até o fim do Brasileiro de 2011.
André Kruse disse…
Acho que foi uma boa solução. Não sei se foi a melhor, mas foi uma boa solução.

O meu medo é que alguns dos aspectos dos debates de 2011 se potencializem. Boa parte da torcida via ele como um ídolo infalivel, e não como um treinador. E qualquer treinador, por melhor que seja, está sujeito a cometer erros.

A crítica e o debate sobre o trabalho dele em 2010/2011 ficava totalmente prejudicada por que muitos torcedores se recusavam a enxergar os erros que o Renato cometia. E fica dificil avançar, corrigir problemas se não há crítica
Vicente Fonseca disse…
Concordo, André. Acho uma boa solução, embora não infalível, claro. Renato fez um belíssimo trabalho em 2010 e um péssimo em 2011. Mas em geral considero-o um bom técnico.

A torcida achar que ele é perfeito não tem tanto problema, acho até inevitável. Ele é ídolo, o maior de todos para os gremistas. O que não dá é a direção entrar nessa. Infelizmente, porém, a direção (não só do Grêmio, mas de quase todos os grandes brasileiros) normalmente se guia pela torcida...