O futuro é agora



Sou acostumado a comentar jogos por aqui, e não festas. Mas hoje me obrigo a este exercício. Afinal, o que se viu ontem na Arena foi basicamente uma grande festa. A partida em si era um acessório, um dos momentos mais importantes da noite, mas não o único. Quem vaiou passe errado do Léo Gago ou se irritou com os impedimentos seguidos do Leandro não entendeu o propósito da noite.

Minha estreia na Arena será dia 19, no Jogo contra a Pobreza. A partir desta ocasião, poderei trazer impressões melhores a respeito do estádio. Mas não precisei ter comparecido para já ter certeza de que se trata de algo absolutamente impressionante. Desde a altura, passando pelo conforto, a proximidade com o gramado, tudo. A festa foi espetacular. O discurso emocionado de Eduardo Antonini, que é o pai deste projeto, foi sem dúvida o momento mais marcante de todos. O de Paulo Odone também - e ele merece todos os elogios por ter bancado a ideia e a abraçado. A Arena foi a marca de sua gestão (tornou-se até um assunto chato em seus discursos), e era justo que ele a quisesse inaugurar, mesmo que ela não esteja ainda em pleno funcionamento.

Não vejo problemas em inaugurar um estádio que está 97 ou 98% pronto. Faltam acabamentos ainda, como alguns elevadores, bares, pintura em algumas paredes. Não há problema em realizar jogos festivos com estes detalhes em haver. Mas seria um absurdo realizar uma final de Copa Sul-Americana na Arena, caso o Grêmio tivesse se classificado. Além de todos estes pequenos poréns, mas que influenciam na qualidade do evento, o gramado visivelmente não está apto ainda à realização de uma partida de futebol. A grama ainda não está bem constituída, está frágil, desgruda com facilidade. Os imensos buracos ao final do jogo, especialmente nas laterais, deixam isso muito claro. A dificuldade dos atletas em dominar a bola era evidente. Mas tudo isso são detalhes, que não deveriam impedir a inauguração. É incoerência atribuir a isso uma importância maior do que o momento em si, que foi histórico.

Em campo, viu-se um Grêmio cansado pelo longo ano, desmobilizado depois das árduas batalhas no Brasileiro e na Sul-Americana, contra um Hamburgo desgastado pela longa viagem, mas que atuou com um interesse ótimo para quem acompanhou a partida. O Tricolor pressionou no começo e fez o primeiro gol da história da Arena cedo. Bonito que tenha sido feito por André Lima, um jogador identificado com o clube, ainda que sua comemoração imitando Kidiaba tenha sido pequena e mesquinha. Se Renan foi absolutamente ridículo no domingo passado, porque responder a ele justo no momento de comemorar um gol histórico? É descer demais o nível. Tudo o que se viveu ontem é muito maior do que uma respostinha infantil.

O ritmo caiu, o Grêmio perdeu qualidade do primeiro para o segundo tempo, e o Hamburgo cresceu no jogo até empatar. Aí o Grêmio voltou a ter interesse na partida e marcou o segundo no finzinho, com Marcelo Moreno em grande arrancada de Saimon e belo passe de Marquinhos, repetindo o placar de 1983. Nada mais simbólico. Triste apenas o fato de termos novas brigas no setor da Geral. O Grêmio brigou com a Brigada Militar para ter este espaço sem cadeiras e uma meia dúzia de infelizes estragam a festa brigando. Não merecem o clube e o estádio que têm.

Mas tudo isso importou pouco diante do fato de que a Arena está inaugurada. O Grêmio entra em uma nova era, e com ele o futebol gaúcho e o brasileiro. O futuro é agora.

Amistoso
8/dezembro/2012
GRÊMIO 2 x HAMBURGO 1
Local: Arena do Grêmio, Porto Alegre (RS)
Árbitro: Carlos Amarilla (PAR)
Público e renda: não divulgados
Gols: André Lima 9 do 1º; Westermann 25 e Marcelo Moreno 42 do 2º
Cartão amarelo: Saimon, Leandro, Tesche e Ilicevic
GRÊMIO: Marcelo Grohe, Pará, Naldo, Werley e Anderson Pico (Tony); Fernando (Léo Gago), Souza, Elano (Marquinhos) e Zé Roberto (Marco Antônio); Leandro (Rondinelly) e André Lima (Marcelo Moreno). Técnico: Vanderlei Luxemburgo
HAMBURGO: Drobny, Bruma, Scharner, Rajkovic (Arslan) e Aogo (Westermann); Sala, Rincón, Tesche (Diekmeier) e Ilicevic (Skeljbred); Berg e Rudnevs (Son). Técnico: Thorsten Fink

Comentários

Sancho disse…
Assinado, na carona: Paulo Sanchotene
Marcelo disse…
Perfeito Vicente.

Só discordo da parte "mesmo que ela não esteja ainda em pleno funcionamento".

A Arena ontem já era o estádio no Brasil com melhores condições de jogo. O que não estava pronto, ainda sim estava melhor que no Olímpico ou qualquer outro estádio.

O gramado realmente estava problemático, mas já vi coisa pior, tanto em estádio da primeira divisão, quanto em jogo da seleção.
Vicente Fonseca disse…
Marcelo, mesmo que não esteja em pleno funcionamento, é o melhor estádio do Brasil disparado. Imagina quando estiver?
Zezinho disse…
Grande Professor!

Quem criticou a Arena por ser inaugurada sem pleno funcionamento nunca viu a inauguração de uma casa, um shopping, uma escola ou andou de avião.

Eu serei - porque sou chato - sempre contra os preços absurdos que excluem a maioria dos que gostam de futebol. No entanto será engraçado você pagar 80 reais para ir à Arena - não sei se esse é o preço, estou chutando - e pagar 95 para ir ao Couto Pereira e pegar chuva. Fora lanchonetes, banheiros, telões e afins.

Também é engraçado ver que o Grêmio inaugurou sua Arena em menos tempo que o Atlético Paranaense, que a teve incompleta por um tempo e agora a reforma toda para a Copa - tudo isso num espaço de 13 anos. Sem transparência e com dinheiro público injetado.

Quanto aos times, achei interessante como os times são parelhos. Isso é bom. Não houve aquele sentimento de complexo de inferioridade
Vicente Fonseca disse…
Concordo, Zezinho. Na verdade, acho um erro colocar na questão das arenas o preço mais alto dos ingressos. Isso é um processo que vem ocorrendo nos últimos anos, muito antes da inauguração do estádio novo do Grêmio. O próprio Couto Pereira, como tu bem colocou, cobra um valor absurdo. A Arena não será mais cara do que os outros estádios brasileiros. Pro sócio sim, ficou mais salgado - e mesmo assim dá pra avisar quando não vai a um jogo e o valor do ingresso é abatido da mensalidade.

Não houve complexo de inferioridade nenhum mesmo, nem deveria haver. O Hamburgo não é um time fraco, mas visivelmente os jogadores do Grêmio tinham mais qualidade técnica. Mas acho que num Brasileirão o Hamburgo não faria fiasco, não.
Paul disse…
Só eu tive a impressão que o gol dos alemães foi uma jogada ensaiada?
Se foi, respeitei. Tem que ter muita categoria prá meter aquela bola de prima.
Vicente Fonseca disse…
Sm, claramente foi jogada ensaiada. E o cara que fez o gol, o Westermann, é da seleção alemã. Um dos poucos que pode pegar de primeira assim.
Chico disse…
O Maior Estádio da América Latina. Chora o chororado.