E o técnico, quando vem?

Faz dois dias que o Campeonato Brasileiro acabou, mas já não é cedo para o Internacional definir qual será seu técnico em 2013. Afinal, além de faltar só 29 dias para a pré-temporada, o clube demitiu Fernandão há 14 dias. Perdeu duas das seis semanas que tinha até iniciar 2013, um terço do tempo.

O não-acerto com Dunga e o constante vaivém da negociação desgasta a todos. Existem duas versões sobre a divergência: uma delas deve estar correta, talvez as duas estejam. A primeira é a questão financeira. Dunga teria pedido muito mais do que o clube lhe oferece, e Giovanni Luigi veio a público dizer que não pode prejudicar as finanças do clube na hora de contratar treinador. Teoricamente, o presidente colorado tem razão, não fossem alguns adendos importantes.

O primeiro deles diz respeito ao mercado, que está completamente inflacionado. Pagar algo próximo ou até acima de meio milhão de reais por um técnico é um absurdo, mas se o Inter não pagar haverá quem pague. E terá que buscar alguém mais barato, que normalmente não possui a mesma competência do técnico caro. Em um grupo de cheio de medalhões (no melhor e no pior sentido da palavra) como este do Internacional, técnico "barato" é rapidamente fritado. Mesmo Dorival Júnior, que é caro, não conseguiu resistir, muito por causa do seu perfil. Fernandão ainda menos.

Dunga tem pulso firme, comandou a seleção brasileira. Se tiver Taffarel a seu lado (ou até Paulo Paixão), ganharia a queda de braço de quem fizer corpo mole. Se o Inter tem convicção em trazer alguém com este perfil disciplinador (o que eu não tenho certeza), deve fazer um esforço e contratá-lo. Não é tão difícil. Juan e Bolatti, somados, devem ganhar mais do que pede Dunga. Colocando Kleber, Bolívar, Nei e alguns outros nesta lista, a conta fica com saldo ainda mais positivo. O Internacional renovaria seu elenco tirando jogadores desmotivados, que encerraram seu ciclo ou teriam pouca chance de atuar (como Dátolo) e traria um técnico disciplinador, bom formador de times e com inegável empatia com a torcida.

Mas aí entra o segundo motivo que se comenta: o de que Dunga quer realizar esta limpa no vestiário, a qual eu sugeri no parágrafo anterior, metade da torcida colorada deseja, mas Luigi e seus colegas de direção não concordam. Aí realmente fica difícil: manter jogadores caros e ainda trazer um técnico que pede uma fortuna para assinar deixaria os cofres vermelhos, de fato, no vermelho. É preciso abrir mão de alguma coisa. Defendo há quase dois anos que quem deve sair são os medalhões, mas a direção colorada parece ter uma dificuldade quase patológica para se desfazer deles. É um erro duplo, que compromete as finanças do clube e não traz resultados dentro de campo, além de dificultar o trabalho do técnico.

Meu palpite, puro chute, é que Dunga não será o técnico do Inter em 2013. Os desgastes começaram já na demora do clube em fazer o contato, já que a prioridade era tentar Mano Menezes, que recusou. Dunga pede muito também porque tem proposta chinesa, que certamente cobre a colorada em muito. Sendo assim, quem o Inter deveria buscar? Comenta-se, como sempre, Geninho - nunca vem, e não sei de onde sempre surge esta cogitação. Oswaldo de Oliveira, que deve sair do Botafogo, é o perfil exatamente oposto ao de Dunga. Denotaria falta de convicção das piores de Luigi e Davi - o que não seria lá uma grande surpresa. Jorginho? Cristóvão? Carpegiani? Não creio.

Pois digo que não ficarei surpreso se Celso Roth for o anunciado. Está deixando o Cruzeiro e tem perfil semelhante ao de Dunga no trato com os jogadores, além de conhecer o Beira-Rio como poucos. É uma opção que denotaria uma falta de imaginação tremenda, seria extremamente antipática com a torcida, mas lhes digo que não é a pior que existe, longe disso: foi justamente com ele no comando que D'Alessandro, Kleber e Bolívar, três dos jogadores mais contestados em 2012 pela postura em campo, viveram seus melhores momentos no Inter de 2010 para cá. Ele é um formador de equipes, montaria um Inter racional em 2013, um ano que começa sob forte turbulência. Não digo que é a melhor opção que existe - para mim é Dunga - mas não é uma opção desprezível. E é a mais natural e óbvia que a direção colorada deve tomar em caso de não acertar com o capitão do Tetra.

Quem duvida?

Comentários

Samir disse…
Cara, acho que o que escreves é completamente viável e, mesmo se tratando de assunto colorado, me irrita profundamente. Não é possível que tenhamos de conviver com Roth novamente por essas bandas... sério, entreguem logo as chaves da cidade, deem o posto de presidente da província a esse homem!

Luigi tem que ser mto macho e, acima de tudo, mto burro para trazer Roth. Mas como disse no início, acho sim viável, concordo com a tua lógica.
Vicente Fonseca disse…
Também acho, Samir. Só uma coisa: acho Roth melhor que Oswaldo de Oliveira ou Geninho. E, no contexto atual do vestiário do Inter, melhor que qualquer aposta. Mas há alternativas mais interessantes. Carpegiani, por exemplo, me agrada. Identificado com o clube, bom técnico, e nunca teve chance no Inter. Por que Roth na frente dele na fila?
rodrigoluiz disse…
professor, acho que a "limpa" que o luigi mais teme no vestiário é a dos aspones.
afinal, são esses os 166 que o elegeram.
Vicente Fonseca disse…
Com certeza, Rodrigo. E acho que uma coisa puxa a outra. Os aspones sopram no ouvido dele quem deve ficar, quem deve sair, e ele atende, talvez por insegurança.
Igor Natusch disse…
Dunga quer controle total do vestiário e autonomia total para escalar o time. O corpo diretivo colorado (do qual Luigi, cada vez mais me parece, pouco mais é do que um testa-de-ferro) jamais concordará com isso. Logo, Dunga não vem - e é preciso fritá-lo para tentar criar a impressão de que não vem por outros motivos que não esse, inventando pedidas salariais absurdas e coisas do tipo.

Geninho é o eterno bode na sala. Virá Roth, Oswaldo de Oliveira ou mesmo Paulo Autuori. Caras que não têm muito problema em "dialogar" com dirigentes sobre a escalação e coisas do tipo.

É o relatório.