Erros e complicações demais


O que era um jogo tranquilo, no qual o Grêmio dominava o Caracas, vencia o jogo e encaminhava sua classificação para as oitavas de final se tornou uma derrota de virada, para um time muito mais fraco, e que complica a situação da equipe na Libertadores. Mais do que para o gramado - e felizmente ninguém usou esta desculpa para explicar o 2 a 1 sofrido na Venezuela - o Grêmio perdeu para si mesmo ontem à noite. E começa a alimentar um fantasma que pode complicar a caminhada rumo ao título: não vencer no exterior. A última vitória sobre um time estrangeiro fora de casa na Libertadores foi em 2009, contra o San Martín, no Peru.

O gramado nem poderia mesmo ser a explicação para a derrota, pois foi nele que o Grêmio fez um bom primeiro tempo. É claro que as condições do piso impediam o brilho das duas jornadas anteriores, mas ainda assim o Tricolor ia bem: Barcos saía da área para ajudar na armação e entrava nela para concluir, Vargas e Elano se entendiam bem pelo lado direito, Zé Roberto e André Santos pelo esquerda, a saída de bola do Caracas era pressionada. Passado o ímpeto inicial do time da casa, foram os gaúchos que puseram a bola no no chão, controlaram o jogo e fizeram 1 a 0. Barcos perdeu logo em seguida, após chute cruzado de Pará.

Aí o Grêmio cometeu seu primeiro pecado da noite: diminuir o ritmo cedo demais. Dos 24 aos 43, nenhuma chance foi criada, justamente quando o momento psicológico era mais favorável. O Caracas teve 19 minutos para perceber que o bicho já não era mais tão feio e, mesmo muito mais fraco, veio para cima. A partir de uma falta inexistente, empatou o jogo. O árbitro errou (não só neste, mas em vários lances), mas o Grêmio errou bem mais ao deixar só Vargas para marcar o rebote de três venezuelanos. Por azar, a bola caiu no pé no melhor deles, Peña, meia da seleção, que empatou o jogo.

O gol logo antes do intervalo minou o ambiente do Grêmio. O time voltou com atitude no segundo tempo, mas não tinha mais a tranquilidade da etapa inicial. Foi uma atuação terrível, de muitos passes errados, afobação e cobertor curto. Num deles, Vargas perdeu a bola do jogo ao tentar acionar Barcos livre, no dois-contra-um. Em outro, logo a seguir, Pará armou o contragolpe que culminou no gol de Farías, aproveitando uma lentidão assustadora de Cris, o pior jogador em campo. Não houve mais jogo a partir dai: o Caracas catimbou, o Grêmio errava passes demais e deixava espaços generosos para o time venezuelano contra-atacar.

O Grêmio não deixa de ser um candidato ao título com o péssimo resultado de ontem, nem deixa de ter um dos melhores elencos da Libertadores, mas alguns erros comprometem o andamento da campanha. Ontem, um deles ficou bastante claro: a não inscrição de Bertoglio na fase de grupos. Com Kleber ainda indisponível, o argentino teria sido uma opção muito melhor para substituir tanto Vargas quanto Elano no segundo tempo, bem superior a Marco Antônio ou Willian José. Aliás, a entrada deste deixa claro que Marcelo Moreno precisa ser reabilitado, e não descartado. Diminui a diferença técnica do ataque titular para o reserva, se Barcos porventura não puder jogar.

Na tabela, a situação é bem mais complicada do que deveria ser. O Grêmio tem agora cinco semanas para testar uma alternativa para o lugar de Elano, peça-chave desta equipe. O pior é que o camisa 7 desfalca o time em um jogo decisivo, contra o Fluminense, onde uma vitória é imprescindível. O jogo que era para ser o da busca pela liderança virou o jogo pela sobrevivência. A sorte gremista é que o saldo de gols é o primeiro critério de desempate e que Flu e Caracas se enfrentam na última rodada, mas a obtenção de um bom resultado é fundamental até para evitar um jogo de compadres entre os rivais no Engenhão (se o Grêmio perder para o Flu e o Caracas vencer na próxima rodada, um empate no Rio elimina o Tricolor). E ainda há o Huachipato: já pensou se o fantasma da primeira rodada vence em Caracas e decide a vaga em casa contra o Grêmio? Justo o Grêmio, que não tem ido bem em terras estrangeiras na Libertadores? É melhor não imaginar.

