Tudo recomeça, mas tudo segue difícil

O que vai entrar para a história é o sofrimento, é o time totalmente desfalcado e desfigurado suportando a pressão terrível imposta pelo Huachipato na base da raça, com Werley mancando e mesmo assim endurecendo nas divididas e a classificação sofrida no apito final do uruguaio Martín Vázquez. O quadro é belíssimo para os livros de história, mas um tanto injusto em relação à boa partida que fez o Grêmio durante quase todos os 90 minutos.

Mesmo com sérios problemas de escalação e com uma inesperada mudança de planos após a lesão de Adriano, o time de Vanderlei Luxemburgo foi firme na defesa, não correu tantos riscos assim (Dida fez basicamente intervenções, só uma ou outra defesa mais complicada), teve chances de matar o jogo e só não o fez por conta do isolamento de Zé Roberto e Barcos, já que faltou um companheiro para o camisa 10 na articulação e porque Vargas teve atuação fraca, mais uma. Kleber vem aí.

O Huachipato tem um certo toque de bola, mas o usa basicamente para um fim só: cavar faltas, que podem ser batidas por González ou Aceval, diretamente para o gol ou, preferencialmente, em levantamentos para Rodríguez. Muito alto e bom no jogo aéreo, o centroavante chegou a levar vantagem sobre Bressan algumas vezes, mas a marcação do Grêmio era boa e Dida saiu bem do gol quase sempre. Como o Grêmio tinha três volantes, era difícil o time chileno penetrar.

Mas a situação se complicou na saída de Adriano, por lesão, aos 24. Luxa colocou Alex Telles na lateral e repetiu o losango que Renato fazia em 2010, com André Santos na meia-esquerda. O time demorou a se encontrar, começou a levar pressão, mas cresceu de produção ofensivamente justamente pelo lado canhoto, em que Alex e André se revezavam bem no apoio. O gol surgiu por ali, e veio na hora certa, em ótima escorada de Barcos (que ontem foi muito bem, até cansar no segundo tempo) após cruzamento de Alex Telles para uma conclusão genial de Zé Roberto. O losango é uma alternativa tática interessante para os próximos jogos em que a equipe atuar desfalcada, especialmente com Fábio Aurélio disponível para ser inscrito.

No segundo tempo, o Grêmio fez o certo: tratou de amorcegar o jogo, diminuir as alternativas do Huachipato e contragolpear. Com Vargas apagado, Kleber poderia e deveria ter entrado antes. É um atacante que segura a bola na frente, algo que Vargas não conseguia dar em momento algum. Os chilenos vieram de vez para cima nas jogadas aéreas, mas os contra-ataques puxados por Zé Roberto eram muitas vezes mais perigosos. A lesão de Werley, após as três substituições, é que deixou o jogo com cara dramática no final. O gol de Aceval, aos 44, aumentou a carga de tensão, que não acabou nem mesmo após a partida, com a pancadaria que rolou solta pelo gramado do Estádio CAP.

O Grêmio passa de fase na base da raça, situação a que ficou submetido pela campanha ruim nas cinco rodadas anteriores desta etapa de grupos. Fez o suficiente para se classificar, mas mereceu pela postura que teve em Talcahuano, superando tantas dificuldades - muitas impostas por ele próprio nos jogos anteriores, como o fracasso em Caracas, mas enfim. Agora, tudo recomeça do zero. Com a tradição que possui na Libertadores, o elenco forte de que dispõe e a força para transpor tantos problemas que demonstrou ontem, é inegavelmente um dos favoritos. Ontem talvez tenha brotado o espírito que faltava ao Grêmio. Mesmo assim, não foi só de heroísmo que viveu o time no Chile. Controlou o jogo em boa parte do tempo e só precisou recorrer a ele, mesmo, nos minutos finais. A postura fora de casa melhorou, e isso é o mais importante. A vitória escapou no fim, mas a vaga, apesar de tudo, não.

