Entrecot à mineira



A mobilização do Atlético Mineiro para esta Libertadores pôde ser facilmente verificada pela imensa presença de sua torcida no Estádio Viaducto, na periferia de Buenos Aires. A partida contra o Arsenal de Sarandí foi praticamente em campo neutro, com divisão meio a meio entre as torcidas. E, a julgar pela atuação do Galo na noite de ontem, é bem possível que tenha faltado entrecot na capital argentina que saciasse a satisfação da torcida de Belo Horizonte.

O Atlético mostrou-se absolutamente irresistível ontem à noite. Manteve a ótima base do ano passado com o acréscimo que faltava: o de um goleador nato, identificado com a torcida. Diego Tardelli formou, ao lado de Ronaldinho, Bernard e Jô, um quarteto impossível em Sarandí. Todos os gols foram marcados por atacantes. Foram trocas rápidas de passes, dribles desconcertantes, lançamentos precisos e subidas inesperadas de laterais que tornaram o Arsenal um timinho, o que não é o caso. Lisandro López, um dos melhores zagueiros argentinos da atualidade, cometia erros infantis. Foi transformado num péssimo defensor por Bernard, o melhor da noite.

Outro ponto positivo foi a personalidade do Galo. Saiu perdendo logo a 1 minuto, mas não se abateu, sabendo que era tecnicamente superior. É a grande vantagem de contar com tantos nomes experientes. O passe de Ronaldinho para Bernard no gol de empate, surgido aos 7 minutos, foi uma pintura. O jogo ficou franco. O time argentino tentava pressionar para voltar a ficar em vantagem, concedendo espaços muito bem aproveitados pelo quarteto de frente atleticano. No segundo tempo, foi um massacre. O Galo aumentou de 3 a 2 para 5 a 2 a sua vantagem, envolveu o time da casa, deu "olé" e só não fez o sexto porque Ronaldinho desperdiçou um pênalti no fim do jogo.

Já é o segundo ótimo jogo do time de Cuca na Libertadores. Na estreia, o Galo venceu o São Paulo com autoridade, e o 2 a 1 daquela vez não exprime a superioridade que a equipe apresentou em campo. Ontem, foi um passeio. O Atlético, que foi o time que apresentou o melhor futebol do Brasileirão do ano passado, está ainda mais forte e consolidado agora. É candidatíssimo ao título, e vem provando isso a cada jogo. Pode não jogar Libertadores desde 2000, mas já tem no currículo duas Copas Conmebol (a Sul-Americana dos anos 90) e possui jogadores experientes e extremamente qualificados. Raras são as vezes em que brasileiros goleiam argentinos, ainda mais na Libertadores. O Cruzeiro, que fez 3 a 0 no Estudiantes em La Plata, em 2011, foi uma das únicas - dirigido por Cuca.

Mas, falando em Cuca, é bom lembrarmos de sua trajetória há exatos dois anos. Aqueles 3 a 0 sobre o Estudiantes fecharam uma fase de grupos impecável do seu Cruzeiro, que foi o melhor time da etapa inicial da Libertadores, disparado. Nas oitavas, perdeu para o Once Caldas, e em casa. Ou seja: antes de sairmos dizendo que o Galo é o time a ser batido na Libertadores, cabe lembrar a trajetória recente de seu técnico, que há dois começou o torneio triturando rivais para cair no primeiro mata-mata. Não custa lembrar, embora agora seja outro momento e outro time.

O candidato a estraga-festas
Com um poderio econômico impressionante, os clubes brasileiros são mesmo favoritíssimos a ganhar a Libertadores mais uma vez, e a goleada do Atlético sobre o Arsenal ontem é a prova de que estamos muitos passos à frente de nossos vizinhos de continente. Exceto, talvez, de um deles: o Vélez Sarsfield.

