Para entrar no clima



A desvantagem de pegar a LDU de cara na pré-Libertadores era óbvia: ser eliminado antes mesmo de a fase de grupos começar, arruinando os planos mais nobres para a temporada ainda em janeiro. Mas existe também uma vantagem muito clara, ainda que pouco comentada: eliminando um rival deste porte, o Grêmio já entra na fase de grupos sentindo o clima da Libertadores como nenhum outro dos seus 31 adversários na disputa pelo título continental. E foi exatamente o que aconteceu.

A LDU também recém voltou de pré-temporada, é verdade. Veio com um time modificado em relação ao dos últimos anos, como precisava. Mas nada disso diminuiu a importância que esta classificação tem para o Grêmio, um time cheio de desfalques defensivos, ainda sem o ritmo ideal e pressionadíssimo para inaugurar seu novo estádio com uma classificação diante de um rival copeiro, conhecedor da Libertadores, que não perdia um mata-mata para brasileiros há nada menos que sete anos.

O Grêmio não jogou bem. A atuação foi inferior à de Quito, quando o time criou bem mais chances de gol que na Arena. Mas as circunstâncias eram muito diferentes. A LDU veio a Porto Alegre num 5-3-2: três zagueiros anulavam Marcelo Moreno, os dois alas eram na verdade laterais que auxiliavam o trio defensivo e os dois volantes. Como Feraud colaborava muito com a marcação, eram no mínimo oito jogadores defensivos. Saritama, longe do gol, pouco jogou. O desafogo era Madrid, ala forte e habilidoso, mas que subia pouco e raramente tinha companhia dos colegas, mais preocupados em segurar os gaúchos que tentar atacá-los. Isso dificulta muito a criação, e o Grêmio ainda não está em um nível físico capaz de amassar o adversário e furar retrancas na base da imposição, como fazia em 2007, por exemplo. Conseguiu isso nos primeiros 11 minutos, ajudado pela incrível acústica da Arena, ao criar quatro chances. Depois, diminuiu naturalmente o ritmo, o que equilibrou o jogo.

Aos 24, Vargas arriscou de longe e quase fez. Era a dica para o segundo tempo: se era difícil ingressar na área, os arremates de fora dela se tornam valiosos. O time não se deu conta disso na etapa inicial. A tentativa de Luxemburgo no intervalo foi válida: colocar dois centroavantes para acabar com a facilidade do trabalho dos zagueiros da LDU. O problema é que Vargas, isolado na ponta direita, perdeu função. Faltava Elano e Zé Roberto entrarem de fato no jogo. Quando Elano entrou, arriscando de longe, como muito sabe e pouco executava, a fortaleza equatoriana ruiu. Um chute espetacular, de rara felicidade.

O desabamento da estrutura que sustenta a Geral, para o time em campo, foi péssimo. Quebrou o ritmo do jogo no melhor momento gremista na partida. Antes mesmo do gol, o Grêmio havia chegado duas vezes com muito perigo (primeiro em falta de Elano, depois com Bressan), pressionava a LDU. Quase não houve jogo após o gol. Insistindo na bola aérea, para aproveitar os dois novos centroavantes, o Grêmio pouco pôs a redonda no chão. O destino só poderia ser os pênaltis.

Até mesmo a disputa na marca da cal foi dramática. O Grêmio chegou a estar perdendo, com um erro de Saimon, uma injustiça à sua ótima atuação nos 90 minutos. Mas Reasco errou, os demais gremistas converteram, e Marcelo Grohe, tal qual Galatto, tirou com as pernas a fraca cobrança de Morante, classificando o Grêmio - o time que, no final dos 180 minutos, foi mesmo superior. Luxemburgo tem razão: a classificação começou a ser ganha quando o time ficou 10 dias treinando em Quito, se preparando para jogar na altitude. E tem mais razão ainda quando lembra que classificações em Libertadores costumam ser assim mesmo: dramáticas, nem sempre com bom futebol. A LDU é, sim, parâmetro.

É claro que o Grêmio ainda precisa de ajustes. Bressan foi bem, mas faltam zagueiros no elenco. Alex Telles não comprometeu, mas o time precisa de um titular na lateral esquerda. Elano e Zé Roberto são grandes jogadores, mas não têm um reserva à altura. Mas há agora, mais tranquilidade (o grupo não é dos mais complicados) e mais tempo. O mais difícil para estes primeiros meses, que era eliminar um time grande como a LDU, o Grêmio conseguiu. Mesmo precisando de reforços e jogando em janeiro, na temível altitude de Quito.

