Aos poucos, o Brasil se acerta



Luiz Felipe Scolari me ganhou nessa. Duvidei que o Brasil pudesse render jogando no sistema com três atacantes. Não por uma questão teórica, mas porque eu não via como, do jeito que a seleção vinha jogando, e com os jogadores que dispõe, jogar bem e convencer diante do Japão. Pois Felipão demonstrou que tem utilizado bem a semana de treinos: com muita movimentação, e alguns jogadores atuando de forma até mesmo contrárias às suas características em prol do conjunto, a equipe jogou com autoridade no Mané Garrincha e venceu por 3 a 0 sem grandes sustos, de forma consistente.

É o caso de Hulk. Nunca foi ponta, mas sim um segundo atacante de grande potência física e de arremate. Ontem, ele foi um meia direita sem a bola, a ponto de ficar em uma mesma linha que Luiz Gustavo e Paulinho muitas vezes, ajudando no combate aos japoneses e voltando para buscar a bola. Um jogador que se "violentou" taticamente, mas foi imprescindível para o bom funcionamento do time. Jogou para o coletivo, não para a galera. E possibilitou que Neymar ficasse mais próximo de Fred, Paulinho subisse mais ao ataque, Daniel Alves e Marcelo se soltassem mais, entre outros benefícios à equipe. Acho que Hernanes exercia essa função com mais naturalidade, mas Felipão provou que pode tirar de Hulk (e outros atletas) coisas que não imaginávamos que poderia.

Outro fator que colaborou muito para a boa atuação ofensiva brasileira foi Oscar. A maturidade do camisa 11 foi tanta que chegou a lembrar o Kaká dos melhores tempos: movimentou-se pelos dois lados, conectou meio e ataque, fez Neymar jogar sem que ele tivesse qualquer desculpa para abusar do individualismo e ainda deixou Jô na cara do gol no lance que acabou no terceiro gol brasileiro. Atuação de luxo, e melhor jogador da partida de abertura da Copa das Confederações.

O Japão decepcionou. Sabe jogar mais do que isso. O gol ajudou o Brasil na mesma medida em que prejudicou os nipônicos. O meio-campo, ponto forte da equipe de Alberto Zaccheroni, não conseguiu se impor, sinal de que a seleção brasileira teve robustez no setor. Só Honda exibia lucidez. Hasebe, Endo e Kagawa, todos talentosos, foram absolutamente discretos. O centroavante Okazaki foi uma nulidade. Com Maeda, no segundo tempo, a equipe chegou a ter um pouco mais de poder de fogo, mas nada que ameaçasse seriamente o gol de Júlio César.

A boa atuação ofensiva do Brasil não pode esconder, porém, alguns problemas atrás. Apesar de a recomposição ter sido muito melhor ontem, segue havendo um espaço considerável entre os volantes e a zaga que o Japão só não aproveitou porque também estava em jornada pouco inspirada. Ainda é relativamente fácil chegar à área da seleção. Os laterais também subiram ao mesmo tempo algumas vezes, o que ajuda a gerar buracos. De todo modo, foi uma estreia melhor do que a encomenda.

Domingo de luxo
Dois grandes jogos marcam este domingo na Copa das Confederações. No Maracanã, México e Itália têm tudo para fazer um duelo equilibrado. A ausência de Balotelli pode pesar bastante, caso se confirme, pois ele é basicamente todo o poder de fogo da Azzurra. Em Recife, o maltratado Uruguai enfrentará a favorita Espanha. Para a Celeste, assim como para o Brasil, o torneio é muito mais preparatório que de necessidade de título. Jogaço!

Reybaixado
O Independiente é mais um grande a cair na Argentina, após o San Lorenzo no início dos anos 80, o Racing do começo da década passada e o River Plate em 2011. A queda do maior campeão da América de todos os tempos é um fato absolutamente histórico e triste no futebol argentino. Se há um consolo possível, todos os que caíram por lá (e a maioria dos que caíram por aqui) voltaram muito melhores. O título da Sul-Americana 2010 foi um fato absolutamente fora da curva do Rojo nos últimos 15 anos, que foram de equipes fracas e pobres, que raramente beliscavam sequer as primeiras colocações. Uma hora a conta viria. Que seja um até breve.

Copa das Confederações 2013 - Grupo A - 1ª rodada
15/junho/2013
BRASIL 3 x JAPÃO 0
Local: Mané Garrincha, Brasília (BRA)
Árbitro: Pedro Proença (POR)
Público: 67.427
Gols: Neymar 3 do 1º; Paulinho 2 e Jô 47 do 2º
Cartão amarelo: Hasebe
BRASIL: Júlio César (5), Daniel Alves (6), David Luiz (6), Thiago Silva (6,5) e Marcelo (7); Luiz Gustavo (6), Paulinho (7,5) e Oscar (7,5); Hulk (6) (Hernanes, 29 do 2º - 5,5), Fred (5,5) (Jô, 35 do 2º - 6,5) e Neymar (7) (Lucas, 28 do 2º - 5,5). Técnico: Luiz Felipe (7,5)
JAPÃO: Kawashima (6), Uchida (4,5), Yoshida (5), Konno (4,5) e Nagatomo (5,5); Hasebe (5), Endo (5) (Hosogai, 32 do 2º - sem nota), Kiyotake (4,5) (Maeda, 5 do 2º - 5,5), Honda (6) (Inui, 42 do 2º - sem nota) e Kagawa (4,5); Okazaki (4). Técnico: Alberto Zaccheroni (5)

Comentários