A final e muito trabalho pela frente



O Brasil venceu o Uruguai, está na final da Copa das Confederações, chega a mais um jogo de invencibilidade e à quinta vitória seguida. Tudo é verdade, e tudo é ótimo para afirmar o trabalho de Felipão. No entanto, a equipe está longe de parecer consolidada ou ter seus problemas resolvidos. Luiz Felipe dificilmente mudará o esquema caso a Espanha seja a adversária da final, mas é um dever repensar esta escalação neste ano que nos separa da Copa do Mundo.

Mais uma vez, os problemas de criação foram constantes. Oscar, isolado, foi marcado de forma efetiva por Arévalo ou González, por zona, quem caísse pelo seu lado. Como já ocorrera em partidas anteriores, isto minou a articulação brasileira. Muito mais bem organizado e postado no primeiro tempo, o Uruguai não chegou a dominar a partida, pois nem era seu propósito, mas teve o controle do jogo o tempo todo. Poderia inclusive ter vencido, não fosse o pênalti pessimamente batido por Forlán e infantilmente cometido por David Luiz sobre Lugano.

Com Oscar marcado, Hulk e Neymar foram obrigados a voltar muito. Hulk voltou muito mais. As vaias a ele não se justificam: foi o melhor jogador do setor ofensivo no primeiro tempo, o único que tentava sair da marcação, buscar jogo, tentar tabelamentos. Neymar, desta vez, foi muito mais discreto que em outras partidas. Participou pouco do jogo, voltou pouco para ajudar a criar e marcar, a dar opções - embora tenha tido sua contribuição nos dois gols. Bem resguardado atrás e com homens perigosos na frente, o Uruguai impedia os volantes brasileiros de saírem como elemento surpresa. Arévalo atrás, González na direita e Rodríguez na esquerda formavam um triângulo consistente.

Ao Uruguai também faltava criação, pois Forlán não foi meia, mas sim atacante. No entanto, Cavani e Suárez voltavam muito para ajudar a criar jogadas, e por isso a Celeste era mais perigosa quando tinha a posse de bola. O jogo seguiu em equilíbrio o tempo todo. Fred marcou em jogada que começou com Paulinho e passou por Neymar, mas Cavani empatou aproveitando uma domingada de Thiago Silva, que só será o melhor zagueiro do mundo se não se achar o melhor zagueiro do mundo. Felipão tem toda a razão em cobrá-lo. Na pequena área, tentar sair jogando é temerário, para não dizer um sinal de arrogância.

Hulk saiu e o time melhorou, mas não porque Hulk estivesse mal. Na verdade, o Brasil precisava da velocidade de Bernard, embora Oscar talvez tivesse sido a melhor escolha para deixar o campo. Afinal, se a criação de jogadas ganhou com o atleticano, o vigor na marcação diminuiu sem Hulk, o que dava espaços maiores ao Uruguai. Antes de Paulinho definir o jogo em saída errada do seguro Muslera, Cavani e Suárez perderam grandes chances de virar a partida. Foi um fim de jogo cruel com o Uruguai, o time mais consciente durante todos os 90 minutos, mas que pagou o preço por ter recuado e esperado a prorrogação, a qual Tabarez pedia por entender que seu time tinha melhor preparo físico.

Para a final, jogando este futebol o Brasil dificilmente passará pela Espanha. Este 4-3-3 funcionou muito bem contra o Japão, mais ou menos contra o México, mostrou dificuldades defensivas contra a Itália e de criação contra o Uruguai. Felipão precisa rechear o meio-campo brasileiro. É claro que o título pode vir mesmo com esta formação, mas a seleção estará mais segura com mais um jogador no meio, que deve ser Hernanes, no elenco atual. Hoje, o isolamento de Oscar e a dependência de Neymar ficaram escancarados. O primeiro foi mal novamente, o segundo esteve abaixo de sua média normal e a equipe por pouco não foi eliminada em casa.

É para evitar uma futura tragédia que urge uma mudança. Embora a continuidade seja sempre algo positivo, ajustes podem ser feitos. O grande mérito de Felipão até agora tem sido repetir a ideia de time, e com isso ele vem ganhando em conjunto e entrosamento. Está na hora de afinar esta engrenagem, para que ela não fique manjada pelos adversários. O Uruguai a entendeu bem, por exemplo.

Em tempo:
- Boa Copa das Confederações realizada pelo Uruguai. Nenhuma grande atuação, é verdade, mas o nível apresentado é inegavelmente superior ao que a equipe vinha demonstrando nas Eliminatórias. Mantendo o padrão, chegará à Copa de 2014.

- Forlán visivelmente já não é o mesmo, mas Cavani finalmente vem jogando o que dele se espera pela Celeste. Além do gol, participou demais do jogo e fez lances de qualidade. Um dos melhores em campo.

- Pedidos do público por Jô e Bernard desde o primeiro tempo mostram novamente porque às vezes é melhor o Brasil atuar em lugares que não cedem jogadores para a seleção, como Fortaleza, Brasília, Manaus ou São Luís. O clubismo atrapalha e pressiona quem não tem nada a ver com isso, que é quem está em campo.

Copa das Confederações 2013 - Semifinal
26/junho/2013
BRASIL 2 x URUGUAI 1
Local: Mineirão, Belo Horizonte (BRA)
Árbitro: Enrique Osses (CHI)
Público: 57.483
Gols: Fred 40 do 1º; Cavani 2 e Paulinho 40 do 2º
Cartão amarelo: David Luiz, Marcelo, Luiz Gustavo, González e Cavani
BRASIL: Júlio César (7,5), Daniel Alves (6), Thiago Silva (4,5), David Luiz (4) e Marcelo (5,5); Luiz Gustavo (6,5), Paulinho (7) e Oscar (4,5) (Hernanes, 27 do 2º - 5,5); Hulk (5,5) (Bernard, 18 do 2º - 6), Fred (6,5) e Neymar (6) (Dante, 46 do 2º - sem nota). Técnico: Luiz Felipe (6)
URUGUAI: Muslera (5), Maxi Pereira (5,5), Lugano (6), Godín (6) e Cáceres (5,5); Arévalo (6), González (5,5) (Gargano, 37 do 2º - sem nota) e Rodríguez (6); Cavani (7,5), Forlán (4,5) e Suárez (6,5). Técnico: Oscar Tabarez (6)

Comentários

Lique disse…
cavani jogou o segundo tempo como LATERAL DIREITO e ainda fez o gol. jogou demais.

luís gustavo foi o melhor do brasil, pra mim.

com a estrela que tem o felipão, achei que bernard faria o gol da vitória, reeditando aílton, postiga, rui costa e muitos outros.
Vicente Fonseca disse…
Luiz Gustavo muito bem, seguro e soberano, iniciando bem a distribuição de jogadas. Tá afirmado. Dificilmente sai do time até o ano que vem.
Lourenço disse…
Foi um belo jogo, acho que a Celeste mostrou unidade e fez seu melhor jogo na Copa. Afora o pênalti, claro, não acho que Forlan jogou mal, mas com certeza não é mais o protagonista desta Seleção. Cavani finalmente jogou como um dos atacantes mais valiosos do planeta. Suarez me pareceu muito longe do gol, tendo que dar bundada em volante no meio de campo, e assim foi neutralizado.