A melhor Espanha e um aceitável Uruguai



A Espanha do primeiro tempo em Recife foi avassaladora. Quem viu ao vivo ou, no caso dos mais nvoos, já andou pesquisando sobre história da Copa do Mundo, certamente lembrou daquele Holanda 2 x 0 Uruguai, na Copa de 1974. Muito mais do que 77% de posse de bola, o que é só um número (ainda que impressionante), é constatar o que foi o jogo nos 45 iniciais. Os espanhóis tinham a bola quase que o tempo todo, e os uruguaios, na raridade que era retomá-la, mal conseguiam segurá-la por dois ou três segundos, tal a força da marcação sob pressão da campeã do mundo. Devolviam-na quase que instantaneamente: 2 a 0 foi pouco para o baile que se viu na Arena Pernambuco.

Nem parecia que estávamos diante de um clássico do futebol mundial, tal a superioridade. Enquanto a Espanha trocava passes com uma naturalidade impressionante, o Uruguai fazia força para jogar futebol. De nada adiantou Tabarez colocar Pérez e Gargano à frente da área e segurar os laterais: as trocas de posicionamento constantes dos espanhóis abriam clarões a todo momento, como se a Celeste viesse faceira para o jogo. Maxi Pereira sofreu demais com Pedro e Iniesta, por exemplo. Os volantes, por mais que se dedicassem, não impediram que Lugano e Godín ficassem algumas vezes no mano a mano com algum espanhol que entrava como elemento surpresa.

Completamente dominado, o Uruguai virou um time pequeno diante da superioridade espanhola. No segundo tempo, porém, finalmente passou a haver jogo, enfrentamento, dois times atuando. Ainda que a Espanha seguisse melhor, os orientais conseguiram emparelhar um pouco a partida quando Tabarez abriu o time, tirando os volantes e colocando Lodeiro e Forlán. Com menos jogadores defensivos, a equipe adiantou um pouco suas linhas e teve mais gente para trocar passes. Um pensamento ousado do Maestro, mas correto: se há poucas peças de características ofensivas, há menos gente na frente para ficar com a bola, o que aumenta as chances de a Espanha encaixotar o Uruguai. A Fúria pode ser encarada de igual para igual apenas por uma equipe que jogue tão ofensivamente quanto ela. O problema é que isso leva muito tempo para ser treinado e aperfeiçoado, anos, às vezes uma geração.

O golaço de Luis Suárez foi um prêmio à valentia uruguaia no segundo tempo, e é muito mais importante do que parece. Em uma chave com uma clara favorita (Espanha) e uma zebraça (Taiti), o saldo será fundamental. Hoje, a Nigéria deve golear o Taiti. Se o Uruguai começasse levando goleada dos espanhóis, como parecia que ia ocorrer durante o primeiro tempo, as chances de classificação já diminuiriam bastante, logo na estreia.

Quanto à Espanha, todo o favoritismo se confirma. Como é um time que joga junto há muito tempo, dá-se a impressão de ser uma equipe "velha", mas só Casillas, Arbeloa e Xavi têm mais de 30 anos entre os titulares. A média de idade é ótima. E se fosse alta mesmo, qual o problema? Ninguém precisa correr atrás da bola mesmo. Quem corre é o adversário. O Uruguai foi o primeiro na Copa das Confederações a acabar o jogo com a língua de fora. Haja futebol (e fôlego) para superar este time.

Uma Itália que domina
A Itália de Cesare Prandelli, dissemos aqui há alguns dias, não é reativa como uma boa Squadra Azzurra, mas propositiva. Foi o que se viu diante do México. Os italianos dominaram o jogo no Maracanã, criaram muito mais oportunidades claras e o 2 a 1 não traduz com exatidão a superioridade que exerceram sobre a equipe asteca.

Pelo que jogaram na primeira rodada, Brasil e Itália têm boas chances de garantirem suas classificações de forma antecipada já na quarta-feira. Basta que vençam México e Japão, vão a 6 pontos e deixem os rivais com zero. Quem vencer, aliás, já se classificará na segunda rodada. Neste caso, a partida do próximo sábado, na Fonte Nova, seria uma decisão pelo título do grupo, sem drama pela classificação de qualquer um deles. Para a seleção, seria um ótimo cenário. A Azzurra já deu trabalho para o Brasil no começo do ano, e provou ontem de novo que é uma equipe muito forte.

Tarde para o patinho feio
Quando Alex Atala errou no sorteio dos grupos da Copa das Confederações, Belo Horizonte protestou: o erro do chef trouxe o confronto entre Taiti e Nigéria, o jogo menos atraente da primeira fase, para a capital mineira. Foi de fato o jogo com menos vendas antecipadas de entradas até agora (pouco mais de 9 mil, contra 61 mil de México x Itália, o mais vendido), mas o ar pitoresco não deixa de torná-lo muito interessante. Os nigerianos são amplos favoritos, mas a viagem às vésperas da partida e os problemas internos podem pesar para a goleada não ser tão ampla assim. Em campo, às 16:00, veremos o quanto estes fatores influenciarão no desempenho da campeã africana.

Copa das Confederações 2013 - Grupo B - 1ª rodada
16/junho/2013
ESPANHA 2 x URUGUAI 1
Local: Arena Pernambuco, São Lourenço da Mata (BRA)
Árbitro: Yuichi Nishimura (JAP)
Público: 41.705
Gols: Pedro 19 e Soldado 31 do 1º; Suárez 42 do 2º
Cartão amarelo: Arbeloa, Piqué, Lugano e Cavani
ESPANHA: Casillas (5), Arbeloa (6), Ramos (6,5), Piqué (6,5) e Alba (6); Busquets (7), Xavi (7) (Martínez, 31 do 2º - sem nota) e Iniesta (8,5); Pedro (8) (Mata, 35 do 2º - sem nota), Soldado (7) e Fabregas (6,5) (Cazorla, 19 do 2º - 6). Técnico: Vicente del Bosque (8,5)
URUGUAI: Muslera (7), Maxi Pereira (4,5), Lugano (4,5), Godín (5,5) e Cáceres (5,5); Pérez (4,5) (Forlán, 23 do 2º - 5), Gargano (5) (Lodeiro, 17 do 2º - 5,5), Rodríguez (4) e Ramírez (4,5) (González, intervalo - 5,5); Cavani (5,5) e Suárez (6,5). Técnico: Oscar Tabarez (5)

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