Cris novamente apresentou gravíssimos problemas. Desta vez, não pela bola aérea, mas por baixo. Parece lhe faltar explosão: é um jogador pesado, que não conseguiu acompanhar nenhuma arrancada adversária nem dar o bote na hora certa. Jogou desprotegido, mas ainda assim mostrou muita insegurança. Terá alguns jogos do Gauchão para se recuperar. Foi dele uma análise preocupante ao fim do jogo: de que o Grêmio jogou relaxado demais ontem. Se jogou, é bom que tenha sido a última vez. A Libertadores não perdoa quem não entra com a corda esticada, por mais que haja diferença técnica. O Grêmio já perdeu para um time bem mais fraco antes, o Huachipato, em casa. Mais um tropeço pode tirar a equipe de Vanderlei Luxemburgo (muito) antes da hora prevista em seu torneio prioritário na temporada.

Em tempo:
- No Caracas, os destaques são os meias da seleção, Otero e Peña. Mas, apesar de habilidosos, caem muito e chutam a gol mais do que deveriam, às vezes quando o melhor é tentar trabalhar a jogada. No segundo tempo, Carabalí, deslocado para o meio, fez boa partida. Na frente, Farías e Curé infernizaram Cris e Werley na velocidade, no segundo tempo. Mas a defesa é fraquíssima. Só uma péssima jornada do Grêmio para ocasionar uma derrota.

Taça Libertadores da América 2013 - Grupo 8 - 4ª rodada
12/março/2013
CARACAS 2 x GRÊMIO 1
Local: Olímpico de la UCV, Caracas (VEN)
Árbitro: Oscar Maldonado (BOL)
Público: 11.179
Renda: não divulgada
Gols: Elano 17 e Peña 46 do 1º; Farías 21 do 2º
Cartão amarelo: Peña, Guerra, Amaral, Otero, Vargas, Elano e Werley
CARACAS: Baroja (5,5), Amaral (5,5), Peraza (4,5), Sánchez (4,5) e Carabalí (6); Jiménez (5) (Quijada, 20 do 2º - 5,5), Guerra (5,5), Peña (6) (Vivas, 41 do 2º - sem nota) e Otero (5,5); Farías (6,5) e Curé (6) (Febles, 35 do 2º - sem nota). Técnico: Ceferino Bencomo (5,5)
GRÊMIO: Dida (5,5), Pará (5), Cris (3,5), Werley (4,5) e André Santos (5,5); Fernando (5) (Welliton, 27 do 2º - 5), Souza (5,5), Elano (6) (Marco Antônio, 29 do 2º - 5,5) e Zé Roberto (5,5); Vargas (4,5) (Willian José, 31 do 2º - sem nota) e Barcos (5,5). Técnico: Vanderlei Luxemburgo (4,5)

Comentários

Rodrigo Cardozo disse…
O segundo gol tomado pelo Grêmio é assustador. Havia cinco jogadores gremistas contra dois venezuelanos. O Cris, além de lento, me pareceu totalmente displicente na jogada. E a liberdade que deram ao Peña no rebote da falta também é algo inadmissível. Só assisti aos lances agora, e a derrota que já me parecia preocupante se torna mais ainda, pelo nível quase amadorístico das falhas tricolores.
Vicente Fonseca disse…
A lentidão do Cris realmente me assustou. Também estranhei o nível físico do time no fim do jogo, correndo muito menos que o Caracas. Parecia jogo na altitude.

O lance do primeiro gol é falha de marcação. Tem que treinar pra não acontecer de novo.
Franke disse…
Volta quase tudo à situação pós-derrota da primeira rodada. Grêmio jogou mal demais de novo e precisa vencer de novo o Fluminense para reencaminhar a classificação.
Vicente Fonseca disse…
Mais ou menos por aí, Franke.