Centro do ataque
Assim como em 1995, o centroavante titular gremista na Libertadores pode ser o camisa 16. Como desde o fim de 2012, André Lima parece viver melhor momento que Marcelo Moreno. Ontem, entrou bem de novo, enquanto o boliviano foi novamente apático. É no mínimo discutível de quem é esta titularidade.

Avalanche
Preocupante e inaceitável o desabamento da estrutura atrás da goleira durante a avalanche. O episódio precisa ser tratado com a maior responsabilidade, pois o acidente poderia ter tido consequências bem mais graves do que (felizmente) teve. No fim das contas, a Brigada Militar tinha razão: a estrutura da Arena não suporta a avalanche. No Olímpico, nunca houve qualquer sinal de que poderia haver algo parecido com o de ontem. A avalanche e o setor sem cadeiras da Arena parecem estar com os dias contados.

Uma boa estreia
Foi bem o Inter na estreia de Dunga, apesar do 0 a 0 com o Novo Hamburgo. Liderado por D'Alessandro, encurralou o adversário quase que o tempo todo, criou muitas chances de gol. Faltou, mesmo, a bola entrar. Leandro Damião se movimentou bem, mas a pontaria ainda está compreensivelmente descalibrada. Fred, mais recuado, teve boa atuação - embora o Novo Hamburgo não constitua parâmetro para saber se a equipe poderá utilizar esta formação mais ofensiva. Gabriel foi muito bem, bastante participativo. Willians deu conta do recado com sobras na marcação, embora tenha errado passes em demasia (sempre foi um defeito seu). Dátolo fez um bom primeiro tempo, caiu demais no segundo. Forlán decepcionou.

Mesmo assim, foi um bom começo. Dunga, como era de se supor, valorizou muito a concentração do time durante os 90 minutos. Foi uma marca da seleção quando era comandada por ele, e certamente será o tom do Inter em 2013. O desempenho foi animador. Afinal, é começo de ano, e a tendência, com o passar do tempo, é só melhorar.

Comentários

Lique disse…
pra mim, o andré lima ganhou a titularidade ontem. entra com garra, vontade de mostrar trabalho, sobe para disputar qualquer balão que mandem pra perto da grande área. uma casquinha dele que caia no pé do vargas é perigo.
Vicente Fonseca disse…
Eu também acho. Até porque um possível ataque com Vargas e Kleber, sem centroavantes, limitaria as opções de mudança e deixaria o time muito baixo. André Lima é o atacante que vive melhor momento no elenco do Grêmio há algum tempo. Por isso, merece a titularidade.
Lique disse…
só resta saber se, como titular, ele seguirá com essa fome de bola. eu até acredito que sim.
Vicente Fonseca disse…
Pois é. Essa fama de jogador de segundo tempo tá pegando nele há algum tempo, e com certa razão. Mas lembro que em 2010, com Jonas, ele fez um ótimo Brasileiro como titular. Vargas tem características parecidas com a de Jonas. Pode dar certo.

No fim das contas, acho o Marcelo Moreno mais jogador que o André Lima. Mas futebol é momento, como diz o ditado.
Chico disse…
E ontem ocorreu a abertura oficial De La Copa.

A Arena pulsou e o Tricolor obteve uma classificação dramática.

Marcelo Grohe!!!
Chico disse…
Os cúlorados podem ficar tranqüilos, pois há um gaúcho na Copa.

Concordo, Vicente. Muito boa a estreia do supertime do anão que conseguiu segurar os Galáticos do Vale.
Sancho disse…
Não entendo essa obsessão pelas cadeiras. Só se for para serem quebradas. As pára-avalanches funcionam tão bem, que a avalanche só aconteceu da metade para baixo!
Vicente Fonseca disse…
Não sei se colocar cadeiras, simplesmente, é o melhor. A avalanche é uma manifestação interessante, é meio cruel acabar com ela assim, do nada. Mas o certo é que, do jeito que está, não dá para ficar. Correr risco de um novo acidente é um absurdo. Quando digo que colocar cadeiras ali é questão de tempo, não estou defendendo essa ideia (não tenho posição definitiva sobre isso, até por desconhecimento técnico), mas apenas prevendo: acho que é o que vai acontecer. E, se for mesmo o jeito de evitar uma tragédia, tem que acontecer.