O melhor galês

Não vi John Charles jogar, por óbvio. Meus pais eram crianças quando ele desfilava seu talento imenso em campo. Meia-atacante de sucesso pelo Leeds e pela Juventus, é considerado o segundo maior jogador da história do Reino Unido, só atrás de George Best e à frente de Bobby Charlton. Da pobre seleção do País de Gales, de grandes jogadores, só vi Ryan Giggs atuar. Um monstro: habilidoso, com disciplina tática impressionante, jogador que mais vezes atuou com a camisa do Manchester United. Fez seu milésimo jogo na carreira há três dias, contra o Real Madrid, aos 39 anos. Sempre como titular de um dos melhores times do mundo.

Mas o reinado de Giggs está seriamente ameaçado no meu minúsculo ranking particular de craques galeses. Aliás, o camisa 11 do Manchester United só não foi superado por conta de seu incrível retrospecto. Mas, bola por bola, o 11 do Tottenham, Gareth Bale, o supera de longe. Quem acompanha, mesmo que à distância, o que este craque de apenas 23 anos tem feito pelo time do norte de Londres, sabe do que falo. Bale tem potencial para ser um jogador ainda maior que Giggs. Talvez bem maior.

Ontem, ele deu mais um show. Comandou o Tottenham em uma goleada por 3 a 0 que deixa o time inglês à beira das quartas de final da Liga Europa. O adversário não era fraco: simplesmente a Internazionale, que não vem bem nos últimos tempos, mas ainda conta com nomes como Zanetti, Cambiasso e Cassano. Suas arrancadas irresistíveis enlouqueceram e desmontaram o sistema defensivo italiano. Além de driblador e veloz, fez um gol de cabeça com a perícia de um centroavante e cobrou o escanteio que levou ao terceiro gol com a qualidade de quem sabe bater na bola como poucos. Ninguém sabe se ele é ala, meia ou atacante. Nem precisa: com liberdade, ele é simplesmente Gareth Bale.

Não foi a primeira vez que Bale destruiu a Inter. Em 2010, a equipe inglesa levava 4 a 0 em Milão e ele, sozinho, fez três gols no segundo tempo. O 4 a 3 acabou sendo um ótimo resultado, pois o Tottenham fez 3 a 1 em Londres, com outra atuação impressionante do galês, e eliminou a equipe italiana da competição. Detalhe: a Internazionale era a atual campeã europeia e, um mês depois, ganharia o Mundial Interclubes. Maicon, considerado por muitos o melhor lateral direito do mundo na época, foi constrangedoramente humilhado.

O tempo de Bale em White Hart Lane está com os dias contados. Na próxima janela de transferências, vários clubes, da estirpe de Real Madrid e Bayern München, já despontam como interessados. Será um passo adiante para o galês, enfim, ganhar o mundo. E declarações como esta que estou dando, de que ele é superior a Giggs, já não serão mais tão polêmicas.

Comentários

Lourenço disse…
Que bom que fizeste um texto assim sobre o Bale. A primeira vez que vi falar dele foi naquele Inter 4 x 3 Totthenham, em que ele fez três golaços. No jogo de volta, foi 3 a 1 e ele deu três assistências (foi o jogo do "a taxi for maicon"). Desde entao, mesmo que se ouça pouco dele, sempre que eu procuro algo vejo que ele está acabando com os jogos. É um craque e tem um estilo de jogo único, ele simplesmente passa pela marcaçao com velocidade e explosao.
Vicente Fonseca disse…
A ideia do texto surgiu naquela nossa conversa semana passada. Com a atuação dele ontem, ficou impossível não fazer.

Aquelas atuações contra a Inter em 2010, inclusive o "Taxi for Maicon", estão nos links que pus ali no texto. Craque de bola.