A maior noite do Galo

O momento é histórico: o Atlético-MG está, pela primeira vez, numa final de Libertadores. Viveu hoje à noite o maior jogo de sua centenária trajetória. A vitória sobre o Newell's Old Boys nos pênaltis é, até agora, o maior momento da história atleticana. Ao menos até a final, contra o Olímpia.

Falávamos antes do jogo que só o melhor Atlético-MG da temporada eliminaria o Newell's hoje. Não foi o melhor jogo do Galo na temporada, mas foi sem dúvida aquele em que a equipe mais teve coração. A atenção a todos os detalhes foi tamanha que o time de Cuca, enfim, não sofreu gols em uma partida desta Libertadores. Justo na que de fato não poderia de forma alguma sofrer. Coisa de quem quer ganhar a América pela primeira vez.

O começo foi promissor. No erro de Vergini, Bernard, em noite inspirada, fez 1 a 0. Eram sete minutos e já três chances criadas. Além de Bernard, Diego Tardelli fazia grande partida enlouquecendo a marcação argentina pelo lado esquerdo. Tata Martino perdeu o experiente Heinze por lesão, um desfalque irreparável num jogo de tamanha importância, e no qual sua equipe tanto precisava de força atrás. Tudo parecia conspirar a favor.

O Newell's, porém, é uma grande equipe. Aos poucos, Cruzado e Figueroa foram puxando o time para a frente, retendo a bola com muita qualidade e perspicácia sobre aquilo que o jogo exigia. Scocco e Maxi Rodríguez eram os únicos que tentavam arremates, mas a pressão inicial foi freada. O Galo, porém, terminaria o primeiro tempo em ritmo parecido com o do começo: Bernard, Tardelli e Josué (!) quase marcaram. A etapa inicial terminou na hora certa para os argentinos.

No segundo tempo, porém, a história foi bem diferente. Sem mudanças de nomes, mas com outra postura, o Newell's controlou o jogo. Além de Cruzado e Figueroa, agora Maxi Rodríguez era a grande dor de cabeça atleticana. Ele jogou simplesmente demais, foi o melhor nome da partida mesmo estando no time perdedor. Retinha a bola com imensa qualidade, armava, fazia o time jogar, estava por todos os lugares em campo. O crescimento do Newell's passou muito por ele, e foi sorte do Galo que Scocco não tenha feito grande jogo. Na medida em que o tempo passava, o nervosismo aumentava. Até que apagaram-se 33 refletores do Independência. Uma parada providencial para o Galo, que estava vendo a vaga na final escorrer pelos dedos. Cuca implorou para o árbitro uruguaio paralisar o jogo, sabendo que só um intervalo para conversar os atletas seria capaz de salvar seu time da eliminação.

Naquela parada, Cuca pôde orientar seus jogadores, quebrar um ritmo de jogo que era todo favorável ao Newell's. E para um técnico sem estrela, ele tem tido muita: Guilherme, que recém entrara no lugar de Bernard, uma substituição estranha, teve a primeira chance do Galo na etapa final aos... 37 minutos! Sim, o Newell's era tão melhor em sua proposta que só correu risco mesmo aos 37. Guilherme chutou para fora após cruzamento de Luan. Aos 39, em erro de Mateo, um dos piores em campo, fez o golaço que levou a decisão para os pênaltis.

Nas cobranças, muitos erros. Jô e Richarlyson, os dois piores atleticanos em campo, erraram feio. Mas o futebol tem suas grandes injustiças também. Cruzado, um dos destaques do time argentino, bateu por cima do travessão. E a pior de todas: Maxi Rodríguez, o melhor em campo, talvez o craque da Libertadores, cobrou anemicamente, para defesa de Victor - este sim, um merecido herói, e pela segunda vez seguida.

A festa que tomou conta do Independência foi absolutamente impressionante. Parecia de título, e é quase isso mesmo. O Atlético-MG chega, enfim, à final da Libertadores, uma data esperada há 37 anos, desde que o rival Cruzeiro foi campeão continental pela primeira vez. Favorito? Sim. Tem mais time e dá pinta de campeão a cada fase que passa. Hoje, quando não deu mais na bola, foi na raça de dividir cada bola, na sorte de o refletor cair na hora certa, na estrela de Cuca ao colocar Guilherme em campo, na competência de Victor, no brilhantismo de Bernard e Tardelli, na certeza de Ronaldinho. São muitos fatores que levaram o time a esta merecida final. É impossível não dizer que o Galo tem toda a pinta de campeão: já ganhou na qualidade, e quando não deu ganhou na raça. O que mais será preciso?

Humildade. Pois isso tudo não significa, necessariamente, título, embora o jogo de hoje tenha tido de cara de final antecipada. Ainda há o Olímpia pela frente - como havia a LDU na vida do Fluminense em 2008 após a euforia de chegar à final eliminando o Boca. Todo o cuidado é pouco. O time paraguaio é pior que o Newell's, mas ainda assim é forte, tem grande tradição e já eliminou um grande brasileiro, o Fluminense, nas quartas de final. Pode, sim, fazer frente. Mas o Galo mostra armas novas a cada fase. Não será fácil tirar este título de Belo Horizonte.

Copa Libertadores da América 2013 - Semifinais - Jogo de volta
10/julho/2013
ATLÉTICO-MG 2 x NEWELL'S OLD BOYS 0
Nos pênaltis: Atlético-MG 3 x Newell's Old Boys 2
Local: Independência, Belo Horizonte (BRA)
Árbitro: Roberto Silvera (URU)
Público: não divulgado
Renda: não divulgada
Gols: Bernard 2 do 1º; Guilherme 39 do 2º
Cartão amarelo: Pierre, Bernard, Cáceres, Casco e Tonso
ATLÉTICO-MG: Victor (7), Marcos Rocha (7), Leonardo Silva (6), Gilberto Silva (6,5) e Richarlyson (4,5); Pierre (6) (Luan, 31 do 2º - 5,5), Josué (7) e Ronaldinho (7); Diego Tardelli (7) (Alecsandro, 35 do 2º - sem nota), Jô (4) e Bernard (7,5) (Guilherme, 35 do 2º - 8). Técnico: Cuca (8)
Cobranças: Alecsandro (gol), Guilherme (gol), Jô (fora), Richarlyson (fora) e Ronaldinho (gol)
NEWELL'S OLD BOYS: Guzmán (7,5), Cáceres (5,5) (Orzán, 43 do 2º - sem nota), Vergini (4,5), Heinze (5,5) (López, 25 do 1º - 5,5) e Casco (5,5); Mateo (4), Bernardi (5,5) e Cruzado (6); Figueroa (6,5) (Tonso, 27 do 2º - 5), Scocco (5,5) e Rodríguez (7). Técnico: Gerardo Martino (6,5)
Cobranças: Scocco (gol), Vergini (gol), Casco (travessão), Cruzado (fora) e Rodríguez (defendido).

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