A hora do losango

Luiz Felipe está realizando testes. Tem todo o direito de fazê-los: chegou há seis meses na seleção brasileira, teve poucos jogos para ver o que funciona e o que não funciona, e ainda procura as peças ideais e o esquema mais adequado. Não será de uma hora para outra que conseguirá, mas sim com muito trabalho e observação. Um time competitivo para a Copa do Mundo passa pela Copa das Confederações, o torneio que testará não só o Brasil como sede, mas como time.

O empate contra a Inglaterra já mostrou uma certa evolução da seleção, especialmente pela atuação boa no primeiro tempo. Ainda assim, é possível ir além. A insistência de Felipão pelos três atacantes esbarra na característica de seus convocados. Hulk não é ponteiro, Oscar não é um criador tão prolífico a ponto de ser o único meia da equipe. Tão batida quanto a máxima de que o bom time começa por uma defesa segura é a ideia de que uma equipe competitiva é a que ganha os duelos de meio-campo. E o meio brasileiro é vazio, minguado, inócuo. Precisa de recheio.

No Maracanã, Paulinho cresceu de produção com a entrada de Fernando. Não é por causa do gremista em si, mas pelo modo como o meio se armou. Com um volante atrás, preso, Paulinho se solta para ser o elemento surpresa que o torna um jogador diferenciado no Corinthians. Sem Ralf fazendo o "trabalho sujo", limpando os trilhos à frente da zaga, Paulinho talvez fosse hoje mais um volante comum. Não sairia tanto para o jogo, não marcaria gols decisivos de cabeça, não faria um golaço de voleio na Inglaterra na reinauguração do Maracanã. Ele precisa de guarnição para ter liberdade de atacar. Lucas, no Grêmio, só foi Lucas porque havia Jeovânio atrás, como cão de guarda. É outro bom exemplo - embora jogasse demais também como primeiro homem.

A formação inicial diante dos ingleses tinha apenas Luiz Gustavo marcando no meio, junto de Paulinho. O corintiano tinha preocupações defensivas demais para surpreender com suas chegadas à frente. Hernanes entrou no intervalo, no lugar de Luiz Gustavo, e o sistema pouco mudou. Mas com Fernando, formou-se o losango: o gremista atrás, Paulinho de um lado, Hernanes de outro. Felipão não tentou estes três com Oscar. Mas aí, quem sabe, esteja o melhor Brasil possível: um centromédio mais postado, dois que fazem o vaivém ajudando o camisa 5 na guarnição e o 10, Oscar, na armação. Neymar se movimenta, busca a jogada individual, dá velocidade na execução e realiza aproximação dos meias com Fred.

O Brasil teria jogadores de alta qualidade no meio, que sabem realizar múltiplas funções, o que certamente acrescentaria dinâmica à movimentação do setor, tanto ofensiva quanto defensiva. O time teria consistência atrás e boa chegada na frente. O ataque não ficaria tão isolado do resto do time como é hoje, e dependeria menos dos lampejos de Neymar e do oportunismo de Fred. E, seguramente, haveria maior coesão entre os setores - talvez o maior mérito potencial que esta formação tem a oferecer. Tudo o que Brasil precisa, mais do que nunca, é começar a ter cara de time. E a coesão é fundamental neste sentido.

Não é uma ideia difícil de ser executada, pois ela respeita as características dos jogadores convocados, e extrairia deles boa parte, senão o máximo, de seus potenciais técnicos. Basta ser posta em prática, com repetição e paciência.

A chance do Gladiador
Com Vargas no Chile, Kleber deve voltar à titularidade no Grêmio, como ele tanto tem pedido. Os jogos contra Vitória, Atlético Mineiro e São Paulo serão fundamentais para o Gladiador cavar seu espaço entre os titulares do Tricolor. Interessante averiguar como ele jogará ao lado de Barcos. São dois jogadores pesados, mas que se movimentam bastante, e podem dar liga. Se o time ficar muito lento na frente, Welliton pode entrar no segundo tempo. Raros bancos são tão fartos quanto o do Grêmio hoje em dia.

Enquanto Jorge Henrique não vem...
O Internacional está precisando mesmo de atacantes, e Jorge Henrique é um reforço que daria qualidade e consistência ao elenco colorado. Enquanto o acerto não ocorre, a realidade é dura: fazer ao menos quatro pontos contra Portuguesa e Cruzeiro, ambos fora de casa, com Cassiano, Mike, Gilberto e Rafael Moura como opções. A semana será dura para Dunga. Quem mandou perder em casa para o Bahia?

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