Cada um com os seus problemas



A partir da renúncia do Grêmio em tentar o título da Taça Piratini, o Gre-Nal servia de teste praticamente só para o Internacional. Mas cada um com os seus problemas: o Colorado nada tem a ver com a estratégia do rival em mandar um time enfraquecido para o clássico. Venceu, e venceu bem, com méritos, por um placar que, embora mínimo, não reflete sua superioridade em campo. O time segue em evolução.

O Tricolor, por sua vez, faz bem em manter o planejamento. A prioridade é a Libertadores, o time titular vinha acumulando jogos seguidos. Se o tri da América é o foco, não vale à pena arriscar nada em uma competição menor, que ainda por cima oferece uma segunda chance na Taça Farroupilha. Em 2009, ficar no meio do caminho nas escolhas custou o estadual e a Libertadores. A única coisa que o Grêmio tinha a perder colocando reservas era, além do turno, a vergonha de sofrer uma goleada - 2 a 1 é um placar razoável. Com titulares, poderia perder jogadores (Alex Telles fraturou o nariz), por lesão ou desgaste, além da confiança, em caso de derrota. Tudo por uma semifinal de turno?

Mesmo sendo dominado no clássico, foi o Grêmio e seus movimentos táticos que mudaram o curso do Gre-Nal ao longo dos 90 minutos - até porque o Inter (méritos de Dunga) tem um esquema tático consolidado e já bastante repetido. Vanderlei Luxemburgo montou um time para não ser goleado. Em campo, foi o esdrúxulo 3-5-2 do primeiro tempo (Grolli, com a insólita camisa 11, lembrava fisicamente - mas só fisicamente - o grande Stefan Effenberg) que melhor funcionou. Nos primeiros minutos, o Inter forçava a bola aérea, que só lhe renderia frutos mesmo no segundo tempo, com o gol de Rodrigo Moledo. O Grêmio marcou bem o rival e teve mais a bola no ataque do que se supunha. Ameaçava dominar o jogo quando houve a parada para reidratação. Estes três minutos para a água foram fatais: o time voltou desconcentrado, e a prova é que, pela primeira vez, Adriano deixou de acompanhar um movimento de D'Alessandro, que acabou resultando no pênalti sofrido e bem batido por Forlán.

O 3-5-2 foi uma solução, mas também era um problema: o Gre-Nal era equilibrado, mas só o Inter chutava a gol. Como apenas o fraco Marco Antônio era armador (os alas não cumpriram suas funções ofensivas), Welliton e Marcelo Moreno ficavam isolados. Luxa voltou do intervalo num 4-3-3, abrindo completamente o time. Aí foi um baile: o Inter massacrou nos primeiros minutos, sempre no seu estilo de toque de bola de paciência, mas envolvendo a defesa azul. Com Fred, D'Alessandro e Forlán esbanjando mobilidade e qualidade técnica, o time abriu 2 a 0 aos 12 minutos, já tardiamente, pois tivera várias chances antes. Se Leandro Damião não estivesse em sua pior fase desde que subiu ao profissional, o placar fatalmente teria sido mais elástico.

Aí veio o terceiro esquema gremista, o 4-4-2. Um pouco mais encorpado, o Grêmio voltou a tomar a iniciativa após descontar o placar, especialmente pela entrada do audacioso Guilherme Biteco, mas o Inter seguia bem melhor. Não mais se impunha, mas contragolpeava com extremo perigo - fruto do bom desempenho coletivo e técnico do trio citado no parágrafo anterior. Dunga mostrou que nestes dois meses já faz um ótimo trabalho: o Inter mostrou certa dificuldade contra um adversário fechado no primeiro tempo, mas tem alternativas para este tipo de rival (tocando exaustivamente a bola) e para outros que o ataquem, com contra-ataques rápidos. É muita evolução, especialmente comparando com as anêmicas atuações do Campeonato Brasileiro de 2012, que não apresentavam alternativas táticas a nada que viesse pela frente.

Além disso, o time de Dunga deu a sorte de não pegar o Lajeadense. Agora, o Colorado enfrenta o Esportivo com o favoritismo inequívoco - jogando em estádio com maioria de torcida. Mas o Campeonato Gaúcho em si é o que menos importa: o que realmente interessa é ver o Inter virando um time de futebol, ainda com certas fraquezas, mas já com suas qualidades coletivas acima de destaques individuais (não houve um craque ontem, mas um time que funcionou). O time aproveita bem o estadual para crescer, afinar seu estilo de jogo para as competições maiores.

O Grêmio, por sua vez, trata o Gauchão de modo igualmente correto. O excesso de jogos do estadual não permite ao clube disputá-lo a plenos pulmões. Neste Gre-Nal, a intenção tricolor ficou muito clara: o time é capaz de abdicar totalmente do Campeonato Gaúcho em nome da Libertadores. Se houver qualquer coisa que possa causar prejuízo técnico, haverá time reserva - não interessa se o adversário é o Inter, o Juventude, o Ta-Guá ou o Dínamo. Com calendários diferentes, Grêmio e Internacional utilizam o Gauchão de maneiras diferentes (o Inter para encopar seu time, o Grêmio para não minar o seu). E aí, os resultados dentro do estadual naturalmente também serão diferentes.

Liderança millonaria
Para quem voltou da segunda divisão há seis meses, o River Plate começou muito bem o Campeonato Argentino. A equipe fez 3 a 2 no Tigre e lidera o Torneo Final nestas três rodadas iniciais, com 9 pontos, ao lado do Lanús (que bateu o Vélez por 1 a 0).

