O Gre-Nal do medo
Foi um domingo espetacular: céu azul, sol quente sem ser escaldante, Estádio Olímpico lotado para a despedida. Ídolos da história do Grêmio, de diferentes gerações, homenageados antes de a bola rolar. Danrlei, que chegou atrasado, foi obviamente identificado e recebeu um carinho poucas vezes visto de torcedores para um jogador no pátio do Olímpico. Não houve gols, mas houve festa gremista e avalanche de despedida. E festa colorada.
O pior da tarde foi, sem dúvida, o jogo em si. Mas isso se analisássemos a partida friamente, como se fosse mais um duelo entre dois times que disputam o Campeonato Brasileiro. Não era. Estávamos, simplesmente, diante do Gre-Nal do medo. Ninguém queria perder o último clássico da história do Olímpico, o estádio que mais recebeu Gre-Nais até hoje. Luxemburgo, com um time nitidamente superior, 19 pontos à frente do rival na tabela, escalou o Grêmio num travado 4-5-1, com três volantes. Osmar Loss fez o mesmo, ainda que a estratégia fosse um pouco mais justificável. Ambos podiam, e deviam, ter ousado mais se quisessem vencer o clássico. Mas ninguém teve coragem.
O primeiro tempo foi absolutamente sofrível. A tensão atrapalhou a fluidez do Gre-Nal, mas também por isso o deixou muito interessante. Se este último jogo do Olímpico fosse um Grêmio x Ponte Preta e tivéssemos visto o que vimos dentro de campo ontem à tarde, teria sido horroroso. Mas era um Grêmio x Internacional, e clássicos possuem este componente emocional extra. As expulsões e confusões só não foram deprimentes por isso: como era Gre-Nal, elas deram tempero a este componente emocional. E o Gre-Nal normalmente é assim, e um clássico sabidamente histórico, antes mesmo de a bola rolar, tinha tudo para ser, basicamente, apenas tenso. Há tempos, aliás, não tínhamos tantas confusões em um clássico entre os dois gigantes do futebol gaúcho. Não é de se surpreender.
Deixando um pouco de lado estes ingredientes todos, vamos à análise do que foi o jogo em si. O primeiro tempo, no 11 contra 11, foi extremamente parelho. A ideia de que o Grêmio golearia só poderia partir de torcedores colorados que queriam se vacinar para uma derrota ou de torcedores que, simplesmente, nunca viram um Gre-Nal na vida. Com seis volantes e apenas dois atacantes em campo, ninguém arriscou muito. Foram basicamente duas chegadas de cada lado. As defesas levavam vantagem sobre os ataques. E faltou articulação: Elano e Fred foram apagados. Zé Roberto foi bem, mas era obrigado a recuar demais para pegar a bola, já que os volantes e laterais gremistas subiam pouco, ficando longe da área e de André Lima. O mesmo vale para D'Alessandro, ainda que Leandro Damião tenha feito uma primeira etapa boa, levando vantagem algumas poucas vezes sobre a zaga. Anderson Pico, pelo lado gremista, era também uma das boas atuações do clássico.
O segundo tempo começou totalmente positivo para o Grêmio: a notícia da virada do Cruzeiro em Minas chegava ao mesmo tempo da expulsão de Muriel, que só conseguiu evitar o golaço de Elano metendo a mão na bola. Com superioridade numérica, o Tricolor veio para cima. A seguir, Damião teve a estúpida ideia de agredir Saimon e, ao contrário de Muriel, prejudicar o Inter. Com dois a menos, restava ao Colorado tentar suportar a pressão com um retrancão por 34 minutos. Luxemburgo desfez o esquema defensivo, mas sem descuidar da defesa: manteve dois volantes e dois zagueiros em campo. Tirou Pico, um dos melhores do time, por medo (sempre o medo!) de que ele fosse expulso. Invadiu o campo para retirá-lo da confusão, e acabou sendo, ele próprio, expulso.
