Tudo, menos 10

Carlos Eduardo chegou ao Flamengo vestindo a camisa 10. Sempre que alguém chega para vestir esta histórica camiseta rubro-negra, fala-se em Zico. Ontem, em sua apresentação oficial, falou-se demais em Ronaldinho. Um duplo erro.

Em primeiro lugar, Carlos Eduardo é um ótimo jogador, mas não é do nível de Ronaldinho, menos ainda do de Zico. Mas, certo, não sejamos ranzinzas: essas comparações, muitas vezes precipitadas, servem muito mais como estímulo para causar discussões e motivar torcedores, e já não pegam em jogadores mais experimentados, como Carlos Eduardo.

Mas o principal é a expectativa que se cria. E não falo de questões técnicas, mas de características. Já se criou a marca "CE10", mas Carlos Eduardo está longe de ser um 10 clássico. Não é um jogador cerebral, não é um organizador, não centraliza as ações criativas. É, sim, um ótimo jogador de lado de campo. Pode ser um meia agudo ou um atacante que recompõe o meio, fazendo uma ponte entre os articuladores de fato e os definidores. Se os flamenguistas ou até jornalistas menos avisados acham que verão um camisa 10, é bom que saibam: estão diante de um ótimo 11.

Mas apesar disso e do histórico recente de lesões, Carlos Eduardo pode dar muito certo na Gávea. O motivo é quem o contratou: Paulo Pelaipe, diretor que o viu surgir no Grêmio, há seis anos. Pelaipe sabe de tudo isso que falei nos parágrafos anteriores, e muito melhor do que eu: ele acaba de contratar um meia-atacante de velocidade, habilidoso e bom definidor, e não um 10. Contratou uma peça interessantíssima para remontar um time que tem poucos nomes de real valor e acaba de perder um atacante rápido, embora bem mais de área, como Vagner Love. Fora que seu estilo casa bem com o de Ibson, outro que também precisa provar em 2013.

Carlos Eduardo é a primeira grande contratação do Flamengo para a temporada. O rubro-negro sempre foi o clube que mais demonstrou interesse na sua contratação, e certamente por causa de Pelaipe. O Inter demorou a entrar no parada, e por isso levou a pior. Estranho, mesmo com o histórico de lesões (Fábio Aurélio, neste caso, não seria contratado), é o Grêmio não se pronunciar. Carlos Eduardo é bem diferente de Elano e Zé Roberto, mas basta um deles deixar o time que o nível da armação gremista cai. Como um bom reserva, Carlos Eduardo mudaria as características, mas não diminuiria a qualidade do time.

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