Porém, mesmo com um caminho teoricamente mais ameno até a semifinal, os problemas não se acabam. Terá que enfrentar o bom time do Santa Fé, único invicto desta Libertadores (ainda que tenha jogado no grupo mais fraco de todos), decidindo na altitude de Bogotá que o vitimou na Sul-Americana do ano passado, e sem Zé Roberto na Arena, ocasião em que terá que vencer para chegar à Colômbia com vantagem. Serão mais dois jogos da vida para o Tricolor. Em 2013 já foram dois (contra LDU e Huachipato), e em ambos a equipe passou - aos trancos e barrancos, mas passou, e é isso o que mais importa. Mas apontar o Grêmio favorito nas oitavas é um erro. Será bem complicado, como tem sido esta Libertadores para todo mundo.

Comentários

Igor Natusch disse…
O Grêmio, teoricamente, teve sorte nos enfrentamentos. Caso supere o Santa Fé (equipe tinhosa, de jogo muito veloz, mas superável), seu caminho até a final seria bem menos apavorante do que o da outra chave, que ficou bem complicada.

É outro campeonato, onde o pensamento tem que ser em jogos de 180 minutos. Um clichê, mas que se aplica bem aqui. Curioso, de qualquer modo, que o Luxa (tido como bom nome para competições de pontos corridos) tenha se classificado com as calças na mão na fase de grupos e conte com os mata-matas para se redimir de vez.

Alex Telles me surpreendeu positivamente, uma vez mais. Já tinha gostado dele em jogos anteriores; ontem, entrou na fumaceira logo após recuperar-se de lesão e fez uma partida segura, bem no apoio, compenetrado na marcação. Muito promissor. Werley e Bressan foram uma zaga segura e eficiente, Fernando um monstro da arte de limpar trilhos e Zé Roberto, bem, é chover no molhado. Vargas, porém, vai sair do time. Jogou mal de novo. Kleber, mesmo muito longe de impressionar nas partidas em que entrou, deve ganhar uma chance como titular em brevíssimo.
Vicente Fonseca disse…
Ótima participação do Alex Telles mesmo. Por mim, poderia seguir como titular no jogo de ida, em que o Grêmio não terá Zé Roberto e provavelmente Elano. Concordo que o Vargas está perdendo a titularidade.

O problema todo das oitavas é justamente não ter alguns dos principais jogadores do time num jogo em casa, onde a equipe precisa abrir vantagem. Jogar em Bogotá sem um resultado relativamente seguro promete mais drama. Mas concordo: o Santa Fé é um bom time, mas vários degraus abaixo de Atlético-MG, Vélez, Corinthians, Newell's...
Anônimo disse…
Acho que se não fosse o equívoco do Luxemburgo em queimar as substituições a 15 minutos do fim e a falha do Dida no gol de empate, esse jogo teria sido considerado morno. A classificação foi justa, mas não precisava ter sido desse jeito.

O problema é que faz tempo que o time não joga bem. E vai ter que fazer bem mais do que fez ontem para passar de fase.

Tiago
Luzardo disse…
Peraí. O Grêmio é "inegavelmente um dos favoritos" (ao título), porém
"apontar o Grêmio favorito nas oitavas é um erro". Alguma coisa está mal aí. Ou o Santa Fé é favorito ao título também?
Vicente Fonseca disse…
Eu sei que pode parecer estranho, Luzardo, mas explico.

O Grêmio tem um grande potencial para brigar pelo título. Grandes jogadores, ótimo elenco. É no papel um dos melhores times da Libertadores. À medida que for passando de fase, cresce, ganha corpo e fica difícil pará-lo.

Porém, contra o Santa Fé, há algumas situações que complicam a classificação. As ausências de Werley, Elano e Zé Roberto no primeiro jogo, quando o time precisa fazer diferença de gols para ir tranquilo para Bogotá, equilibram muito a disputa com o Santa Fé, por mais que o Grêmio tenha mais time.

Sobre o Santa Fé, não acho que tenha condições de brigar pelo título. Foi muito bem num grupo muito fraco, o mais fraco da Libertadores. Mas, diante de um Grêmio com tantos problemas, pode passar de fase sim.
Chico disse…
E o pato foi depenado
Chico disse…
Será que braian rodriguez ainda vai para o interrado após a fracassada tentativa de eliminar o Imortal
Chico disse…
Informação: surgiu um "inesperado" interesse do cúlorado em Borja, jogador do Santa Fé