Ontem, jogando no Centenário, o Vélez mostrou as armas de quem é realmente forte. Fernando Gago, maior contratação do futebol argentino para a temporada, jogou apenas metade do primeiro tempo e saiu lesionado. Mesmo assim, a equipe visitante não se intimidou: encarou o Peñarol, que vinha de duas vitórias seguidas, e propôs o jogo sempre. No primeiro tempo, houve equilíbrio; no segundo, o domínio foi do Vélez - que conseguiu sua vitória a três minutos do fim, com o oportunista Pratto fazendo o gol após ótima jogada de Copete, um reserva, prova de que há elenco em Liniers.

A boa arrancada do Peñarol, que venceu Deportes Iquique e Emelec em seus dois primeiros jogos, animou os otimistas, que já previam um time até superior ao que foi finalista em 2011. Ainda não é para tanto: a equipe uruguaia é boa, tem jogadores experientes (Zalayeta, Estoyanoff, Darío Rodríguez), mas precisa encorpar e crescer. Mostrou menos time que o Vélez, embora tenha encarado bem os argentinos. Pode igualar forças na garra, como sempre. Está vários degraus atrás dos brasileiros, mas eu não descartaria de modo algum que possa chegar.

O grupo se embolou. A derrota em casa anula o bom resultado obtido pelo Peñarol como visitante no Chile. Se o Emelec derrotar o Iquique, os três primeiros fecham esta primeira metade com 6 pontos. A briga será boa. Em todos os grupos, aliás, a Libertadores está sendo marcada pelo intenso equilíbrio até agora.

A zebra
O Real Garcilaso é a surpresa da Libertadores. Tido como time mais fraco do Grupo 6, ganhou ontem a segunda seguida fora de casa: 1 a 0 no Tolima. Lidera a chave com 7 pontos e ainda jogará duas vezes em casa. Tolima, Santa Fé e Cerro Porteño que se virem para brigar pela segunda vaga.

Paseo
Show do Real Madrid e de Cristiano Ronaldo no Camp Nou. A equipe da capital fez 3 a 1 no Barcelona com sobras, garantindo vaga na decisão da Copa do Rei, contra Atlético de Madrid ou Sevilla. O lance do segundo gol, em que Di María entorta Puyol, é um símbolo talvez de uma mudança de paradigma no futebol espanhol: será que a era de ouro do Barça chegou ao fim? Semana passada, a queda foi para o Milan. Ontem, para o maior rival. Vale a reflexão.

Comentários

Lourenço disse…
Que partida do Galo, o esquema ultraofensivo do Cuca até agora deu resultado em dois jogos teoricamente encardidos. É um time que tem bons jogadores em todas as posições, talvez falte um pouco de grupo, mas é um grande elenco.

E o Cristiano Ronaldo é firulento.
Vicente Fonseca disse…
Será que falta grupo? Alecsandro e Gilberto Silva, por exemplo, são reservas. Richarlyson, um jogador no mínimo bem razoável, também.

Acho que o Galo não tem tantas opções em termos de quantidade para a reserva quanto o Grêmio, por exemplo, mas isso passa muito também pelo esquema ultra-ofensivo que o Cuca coloca em campo. É muito atacante junto. Seriam necessários uns 6 ou 7 jogadores de alto nível na posição para a reposição ser qualificada.

Se bem que, na Libertadores, mas importante que ter bom grupo é ter bom time. E isso o Atlético tem de sobra.
Vicente Fonseca disse…
"MAIS importante"

Corrigindo.
Kleiton disse…
Me chamou atenção a velocidade que esse time do galo mostrou ontem. Recuperavam a bola na defesa e com 2, 3 passes, já estavam perto da área do Arsenal.

Mas a gente sabe, né... O Cuca é o Cuca.
Vicente Fonseca disse…
Sim, Kleiton, é impressionante a velocidade com que o Galo contra-ataca. Nenhum contragolpe no Brasil atualmente é tão mortal quanto este. É muito jogador rápido junto, e ainda com Ronaldinho lançando e iniciando as arrancadas. Se atirar para cima deles é um perigo.

Interessante é que este time não jogou no contra-ataque contra o São Paulo, em casa, na estreia. É um time que tem alternativas, sabe jogar como mandante, se impondo ao adversário, e como visitante, sempre pronto para dar o bote. Baita trabalho do Cuca. Osso duro de roer.