Qualificar ou piorar?

A ideia do novo presidente da Conmebol de reduzir o número de participantes da Libertadores para dois times por país dificilmente vingará, pois é um retrocesso técnico e comercial. Eugenio Figueredo alega que há clubes demais no torneio, e que a presença do quinto melhor clube de um país desmerece a competição. No entanto, desde que a competição passou a adotar ao menos quatro clubes brasileiros e argentinos, a realidade teima em dizer o contrário.

Para pegarmos apenas os times brasileiros que ganharam a Libertadores desde então: São Paulo, Internacional (duas vezes), Santos e Corinthians. Destes, somente o Peixe e o Timão estariam presentes na Libertadores pelo formato antigo de classificação. O São Paulo foi apenas o quarto brasileiro classificado à edição de 2005; o Inter seria o terceiro tanto em 2006 como em 2010. O Tricolor Paulista e o Colorado sequer estariam classificados ao torneio nas edições em que foram campeões. O mesmo vale para Grêmio e Cruzeiro, vice-campeões de 2007 e 2009. Ou para este grande Atlético-MG de Cuca, que não estaria disputando a competição atual, já que foi "só" vice-campeão brasileiro em 2012.

Diminuir o número de brasileiros e argentinos, igualando a países como Venezuela, Bolívia e Peru, ao contrário, enfraquece a Libertadores. Ou será que ela teria sido mais forte sem vários dos seus campeões desde 1999? Um dado gritante pode ser pinçado da edição atual do torneio: em 2013, o 19º melhor clube brasileiro do ano passado (Palmeiras) está prestes a ficar entre os oito melhores da Libertadores, superando clubes como Peñarol, Libertad, Sporting Cristal e Universidad de Chile, fora outros grandes (Boca, Vélez, Newell's, Nacional, para ficarmos só com os estrangeiros) que podem ficar pelo caminho nas oitavas. Se a Libertadores deve reunir os melhores times da América do Sul, é preciso levar em conta que a Argentina e especialmente o Brasil têm de longe a maior quantidade de times do continente. Colocar dois representantes a mais destes dois países em relação aos demais é uma medida justa. Enche a competição de grandes jogos nos mata-matas e, ao menos em 2013, não vimos grupos tão fracos na primeira etapa.

Se o retrocesso técnico é evidente, o comercial também é bastante claro. Além de termos menos grandes times jogando a competição, os campeonatos nacionais teriam que mudar radicalmente suas fórmulas. No Brasil, um torneio de pontos corridos onde não há mais vagas para a Libertadores (apenas para o campeão) tornaria-se absolutamente monótono. Dezenas de clubes perderiam o interesse na competição antes mesmo de sua metade. Seria preciso voltar aos mata-matas, que sem dúvida são mais emocionantes, mas ao mesmo encurtariam o torneio, dificultariam sua comercialização para o exterior e, por consequência, aumentariam os estaduais. E dê-lhe prejuízo, tudo em nome de uma maior qualidade técnica que, na verdade, é falaciosa.

Se Figueredo quer mesmo aumentar o nível técnico da Libertadores, teria que retirar os times que realmente baixam a qualidade dos jogos. Eles não estão no Brasil e na Argentina, mas em países com futebol muito mais fraco. No entanto, seria uma medida absolutamente elitista do ponto de vista futebolístico. Na Europa, a Liga dos Campeões é repleta de clubes dos países do primeiro escalão continental, mas raramente recebe equipes de Bulgária, Albânia, Croácia, Malta e outras nações menores (até porque há muito mais países por lá). A Libertadores, neste sentido, é muito mais democrática. Copiamos o acerto deles sem cair no erro que seria simplesmente importar o modelo do Velho Continente sem adaptaões para cá. Conseguimos, em suma, encontrar, nos últimos 14 anos, uma maneira de receber equipes de todos os países do continente sem que o nível técnico do torneio diminuísse, pelo contrário. Nivelar por baixo agora, voltando uma década e meia no passado, não ajudaria em absolutamente nada.

Comentários

Rober disse…
Também acho que não é assim que se valoriza o torneio.
Acredito que a libertadores ficaria boa com alterações como a retirada dos clubes mexicanos e 24 vagas sem pré-libertadores.
A distribuição de vagas ficaria 4 para o Brasil, 3 para a Argentina e para o Uruguai e 2 para os 7 restantes países da américa do sul.
Mas antes disso, tem coisas mais importantes para se mexer, como por exemplo a segurança dos estádios, a comenbol exigir estádios e com infra-estrutura adequada, proibir jogos na altitude. E acima de tudo punir-se clubes cujas torcidas hajam como bandidos ou racistas.
Rodrigo Cardozo disse…
Seria realmente um retrocesso terrível voltar à fórmula de apenas dois participantes por país. Ao longo das décadas de 80 e 90 certamente ótimas equipes argentinas e brasileiras, que teriam boas chances de conquistar o torneio, ficaram de fora da Libertadores. Enquanto, por outro lado, tínhamos vice-campeões da Bolívia e Peru, países que naquela época praticavam um futebol de nível ainda mais baixo do que hoje.

Portanto, o critério anterior estava longe de poder ser considerado o mais justo e benéfico para a qualidade da Libertadores. É inacreditável que se queira ressuscitá-lo. O que me espanta é ver alguns jornalistas experientes defendendo essa ideia. Não dá para entender.
Vicente Fonseca disse…
Obviamente concordo com vocês, Rober e Rodrigo.

Achar que diminuir o número de participantes aumentará o nível do torneio é uma análise muito simplista, que não leva em conta que os países têm equipes de qualidades muito diferentes. Por mais que haja um grande equilíbrio (e a própria Libertadores 2013 tem sido equilibrada), é muito diferente ser 3º colocado no Brasil e 3º colocado no Peru.