Arapuca para os grandes
Os grandes paulistas seguem enfrentando dificuldades no estadual. Desta vez, a vítima foi o Corinthians, que empatou em 2 a 2 com o Bragantino no último minuto de jogo. O Santos fez magros 2 a 1 no XV de Piracicaba e o Palmeiras sofreu para ganhar por 1 a 0 da União Barbarense. Mas todos estariam entre os oito classificados. E o São Paulo, que fez 3 a 0 no Linense no sábado, tomou a liderança das mãos da Ponte Preta.

1 a 1 para a Juve
O clássico de Milão marcava o interessantíssimo reencontro de Balotelli com a torcida da Inter, só que agora como rival, mas ficou ofuscado por mais manifestações racistas, absurdas e imbecis contra o atacante. Em campo, o empate em 1 a 1 só foi bom para a Juventus, que goleou o Siena por 3 a 0 e hoje seca o Napoli, que visita a Udinese. A vantagem da Juve, caso o time do sul da Bota perca, subirá para 7 pontos, faltando 12 rodadas para o término do Campeonato Italiano.

Comentários

Anônimo disse…
Se era para usar o time reserva, que o Luxemburgo pelo menos escalasse um time um pouco mais entrosado. Bertoglio e Guilherme Biteco deviam ter começado entre os onze, p.ex. Fora isso, é bom ver que a direção não cedeu à pressão de pôr o time principal com uma Libertadores em paralelo, como foi em 2009 e 2011. Pode não dar certo, mas pelo menos existe um objetivo definido a se alcançar.

Em vez de reclamar do time reserva, devíamos é reclamar dessa fórmula ridícula. No entanto, a direção assina os regulamentos ano após ano, como se não soubesse dos problemas que fatalmente se repetem nas mesmas épocas de sempre. Aí fica difícil cobrar por mudanças.

Tiago
Sancho disse…
A semifinal é só no domingo. O jogo contra o Caracas é só no dia 5. O Grêmio pode ter feito um monte de jogos, mas os titulares jogaram 6 (Liga, Liga, São José, Huachipato, Veranópolis e Fluminense). Seria mais um belo teste para o time principal, independente do resultado.

Tivesse ganho, jogaria contra o Esportivo EM CASA. Poderia até colocar um time misto ou reserva. Teria uma semana para preparar e entrosar o time. Poderiam dizer, “ah, mas poderia ser em Lajeado”. Verdade. Essa uma hora e meia de ônibus seria LETAL! Por favor!!! E, de novo, poderiam escalar o time misto ou reserva. Se perdesse, perdeu, como perdido está agora. Mas, ao menos, teria eliminado o Inter.

Tivesse perdido, como perdeu, mesmo com os titulares, teria uma semana e meia para descansar e treinar, como agora tem. Mas o time principal teria jogado mais uma vez junto, teria mostrado as qualidades que tem e os problemas que também tem. Teria sido uma oportunidade de aprimorar a equipe.

Achara que o Grêmio errava ao entrar com os reservas, e sigo com a mesma postura. A hora de vencer era agora. Ganhasse esta primeira Taça, e o foco iria para a Libertadores do mesmo jeito. Entregamos o Gauchão, entregamos o Gre-Nal, entregamos tudo, por uma expectativa. Ou alguém acha que haverá algum esforço para conquistar o segundo torneio? Nenhum.

O Internacional colocará, provavelmente, mais uma taça no armário, mais um título nas estatísticas, e seus torcedores lotarão à Goethe, buzinarão noite a dentro, enquanto nos recolheremos em casa tentando dormir. Repetiremos uma, duas, mil vezes: “eu nem queria mesmo.” Até nos convencermos de que é, de fato, verdade. Não é, mas fazer o quê?

A verdade é que o Grêmio não queria mesmo. Eu, que sou gremista, mas não sou o clube, lamento. Afinal, quem somos para largar campeonatos de mão, qualquer um? O clube tem quatro títulos desde 2002. QUATRO! Três estaduais e um Brasileiro B. E abandonamos torneio, justo aquele que o rival tem mais chances de levar, como quem arrota caviar! Nessas alturas, qualquer taça é taça.

A única razão para colocar os reservas ontem foi COVARDIA. Não havia qualquer outro motivo. Os anos 2000 só não foram priores porque ganhamos o Gauchão em 2006, 2007 e 2010. E o Grêmio trata como se isso ou zerado fosse a mesma coisa. Tomar no…
Vicente Fonseca disse…
Pelo que disseram Fábio Koff e Rui Costa, o Grêmio deve usar mais os titulares no segundo turno. E aí vai um ponto pelo qual eu discordo da tua opinião, Sancho: não acho que este primeiro turno fosse o turno a ser ganho pelo Grêmio. A pré-Libertadores e aqueles jogos com a LDU em janeiro, um deles na altitude, apertaram demais o calendário e diminuíram o tempo de pré-temporada. Esta semana será exclusivamente de treinos físicos no Olímpico, visando a recuperar este tempo perdido.

Outra coisa: este ano o calendário mudou, e a participação dos times que jogam a Libertadores também na Copa do Brasil podem forçar a realização de quase 90 jogos para alguns clubes. Acho natural os estaduais perderem importância. Se nos últimos anos eles serviam como preparação para torneios maiores, agora viraram um estorvo que atrapalha e incha o número de partidas da temporada. Eu sou totalmente favorável a colocar titulares, desde que o estadual permita, como em Minas Gerais. O Gauchão, com 23 datas, não permite.
Marcelo disse…
Entendo o desprezo pelo gauchão, mas concordo acho que seria mais fácil ganhar o primeiro turno.
Mesmo com os reservas, o Grêmio poderia ter vencido o Inter, bastava o time ter sido melhor escalado e organizado. Mas o Luxemburgo é um baita pavão, sempre inventa algo para aparecer. Esse 3-5-2 foi isso. Se tivesse dado certo, tava lá o Luxa na beira do gramado para se vangloriar.