O Grêmio criou várias chances, mas faltou finalização. Marcelo Moreno, autor do último gol da história do Olímpico, fez falta. Com ele e André Lima juntos, possivelmente a pressão teria surtido mais efeito. Renan acabou salvando algumas vezes, inclusive impediu um gol contra de Índio. Nada mais irônico se o último gol do Olímpico tivesse sido marcado por Índio, só que contra. O Inter suportou a pressão, contou com uma atuação pouco inspirada do Grêmio, que sofreu com os desfalques e não conseguiu sair do 0 a 0, frustrando quem queria uma vitória no clássico e perdendo a vice-liderança e a vaga direta na fase de grupos da Libertadores, esta sim a única consequência relativamente grave do empate no Gre-Nal.
Não concordo com a ideia de que o Inter estragou a festa, e menos ainda com a ideia de que tentou apatifar o clássico. Em nenhum momento do jogo vi o time colorado abusar da violência. Foi uma atuação extremamente digna do Internacional. Rodrigo Moledo foi firme, mas como deve ser um zagueiro de Gre-Nal. Postura perfeita. Leandro Damião perdeu a cabeça e foi corretamente expulso. Osmar Loss sim, catimbou no final. Agrediu Saimon e sofreu o revide, o único momento realmente varzeano da partida, e que acabou dando certo, pois forçou o fim prematuro do embate. Pegará um gancho pesado, por certo. Heber Roberto Lopes certamente terminou o clássico antes da hora porque temia que os quatro minutos que faltavam terminassem em pancadaria. Caso realmente tenha pensado assim, teve atuação perfeita no clássico.
As duas torcidas comemoram com razões justificadas. A do Inter por ter visto seu time suportar o Grêmio com dois homens a menos e não ter perdido o último jogo da história do Olímpico. A do Grêmio, por se despedir de seu estádio com uma belíssima campanha no Brasileiro. Ainda que 2012 não tenha sido um ano de títulos, há exatamente uma década a gangorra não terminava tão azul. Mas faltou a vitória, e um detalhe precisa ser corrigido para 2013: ganhar em casa de times retrancados. Na Libertadores, 99% das equipes costumavam atuar assim no Olímpico. Na Arena, não será diferente.
Em tempo:
- Luxemburgo espetacular na coletiva, muito melhor que na beira do campo. Conseguiu desviar o foco totalmente, deixando de falar sobre o fato de o Grêmio não ter vencido um clássico onde teve superioridade numérica para se tornar o injustiçado por ter sido expulso após invadir o campo. Dá rasteira em cobra.
- Forlán só entrou aos 43, como segunda opção na reserva para o ataque, para matar tempo. Que fim de ano do uruguaio.
Campeonato Brasileiro 2012 - 38ª rodada
2/dezembro/2012
GRÊMIO 0 x INTERNACIONAL 0
Local: Olímpico Monumental, Porto Alegre (RS)
Árbitro: Heber Roberto Lopes (PR)
Público: 46.209
Renda: R$ 1.549.230,00
Renda: R$ 1.549.230,00
Cartão amarelo: André Lima, Renan e Fred
Expulsão: Muriel 2, Leandro Damião 12 e Saimon 47 do 2º
GRÊMIO: Marcelo Grohe (5,5), Pará (5), Werley (5,5) (Saimon, 29 do 1º - 5), Naldo (6) e Anderson Pico (6) (Leandro, 18 do 2º - 5); Fernando (6) (Marquinhos, 23 do 2º - 5,5), Souza (5,5), Léo Gago (5,5), Elano (5) e Zé Roberto (6,5); André Lima (5). Técnico: Vanderlei Luxemburgo (4,5)
INTERNACIONAL: Muriel (5), Edson Ratinho (4,5) (Renan, 7 do 2º - 7), Rodrigo Moledo (7), Índio (6) e Fabrício (5,5); Ygor (6), Guiñazu (6), Josimar (5), Fred (4,5) (Cassiano, 18 do 2º - 5,5) (Forlán, 43 do 2º - sem nota) e D'Alessandro (6,5); Leandro Damião (3). Técnico: Osmar Loss (5,5)
Comentários
Ele foi CAGÃO ontem. E inventou, assim como em todas decisões que teve esse ano. E se deu mal, como em todas decisões que teve esse ano.
Mas tudo bem, ganhará R$24 milhões em dois anos e o Grêmio continuará morrendo na praia