Estava na hora

Neymar poderia ter deixado o Santos após a eliminação na Libertadores de 2012, mas ficou por mais um ano no futebol brasileiro. Foi bom para todo mundo a sua permanência por mais esse tempo, especialmente para o Peixe, que encheu os seus cofres de dinheiro até mais do que com a sua venda para o Barcelona agora. A presença de um jogador desta magnitude técnica atuando no país valoriza o Campeonato Brasileiro. Mas, pensando pelo lado de Neymar, sua hora de partir realmente parece ter chegado.

Não se trata, de forma alguma, de desmerecer o futebol brasileiro, dizendo que Neymar precisa de um desafio tecnicamente mais complicado na Europa. Num Santos bagunçado, o camisa 11 não tem conseguido fazer a diferença em termos de título, mas apenas em jogos determinados, devido à sua altíssima qualidade técnica. Na Espanha, Neymar encontrará defesas inclusive inferiores às que pegava no Brasil. O desafio para o garoto é outro, e não passa pela ideia pré-concebida, e errada, de que o futebol nacional ficou pequeno demais para o seu nível. Pelo contrário.

Neymar só tem a crescer no Barcelona, mas por motivos diversos. Carismático, ele já conquistou a torcida antes mesmo de pisar na Catalunha. A diferença, no entanto, está no estilo de jogo. No Camp Nou, ele será mais uma peça da engrenagem, não será "o cara", não será tão paparicado. Será obrigado a soltar mais a bola, seu maior pecado hoje - o que ocorre muito pela falta de companhia qualificada no Santos e na seleção brasileira, mas não só por isso. O Santos joga todo para Neymar, viciou-se nele, e isso traz reflexos maléficos para a sua carreira na seleção, especialmente ao prender demais a bola consigo. O individualismo, quando excessivo, mesmo para os grandes é nocivo.

No Barça, Neymar será mais um craque entre tantos outros. Lá, não se admite não marcar a saída de bola adversária - Messi é um dos que mais marca. Lá, conduzir demais a bola, só o argentino o faz, e não com tanta frequência quanto o próprio Neymar na Vila Belmiro. Neymar aprenderá a tabelar, buscar aproximações, deixar o companheiro na cara do gol, dividir responsabilidades, participar do jogo também sem a bola nos pés. Tudo isso levará um tempo de adaptação, talvez uma passagem pelo banco de reservas. Tudo faz parte do aprendizado e do amadurecimento, que podem torná-lo um jogador mais completo do que hoje.

Se ele se encaixar bem como peça desta máquina, provavelmente descobriremos nele qualidades que estavam escondidas aqui no Brasil, que nós sequer sabíamos que ele dispunha. Não é uma questão de "precisar da experiência da Europa" para se firmar como um jogador de nível mundial, até porque isso ele já é. É uma questão de evoluir tecnicamente como jogador, amadurecer e aprender a atuar em um estilo de jogo que o Santos, pelo time que possui atualmente, não pode lhe oferecer. Se ele optasse pelo Real Madrid, talvez não evoluísse tanto, pois é um time mais acostumado ao individualismo, às tentativas pessoais muitas vezes se sobrepujando ao coletivo. É uma questão do Santos pelo Barcelona, bem mais do que do Brasil pela Europa.

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